Protestos em Moçambique vão para além do campo político
9 de novembro de 2024É preciso mais diálogo e menos violência policial em Moçambique. Este é o apelo do investigador moçambicano Zacarias Tsambe que em entrevista à DW África diz que é preciso compreender que a crise pós-eleitoral em Moçambique não está só relacionada com a figura do candidato presidencial Venâncio Mondlane ou com as alegações de fraude eleitoral.
Para Tsambe, o problema dos moçambicanos é mais vasto, estando relacionado com a ânsia de mudança, mas também com questões como a segurança, saúde e acesso à educação.
DW África: Estes protestos vão para além da questão eleitoral?
Zacarias Tsambe (ZT): Este levante popular que acontecei um pouco por todo o país nas últimas semanas não deve ser analisado exclusivamente como estando ligado ao processo eleitoral. Durante os dias das manifestações, entre os jovens, particularmente, há outras pautas que têm sido colocadas nesta revindicação, como o acesso a cuidados de saúde e a um sistema de educação que responde às demandas dessa grande maioria da população moçambicana.
Não há dúvida nenhuma da atuação agressiva, violenta e excessiva, tanto das Forças de Defesa e Segurança (FDS), como também desta ausência permanente de um discurso político que possa amainar os ânimos.
DW África: Sentiu falta do campo diplomático ou de um espaço político para tentar encontrar soluções?
ZT: É evidente. As eleições são um processo político e todas as alternativas, sejam para a resolução de contenciosos eleitorais seja qualquer outra forma que não esteja clara no processo destas eleições, têm de ser discutidas numa primeira instância no processo político. Embora as grandes manifestações que nós temos tido, nas grandes e pequenas cidades de todo o país, estejam ligadas ao processo de reivindicação das alegadas fraudes eleitorais, não devem ser vistas como uma questão exclusivamente eleitoral, porque nas pautas que têm sido apresentadas pelos manifestantes não estão apenas as questões eleitorais, mas também essas reivindicações de acesso a cuidados de saúde, a uma educação de qualidade e a um sistema de segurança.
DW África: Acha que o Conselho Constitucional deu um passo no sentido de apaziguar os ânimos e de repor a verdade eleitoral, admitindo já os recursos apresentados pelos partidos da oposição?
ZT: Eu penso que já vai tarde. Havia sinais claros de que essa onda de manifestações chegaria a níveis incontroláveis.