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Líderes tradicionais em Moçambique influenciam a votação

Carlos, Joao22 de fevereiro de 2013

Um estudo acabado de apresentar em Lisboa argumenta que os líderes tradicionais em Moçambique influenciam o sentido do voto, bem como a participação nos atos eleitorais nas zonas onde se encontram.

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A investigação é da autoria do economista português, João Morgado, baseada nos dados recolhidos das eleições gerais de 2009 em 161 localidades das províncias de Gaza, Maputo, Cabo Delgado e Zambeze.

"A influência das Autoridades Tradicionais no processo eleitoral em Moçambique". É o título da investigação que João Morgado apresentou esta quinta-feira (21.02.) na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

O estudo aborda o impacto que os líderes tradicionais daquele país têm sobre o comportamento dos eleitores nas urnas, particularmente nas comunidades rurais.

O poder dos líderes tradicionais

"As áreas onde os líderes tradicionais têm maior poder são áreas onde afluência é maior. Portanto, eles conseguem usar o seu poder para influenciar as pessoas a votar", conclui o economista.

Eles tem também capacidade para influenciar na escolha dos líderes, diz João Morgado: "E por outro lado as áreras estudadas por mim, que são dominadas pela FRELIMO, onde os líderes têm maior poder, tende a haver maior votação neste partido também. Isso quer dizer que eles têm o poder de influenciar no partido no qual as pessoas votam."

O investigador português já teve duas experiências em países lusófonos de África. Foi em 2009, a exemplo dos sobas em Angola, que se apercebeu do papel relevante dos líderes tradicionais nas áreas mais isoladas do território moçambicano.

As consequências do isolamento

Em meados de 2012, no âmbito de um projeto da Faculdade que o levou a Moçambique, conseguiu então estabelecer um contacto mais estreito com as respetivas comunidades.

É esta oportunidade que determinou a realização deste estudo: "E a importância que estas pessoas tinham, para mim ficou absolutamente clara", recorda.

João Morgado conta ainda quel foi o ponto de partida para a sua pesquisa: "Além disso, através do meu orientador Pedro Vicente, de um estudo feito por ele em 2009, no qual as pessoas espalhadas por comunidades das 4 províncias tinham reportado o seu comportamento durante as eleições."

A investigação é sustentada por depoimentos de 1154 líderes tradicionais com influência em áreas onde não há vias de comunicação nem serviços públicos, entre os quais o acesso à informação. E isso tem uma consequência, conta o pesquisador: "E provavelmente esta influência aparece porque as pessoas não estão informadas e não sabem bem como conduz o processo político, não conhecem as alternativas políticas ao seu dispor, e provavelmente são influenciadas pela pessoa que tem maior contacto com agentes externos."

Os líderes tradicionais nas mãos dos partidos

Para João Morgado, tanto a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), no poder, como a RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), considerado o maior partido da oposição, beneficiam desta influência, em proporções diferentes.E ele explica: "É claro, que as minhas áreas eram dominadas pela FRELIMO, não demonstraram o mesmo resultado para a oposição, nomeadamente para a RENAMO."

No caso das áreas controladas pela RENAMO "este tipo de resultado também aparece. Isto é, nas áreas controladas pela RENAMO os líderes tradicionais conseguem influenciar os eleitores a votarem neste partido", esclarece Morgado.

No passado ainda durante a guerra civil, a importância dos líderes tradicionais foi banalizada pela FRELIMO que, só mais tarde, depois dos Acordos de Roma de 1992, lhes atribuiu o devido reconhecimento, através de um decreto que lhes restituiu parte do poder que tinham.

João Morgado concluiu o mestrado em economia, em janeiro último, ao defender a tese sobre este poder das autoridades tradicionais, que, segundo o investigador, certamente se poderá voltar a registar não com a mesma dimensão, nas eleições autárquicas de 2014.

Autor: João Carlos (Lisboa)
Edição: Nádia Issufo / Helena Ferro de Gouveia