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CulturaAlemanha

Alemanha recebe pré-edição online do African Book Festival

28 de janeiro de 2021

Em tempos de pandemia, a pré-edição do African Book Festival acontece nos dias 28 e 29, em Leipzig e Munique, e será virtual e gratuita. A DW esteve à conversa com Kalaf Epalanga, o curador do festival do livro africano.

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Der angolanische Musiker Kalaf Epalanga
Kalaf Epalanga, curador desta edição do African Book FestivalFoto: DW/J.Carlos

O African Book Festival conta este ano com uma pré-edição online que tem como um dos objetivos "abrir o apetite” para a edição presencial que deverá acontecer em Berlim, Alemanha, dentro de alguns meses. A organização prefere, para já, não adiantar uma data.

Esta pré-edição é também, em certa medida, uma forma de compensar o público depois da edição de 2020 ter sido cancelada. Serão dois dias, 28 e 29 de janeiro, onde a literatura e a música africanas vão estar em perfeita harmonia e representadas por diversos autores nas cidades de Leipzig e Munique, na Alemanha.

A DW África quis saber mais sobre o festival junto do curador, o músico e escritor angolano Kalaf Epalanga.

DW África: O que é que o público poderá assistir nestes dois dias? Fale-nos um pouco desta pré-edição…

Kalaf Epalanga (KE): Para esta edição temos preparado dois eventos. Um a acontecer em Leipzig e outro a acontecer em Munique. No do dia 28, em Leipzig, vamos focarmo-nos na literatura anglófona e francófona. E na edição do dia 29, em Munique, vamos apresentar escritores lusófonos, mais especificamente escritores angolanos, contemporâneos. É um desejo nosso apresentar sempre escritores novos, vindos de outras latitudes e que tragam e acrescentem algo de novo e fresco nessa família que é a literatura africana. Voltar a falar de literatura, voltar a trazer os livros à conversa, a focar nos autores africanos – no continente e na diáspora – e atrair os leitores para a edição de Berlim mais à frente.

Kalaf Epalanga: escritor angolano em Leipzig

DW África: Esta pré-edição está inspirada na relação entre a música e a literatura. No seu entender, de que maneira é que essas duas formas de arte se cruzam e estão interligadas?

KE: Uma das coisas que notei, ao escolher os autores e os livros que queria que o público tomasse conhecimento, foi que a música, a canção, estavam presentes na obra de todos os escritores que tinha em cartaz. Quando os organizadores falaram-me da possibilidade de fazer esses dois eventos, senti que talvez ali pudesse, não só, aprofundar ainda mais essa característica mas também mostrar como, para nós escritores africanos, a música está tão presente nas nossas narrativas.

A música é o primeiro veículo de comunicação, para muitas das nossas culturas. Muitos dos nossos países não têm livrarias a funcionar nem bibliotecas apetrechadas, mas, ainda assim, existe uma indústria e uma cultura musical muito viva e muito vibrante. Isso é algo bonito de se ver, que marca a nossa história, das lutas de libertação, as canções de protesto, de emancipação. Canções que, de certa forma, pensavam já em pan-africanismo e que estavam presentes desde que eu me lembro. Desde que começou a existir a canção gravada, através dos vinis, das cassetes e da rádio inclusive, outro instrumento importantíssimo. Eu sou dos que defende que a literatura não se manifesta apenas quando o livro é publicado. Ela acontece e está presente na vida das pessoas desde o momento que existe alguém com vontade de contar uma história.

DW África: E no festival de que forma é que essa comunhão estará presente e retratada?

Symbolbild Buch
Festival conta com autores da literatura anglófona, francófona e lusófona Foto: picture-alliance/dpa/U. Anspach

KE: Nós vamos apresentar a música que está presente nos excertos que vamos ler. Escolhemos entre cinco a seis excertos para cada um dos dias. E todos eles têm referências musicais muito presentes. Não só no citar de canções mas na construção das imagens. São escritos e textos que convidam o leitor a imaginar o espaço, a imaginar as personagens e os sons que as envolvem. É isso que queremos que os espetadores sintam. Como a música não só inspirou esses escritores como, ao lermos, o som e a presença da música está nas páginas em questão.Vamos ter músicos também a tocar e vamos recorrer, claro, às tecnologias, Dj sets, etc. Vamos usar tudo e mais alguma coisa para fazer um bom momento de entretenimento entre literatura e música.

DW África: Em tempos de pandemia esta pré-edição online é uma forma de agraciar os amantes dos livros? Sente que as pessoas estão com sede de cultura e de momentos como esse?

KE: Sim, eu acho que esse é o momento de busca interior, de autorreflexão, um bom momento para tentarmos nos reconectarmos com coisas que perdemos na azáfama diária e o tempo que passamos entre casa - trabalho, trabalho- casa. É um momento desafiante, mas o tempo que não gastamos em transportes públicos é um bom momento para pegarmos um livro, nem que seja meia hora do nosso dia, a esfolhear duas ou três páginas, já é interessante.

DW África: No ano passado não aconteceu o festival e este ano esperam contar com uma edição presencial. O que é que está a ser preparado?

KE: Muitos dos escritores que vamos apresentar nesta edição online, tirando três ou quatro, são escritores que já estiveram nas edições anteriores ou que vão estar na edição deste ano, na primavera. O título da edição em Berlim chama-se "Tell the origin stories” ("Contando as histórias originais”), um título vago, poético, que pede várias interpretações. Mas uma das interpretações que eu faço é que, se não formos nós a contarmos a nossa história, essa história será contada por outro e esse outro poderá não ser tão sensível e tão atento às coisas que nos definem como somos e o que queremos fazer e deixar como legado.

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