Medo impede regresso de refugiados após fim da fome em África
16 de fevereiro de 2012
"A situação na Somália é terrível. Morrem as pessoas e morrem os animais" diz Abdullahi Hassan à DW, no campo de refugiados de Dadaab, no Quénia. "Não há medicamentos, ninguém nos ajuda. Por isso viemos para aqui", acrescenta, contando ainda que a maioria veio a pé, levando consigo apenas o que conseguiu carregar.
Abdullahi Hassan chegou a Dadaab há cerca de cinco meses, no auge da crise de fome na Somália, quando o campo estava superlotado. "Tenho nove filhos" diz este refugiado. E não esconde o seu orgulho por todos, incluindo pai e mãe, terem sobrevivido.
A família teve muita sorte, outras houveram que não resistiram. Entretanto, os onze instalaram-se numa tenda nova. Os abrigos improvisados com paus e plásticos pelos próprios refugiados desapareceram quase todos.
Mas nem sempre foi assim. Jele Nunow conta que, quando chegou a Dadaab, não havia tendas em número suficiente. "Mas isso mudou", afirma, e diz que "agora temos alimentação suficiente".
O alívio de Jele Nunow é palpável. As chuvas torrenciais nesta estação – inicialmente mais uma catástrofe para os refugiados – acabou por providenciar excelentes colheitas.
Fim da fome?
A crise da fome acabou: esta boa notícia foi oficializada há duas semanas pelo director da Organização das Nações Unidas para e Agricultura e Alimentação (FAO), José Graziano da Silva. Mas Marc Bowden, coordenador da assistência de emergência da ONU, avisa que a situação pode voltar a mudar rapidamente.
"A colheita recente cobre cerca de dez a 20 do volume necessário para o ano todo", diz Bowden, que conta com uma deterioração já em maio próximo. "As reservas vão esgotar-se antes da próxima colheita", alerta.
A ONU calcula que mais de dois milhões de somalis continuam dependentes de ajuda alimentar. O número de refugiados recuou, mas diariamente chegam a Dadaab novos refugiados. Não fogem apenas à fome, mas também à guerra civil e ao terror da milícia radical islâmica al-Shabaab, que ameaça igualmente o campo. Os cooperantes internacionais fazem-se acompanhar por patrulhas armadas até aos dentes. Em dezembro passado, foram abatidas a tiro duas pessoas, último incidente do género. Desde então reina a calma.
"Antes da seca e dos combates tínhamos um vida boa na Somália", lembra-se o jovem Abdi Kule Zusuf. Mas, depois, a situação tornou-se tão grave que obrigou as pessoas a fugir", relata. Segundo Abdi, a paz reina no local, embora os refugiados "possuam apenas o que lhes deram as organizações de assistência", diz com tristeza.
Abdi Yusuf fugiu para Dadaab com a mãe e três irmãos. O pai do jovem de 15 anos ficou na Somália, para não abandonar as terras cultivadas. A ONU espera que as famílias regressem a casa, agora que a seca chegou ao fim. Algumas preparam-se para o fazer. Mas a maioria tem demasiado medo."Enquanto houver guerra não regressamos", diz o jovem Abdi. Só quando houver paz e pudermos voltar à nossa vida de sempre", planeia.
Autoras: Linda Staude (Nairobi) / Cristina Krippahl
Edição: Renate Krieger / Helena Ferro de Gouveia