Maputo: O último adeus ao rapper Azagaia
14 de março de 2023Milhares de pessoas acompanharam na manhã desta terça-feira (14.03) as cerimónias fúnebres do rapper Azagaia, em Maputo.
Fãs e admiradores do músico fizeram fila desde cedo para entrar no Conselho Municipal da capital moçambicana. As cerimónias contaram com homenagens de vários membros da sociedade civil, músicos, atores políticos, além dos familiares.
No Twitter, o jornal moçambicano O País partilhou o momento em que as filhas de Azagaia prestavam as suas homenagens ao pai.
Após uma série de homenagens, muita consternação, lágrimas e aplausos, o cortejo seguiu em direção ao cemitério de Michafutene para o enterro.
Ao longo dos mais de 20 quilómetros de percurso da urna, ouviram-se repetidas vezes coros da célebre música do rapper.
Durante o percurso, a polícia bloqueou com blindados, sem dar explicações, a Avenida Julius Nyerere, onde se localiza a Presidência da República. A rota do cortejo teve que ser alterada. O acontecimento foi reportado nas redes sociais.
"Um homem destemido"
Nos Paços do Município, a rapper Ivete Mafundza agradeceu "tudo o que Azagaia deixou aos moçambicanos" e à classe. "Não podemos despedir-nos de ti Azagaia sem nos lembrar do que nos dizias cantando: 'povo no poder, povo no poder sim, não temos medo, não temos medo não'. Descanse em paz", disse.
Em 2008, Azagaia foi parar à Procuradoria-Geral da República por alegado atentado contra a segurança do Estado, durante protestos populares. Mesmo assim, lembrou o ativista Adriano Nuvunga, o rapper continuou a lutar pela justiça.
"Ele continuou a denunciar as desigualdades sociais, o nepotismo no Estado, o tráfico de influências, a corrupção, os novos ricos que nascem de esquemas e não de trabalho honesto. E para ele são os novos colonos".
A família do "rapper do povo", numa mensagem lida pelo irmão Hélder da Luz, enfatizou que "Azagaia era um homem destemido".
"Tu nasceste para combater o medo. É seu dever, prometeste que Deus iria levantar uma geração que viveria só pelo dever, eterno vencedor das causas perdidas. Cabe a nós lutar para um dia vermos o povo no poder".
Já o Governo, através da ministra da Cultura, Eldevina Materula, destacou que Azagaia valorizou a unidade nacional, a solidariedade e paz.
"Fez da música um instrumento de identidade de afirmação dos seus ideais e o hip-hop, seu estilo, inspirou gerações na busca de respostas para os desafios da sociedade", afirmou Materula.
"Uma perda extraordinária"
Em declarações à DW, no velório, a ativista social moçambicana Fátima Mimbire disse que a morte de Azagaia representa "uma perda extraordinária".
Azagaia "ajudou muitos jovens a pensar e ensinou-nos a refletir como país de forma bastante criativa usando a arte", afirmou Mimbire, acrescentando que o músico mostrou que o rap é uma forma de inclusão social.
O deputado da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) Venâncio Mondlane também esteve presente nas cerimónias fúnebres desta manhã.
Para Mondlane, o rapper Azagaia entrou para a história de Moçambique. "Não restam dúvidas de que ele seja uma figura incontornável da história musical contemporânea de Moçambique, mas o Azagaia conseguiu transpor os limites da história musical para a história geral do país", enfatizou o deputado da RENAMO.
Nas redes sociais, multiplicaram-se registos das cerimónias fúnebres. Num dos vídeos publicados no Twitter, os fãs cantam "O povo no poder", uma das músicas mais emblemáticas do rapper, entre outras canções marcantes.
Um dos vídeos que circula no Twitter mostra o momento em que a multidão questionou a ausência do Presidente da República, Filipe Nyusi, no velório.
O rapper morreu, aos 38 anos, na quinta-feira passada (09.03), em casa, na cidade da Matola.
Artigo atualizado às 14h59 (CET) de 14 de março de 2023.