Jovens africanos exigem financiamento para caos climático
28 de novembro de 2023O futuro pertence à juventude. Mas para que haja um futuro, o cenário atual tem de mudar drasticamente. É isso que os jovens africanos pedem.
Cerca de 150 jovens de todo o continente, reunidos em Yaoundé, capital dos Camarões, estão a apelar aos países desenvolvidos para que disponibilizem mais fundos para ajudar o continente a fazer face aos efeitos das alterações climáticas.
Trata-se de um momento histórico para o envolvimento dos jovens na ação climática: o primeiro Fórum da Juventude sobre o Financiamento da Adaptação em África - YOFAFA 2023.
África não é dos principais contribuidores para as emissões de gases com efeito de estufa, mas é sem dúvida a mais afetada pelas alterações climáticas. A África Subsaariana sofre com secas, inundações, ciclones e outras catástrofes relacionadas com o clima.
Em 2021, o continente africano foi responsável por 3,9% das emissões mundiais de dióxido de carbono provenientes de combustíveis fósseis e da indústria, em contraste com 23% na China, 19% nos EUA e 13% na União Europeia.
De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), os países mais frágeis sofrem mais com os choques relacionados com o clima do que os outros países. Todos os anos, o número de pessoas afetadas por catástrofes naturais em Estados frágeis é três vezes superior e mais do dobro da percentagem da população é deslocada.
Secas e inundações extremas
A ativista Anna Shampi, do Quénia, traça um quadro preocupante do que as alterações climáticas têm feito à sua comunidade.
Schampi afirma que é necessário apresentar projetos que permitam às comunidades adaptarem-se. "Tivemos seis estações chuvosas fracassadas, o que significa que, todos os anos, os pastores têm perdido o seu gado, que é o seu meio de subsistência", disse.
A luta pelos recursos resultaria em confrontos entre as comunidades de agricultores e os pastores, causando mais tensões.
"Sempre que a chuva vem, não sei por alguma razão, vem tão forte e há sempre inundações. Portanto, se temos seca, é extremo, se temos chuva, também é extremo. No caso das inundações, as nossas casas, a maior parte delas são temporárias. Por isso, acabam por ser varridas", salienta a ativista.
Falta crónica de dinheiro
O relatório "State of the Climate in Africa 2022" (Estado do Clima em África) mostra que a taxa de aumento da temperatura neste continente acelerou nas últimas décadas, com os riscos relacionados com o tempo e o clima a tornarem-se mais graves.
As temperaturas nas regiões mais frágeis já são mais elevadas devido à sua localização geográfica.
Em 2040, estes países poderão enfrentar 61 dias por ano com temperaturas superiores a 35 graus Celsius, em média - quatro vezes mais do que os outros países.
O financiamento de projetos de adaptação em África tornou-se uma grande prioridade para os jovens africanos - projetos de que as pessoas precisam para sobreviver.
Mas a falta crónica de financiamento para a adaptação torna cada vez mais difícil fazer face a esta situação.
É por isso que, durante a conferência de dois dias que antecede a 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28), os jovens africanos vão debater e defender o aumento do financiamento para a resiliência climática, apelando à comunidade internacional para que "se comprometa a mais do que duplicar o financiamento da adaptação em África", de acordo com os organizadores.
Soluções criadas em África
Existem muitas ideias para este efeito. Nos Camarões, Mbong Kimbi, da Coligação Africana para a Energia Sustentável e o Acesso, tem trabalhado com comunidades agrícolas para se adaptarem à realidade das chuvas imprevisíveis e da deterioração dos solos.
"Ensinamos os agricultores a produzir os seus próprios biofertilizantes e bio-spray, a utilizá-los corretamente nas suas explorações, a fazer o acompanhamento - porque o biofertilizante tem muitos químicos que ajudam o solo e, consequentemente, as suas culturas. O resultado do ano passado foi muito bom para a fase piloto do programa", conta.
No entanto, Mbong King realça que para dar o próximo passo é preciso mais fundos, mas continua a haver "problemas com o financimento". O défice do pagamento para estes projetos necessários é enorme.
De acordo com Augustine Njamshi, diretor executivo da Coligação Africana para a Energia Sustentável e o Acesso, África precisa de quase 53 mil milhões de dólares (49,3 mil milhões de euros) por ano até 2030 para lidar com os seus desafios de adaptação climática.
Contudo, o continente recebeu apenas 11,4 mil milhões de dólares (10,4 milhões de euros) entre 2019 e 2020 para esse efeito.
"De acordo com o relatório Adaptation Gap, publicado há alguns dias, o atual défice de financiamento da adaptação está agora estimado entre 194 mil milhões e 366 mil milhões de dólares (177 mil milhões e 334 mil milhões de euros) por ano", afirma Njamshi.
Milhares de milhões de dólares em falta
Entre 2019 e 2020, o mundo gastou 632 mil milhões de dólares (577 mil milhões de euros) em investimentos e iniciativas de mitigação do aquecimento global e das alterações climáticas.
No entanto, é apenas uma fração dos 90 triliões de dólares (82 triliões de euros) estimados necessários para gastar até 2030, de acordo com dados do Banco Mundial de outubro de 2019.
O financiamento está a pesar muito na carteira dos países. Onze países africanos gastam cinco vezes mais para fazer face às alterações climáticas do que em cuidados de saúde, diz Njamshi.
É por isso que os jovens reunidos em Yaoundé defendem que a COP28 deve aumentar substancialmente o financiamento da adaptação para um continente menos responsável pelas alterações climáticas, mas mais afetado por elas.
O dinheiro disponível até agora é apenas uma gota no oceano do que é necessário.