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Maputo: Fuga de reclusos e boatos de ataques aumentam tensão

Silaide Mutemba (Maputo)
30 de dezembro de 2024

Cidadãos na Cidade e Provincia de Maputo experimentaram momentos de terror causados por boatos e desinformação, após evasão de reclusos da cadeia de máxima segurança, na quarta-feira.

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 Cadeia de máxima segurança em Maputo
1.500 reclusos evadiram da cadeia de máxima segurança em Maputo, na quarta-feiraFoto: Romeu da Silva/DW

Na noite após o Natal, a cidade e província de Maputo foram palco de momentos de terror e caos, provocados por boatos que se espalharam rapidamente, criando um clima de instabilidade e insegurança. A situação foi provocada pela fuga de mais de 1.500 reclusos da cadeia de máxima segurança, na província de Maputo.

Além disso, o comandante-geral da polícia, Bernardino Rafael, teria alertado a população sobre possíveis invasões domiciliares e atos violentos, prevendo momentos de terror. Depois dessa declaração, seguiu-se o boato sobre ataques de "homens armados com catanas" em residências durante a madrugada.

Maputo, já abalada pelos efeitos das manifestações violentas que marcaram os últimos dois meses e que foram convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, viu a tensão crescer com o surgimento desses rumores. Embora não houvesse confirmação oficial sobre a presença de qualquer grupo armado, a propagação dos boatos foi suficiente para deixar muitos cidadãos em estado de pânico.

Aly Caetano, residente em Pemba e que estava em Maputo de férias, descreve o episódio como mais aterrorizante do que qualquer situação vivida na província de Cabo Delgado, fustigada pelos ataques terroristas há mais de 7 anos:

"Eu vi nos rostos dos meus amigos e familiares medo e pânico. Os bairros se tornaram em zonas de terror e, por cerca de três dias, ouviram-se tiros - o que nunca ouvi em Cabo Delgado. Vi pessoas a comprarem armas brancas para se defenderem", relatou.

Caetano diz ainda que "naquela noite de Natal, os bairros da cidade e província de Maputo viveram um dos piores momentos da sua história devido ao pânico e tensão no ar, ao mesmo tempo em que se assistia a saques de lojas e queima de estabelecimentos comerciais".

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Patrulhamento comunitário

Naquela madrugada, rumores de ataques se espalharam rapidamente e provocaram mobilizações espontâneas de patrulhamento comunitário.

Dilermano Quive é morador da Matola. Relata que participou das patrulhas em que foram neutralizados cinco indivíduos. Mas, Quive observa que os jovens abordados durante aquela noite não portavam armas.

No dia seguinte, a polícia teria confirmado que as informações referentes a ataques não passavam de boatos e, até ao momento, não foram partilhados resultados oficiais da referida ação de patrulhamento.

Mas qual seria então o objetivo deste pânico?

Aly Caetano suspeita que o objetivo era "desviar o foco das manifestações que contestam os resultados eleitorais, criando um ambiente de medo e desconfiança".

"Tudo o que aconteceu nos últimos dias tinha como objetivo desacreditar as manifestações e toda a ação de desobediência civil que estava acontecer por causa dos resultados eleitorais," considera.

"Dividir para reinar"

Já Wilker Dias, analista político, acredita que a estratégia era "dividir para reinar", polarizando a sociedade e redirecionando a energia popular para a autodefesa.

"Esta foi a estratégia usada pelo regime para dividir a população e desviar as atenções das manifestações e da busca pela verdade eleitoral e, por outro lado, resgatar a imagem da polícia como os únicos capazes de defender os munícipes," pondera.

Apesar das noites de medo, não foram registrados ataques reais atribuídos aos fugitivos. Resta saber se a estratégia vai consolidar o controle político a curto prazo ou agravar a precária confiança nas instituições do país.

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