"Madgermanes": Desemprego e humilhação
26 de junho de 2019Virgílio Simbine viveu durante seis anos na cidade de Berlim, na antiga República Democrática Alemã (RDA), com um contrato de trabalho nos caminhos-de-ferro da Alemanha de Leste (Deutsche Reichsbahn), que conseguiu na década de 80, no quadro das relações de cooperação e de amizade com Moçambique.
Com a queda do muro de Berlim, viu-se obrigado, juntamente com os seus colegas, a regressar ao seu país de origem, onde – teoricamente - deveria aplicar e desenvolver as experiências adquiridas na Alemanha.
No entanto, Virgílio não queria regressar. Temia a falta de oportunidades no seu país para quem tivesse passado algum tempo no estrangeiro: "Eu trabalhava na Deutsche Reichsbahn, morava em Berlim. Vivíamos praticamente bem. Quando chegou a notícia para regressarmos a Moçambique, não queria voltar. Fui uma das últimas pessoas a arrumar as coisas no contentor".
"Em Moçambique, nunca trabalhei para ninguém"
Quando regressou a Moçambique, não conseguiu um emprego nem no Estado nem no setor privado. Para ganhar algum dinheiro, viu-se obrigado a fazer pequenos consertos e a reparar telemóveis, mas não exerceu a atividade por muito tempo, deixando o trabalho para o filho.
Como alternativa, Virgílio Simbine dedicou-se à agricultura, cultivando produtos de primeira necessidade para fornecer o mercado local, como tomate, piri-piri, couves, alface e cebola, mas não teve sorte no negócio. Os efeitos das alterações climáticas que já se fazem sentir no país colocam em risco qualquer projeto agrícola.
Face a todos os insucessos, Virgílio Simbine está desempregado desde que voltou a Moçambique. Vive de pequenos negócios que faz para poder sustentar sua família, como tantos outros madgermanes: "Fomos vivendo, cada um à sua sorte, nunca tivemos emprego no Estado, fomos sempre humilhados".
Ser ex-trabalhador da antiga RDA, explica, não ajuda: "Em qualquer parte do Estado, quando pedimos emprego, quando percebem que és madgermane, és posto de lado. Em Moçambique, nunca trabalhei para ninguém".
Arrependimento e apelo
Em entrevista à DW África, Virgílio Simbine aproveita para lançar um apelo às autoridades: pede que lhe devolvam o dinheiro que lhe foi descontado quando se encontrava a trabalhar na extinta RDA.
"O que pedimos é que o Estado se sente e organize os seus documentos e pague aquilo que era cortado do nosso ordenado na Alemanha", explica. "Cortava-se a segurança social e cortavam 60% do nosso salário, diziam que um dia iríamos receber em Moçambique. Estou muito arrependido e não me sinto bem".
Tal como Simbine, muitos trabalhadores moçambicanos que estiveram na antiga Alemanha Democrática continuam a exigir ,até hoje, ao Governo moçambicano que lhes sejam devolvidos os montantes descontados e enviados pelas autoridades alemãs ao Governo de Moçambique, com a promessa de receberem mais tarde a totalidade dos descontos e subsídios.