Mali: Militares anunciam eleições dentro de "prazo razoável"
19 de agosto de 2020O porta-voz dos militares e vice-chefe de Estado-Maior da Força Aérea, coronel Ismaël Wagué, numa declaração emitida pela televisão pública ORTM disse: "Nós, as forças patrióticas agrupadas no Comité Nacional para a Salvação do Povo (CNSP), decidimos assumir as nossas responsabilidades perante o povo e perante a história".
"O nosso país [...] afunda-se dia após dia no caos, na anarquia e na insegurança, por culpa dos homens encarregados do seu destino", acusou o oficial, denunciando o "clientelismo político" e "a gestão familiar dos assuntos do Estado".
"A sociedade civil e os movimentos socio-políticos são convidados a juntar-se a nós para criar as melhores condições para uma transição política civil conducente a eleições gerais credíveis para o exercício da democracia, através de um roteiro que lançará as bases para um novo Mali", acrescentou.
Garantia de respeito pelos acordos internacionais
O porta-voz garantiu ainda que todos os acordos internacionais do Mali serão respeitados, afirmando que os militares estavam "empenhados no processo de Argel", o acordo de paz assinado em 2015 entre Bamako e os grupos armados do norte do país.
Wagué pediu ainda o apoio das organizações internacionais "para o bem-estar do Mali". "A [missão da ONU] Minusma, a operação [anti-extremista francesa] Barkhane, o G5 Sahel [que inclui cinco países da região], a força Takuba ['task-force' de forças especiais europeias] continuam a ser nossos parceiros", acrescentou.
Renúncia do Presidente
O Presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, no poder desde 2013, anunciou a demissão e a de todo o Governo, numa declaração transmitida pela televisão, após ter sido deposto por um golpe militar.
Keita, que tinha sido detido na companhia do primeiro-ministro Boubou Cissé no final da tarde de terça-feira (18.08) e levado para o acampamento militar onde se iniciou um motim no início do dia.
Apresentado como "Presidente cessante", Keita referiu-se depois às "várias manifestações" que têm vindo a exigir a sua partida há vários meses, afirmando que "o pior aconteceu".
"Se hoje pareceu bem a alguns elementos das nossas forças armadas concluir que tudo devia terminar com a sua intervenção, será que tenho realmente escolha? Não tenho outra escolha senão submeter-me, porque não quero que seja derramado sangue para me manter [no cargo]", disse.
"É por isso que gostaria neste preciso momento, ao agradecer ao povo do Mali o seu apoio ao longo destes longos anos e o calor do seu afeto, de vos anunciar a minha decisão de deixar as minhas funções, todas as minhas funções, a partir deste momento", disse. "E com todas as consequências legais: a dissolução da assembleia nacional e do governo", acrescentou.