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Protestos impedidos: "É difícil fazer ativismo em Cabinda"

Simão Lelo
23 de junho de 2023

Os ativistas em Cabinda relatam que é cada vez mais difícil realizar manifestações na província. E culpam a polícia. Ainda no sábado, dia de protestos em Angola, a manifestação prevista para Cabinda não chegou a sair.

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Da esquerda para a direita na foto: Ativistas José das Neves Lanzi, Clemente Cuilo e André Puati
Ativistas José das Neves Lanzi, Clemente Cuilo e André PuatiFoto: Simão Lelo/DW

No passado sábado (17.05), centenas de manifestantes foram para as ruas em várias províncias para protestar contra o aumento do preço da gasolina e do custo de vida. Mas a manifestação prevista para Cabinda não se chegou a realizar. A polícia deteve três ativistas no local, que, mais tarde, foram libertados.

Em declarações à DW, um deles, Clemente Cuilo, conta que, pouco antes da hora marcada para a manifestação, a cidade de Cabinda já estava toda "militarizada".

"Quando eram justamente nove horas, havia um aparato policial nunca visto em Cabinda, com todo o tipo de polícia, armada até a ponta da cabeça. Parecia que estávamos em estado de sítio", recorda.

Assim que chegou ao local da manifestação, o ativista diz que nem teve tempo de começar a protestar. "Minutos depois, senti o pescoço preso, pegaram-me pelas calças e fui arrastado até uma viatura da polícia e de imediato levado até à esquadra do Ngomá", relata.

Contactada pela DW, a polícia local recusou-se a comentar o assunto.

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"Armamento mercenário para travar ativistas"

A 17 de junho foram detidas cerca de cem pessoas, não só durante como também antes dos protestos contra a subida do preço do combustível. A polícia acusou os manifestantes de arruaça e desobediência.

Mas o ativista Geraldo Mfumu Buala olha com indignação para estes argumentos. Buala era um dos organizadores do protesto a 17 de junho e diz que, nesse dia, a sua casa foi cercada por agentes da polícia, supostamente para o impedir de ir para a rua protestar.

"Em Cabinda vimos um armamento mercenário para travar ativistas a saírem para se manifestarem", afirma.

Em Cabinda, o partido no poder em Angola, o MPLA, ficou em segundo lugar nas eleições gerais do ano passado. Na província grassa a insatisfação com as políticas do Governo de João Lourenço.

Os líderes das associações cívicas e de direitos humanos locais entendem que a situação económica e social e de respeito aos direitos e liberdades dos cidadãos se agrava dia após dia.

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Abafar vozes contestatárias

Segundo o presidente do Núcleo dos Ativistas em Cabinda (NAC), Jeovanny Ventura, há uma tentativa de abafar as vozes contestatárias, particularmente em zonas onde se reivindica independência ou mais autonomia.

"Em Angola, é difícil fazer ativismo em Cabinda e nas Lundas. Se reparar, as violações dos direitos humanos estão mais nessas zonas, pois o objetivo é transparecer que não existem problemas nessas zonas", sublinha.

O ativista Geraldo Mfumu Buala pergunta: Será que o Governo tem medo dos protestos?

"Qual é o medo que o Governo tem com as manifestações, se isso está legislado? Quando se sai para manifestar, és visto como um independentista ou uma pessoa altamente perigosa", remata.

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