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Medo impede regresso de refugiados após fim da fome em África

16 de fevereiro de 2012

No início de fevereiro, as Nações Unidas oficializaram o fim da crise de fome no Corno de África. Mas milhares de refugiados somalis permanecem no Quénia, por medo da fome, da guerra civil e de milícia islâmica.

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Refugiados na Eritreia recebem cobertores numa escola a 35 km de Asmara, em 2000; seca que assolou região em 2011 foi a pior em décadas
Refugiados na Eritreia recebem cobertores numa escola a 35 km de Asmara, em 2000; seca que assolou região em 2011 foi a pior em décadasFoto: AP

"A situação na Somália é terrível. Morrem as pessoas e morrem os animais" diz Abdullahi Hassan à DW, no campo de refugiados de Dadaab, no Quénia. "Não há medicamentos, ninguém nos ajuda. Por isso viemos para aqui", acrescenta, contando ainda que a maioria veio a pé, levando consigo apenas o que conseguiu carregar.

Abdullahi Hassan chegou a Dadaab há cerca de cinco meses, no auge da crise de fome na Somália, quando o campo estava superlotado. "Tenho nove filhos" diz este refugiado. E não esconde o seu orgulho por todos, incluindo pai e mãe, terem sobrevivido.

A família teve muita sorte, outras houveram que não resistiram. Entretanto, os onze instalaram-se numa tenda nova. Os abrigos improvisados com paus e plásticos pelos próprios refugiados desapareceram quase todos.

Mas nem sempre foi assim. Jele Nunow conta que, quando chegou a Dadaab, não havia tendas em número suficiente. "Mas isso mudou", afirma, e diz que "agora temos alimentação suficiente".

O alívio de Jele Nunow é palpável. As chuvas torrenciais nesta estação – inicialmente mais uma catástrofe para os refugiados – acabou por providenciar excelentes colheitas.

Fim da fome?

A crise da fome acabou: esta boa notícia foi oficializada há duas semanas pelo director da Organização das Nações Unidas para e Agricultura e Alimentação (FAO), José Graziano da Silva. Mas Marc Bowden, coordenador da assistência de emergência da ONU, avisa que a situação pode voltar a mudar rapidamente.

"A colheita recente cobre cerca de dez a 20 do volume necessário para o ano todo", diz Bowden, que conta com uma deterioração já em maio próximo. "As reservas vão esgotar-se antes da próxima colheita", alerta.

A ONU calcula que mais de dois milhões de somalis continuam dependentes de ajuda alimentar. O número de refugiados recuou, mas diariamente chegam a Dadaab novos refugiados. Não fogem apenas à fome, mas também à guerra civil e ao terror da milícia radical islâmica al-Shabaab, que ameaça igualmente o campo. Os cooperantes internacionais fazem-se acompanhar por patrulhas armadas até aos dentes. Em dezembro passado, foram abatidas a tiro duas pessoas, último incidente do género. Desde então reina a calma.

"Antes da seca e dos combates tínhamos um vida boa na Somália", lembra-se o jovem Abdi Kule Zusuf. Mas, depois, a situação tornou-se tão grave que obrigou as pessoas a fugir", relata. Segundo Abdi, a paz reina no local, embora os refugiados "possuam apenas o que lhes deram as organizações de assistência", diz com tristeza.

Abdi Yusuf fugiu para Dadaab com a mãe e três irmãos. O pai do jovem de 15 anos ficou na Somália, para não abandonar as terras cultivadas. A ONU espera que as famílias regressem a casa, agora que a seca chegou ao fim. Algumas preparam-se para o fazer. Mas a maioria tem demasiado medo."Enquanto houver guerra não regressamos", diz o jovem Abdi. Só quando houver paz e pudermos voltar à nossa vida de sempre", planeia.

Autoras: Linda Staude (Nairobi) / Cristina Krippahl
Edição: Renate Krieger / Helena Ferro de Gouveia

Refugiados não retornaram a casa por medo de guerra civil, fome e atuação da milícia radical islâmica Al-Shabab (foto)
Refugiados não retornaram a casa por medo de guerra civil, fome e atuação da milícia radical islâmica Al-Shabab (foto)Foto: AP
Aos dois anos de idade, Aden Salaad recebeu no ano passado tratamento contra desnutrição; seca no Corno de África foi a pior em décadas
Aos dois anos de idade, Aden Salaad recebeu no ano passado tratamento contra desnutrição; seca no Corno de África foi a pior em décadasFoto: AP