Julgamento sumário em Luanda de mais de 20 manifestantes
12 de abril de 2022Entre os ativistas detidos estão três mulheres, uma com um bebé de sete meses e outra em estado de gestação. O julgamento, no qual os réus são acusados pelos crimes "de realização de motim e desobediência à ordem de dispersão", deverá ser retomado, segundo o juíz, às oito da manhã desta terça-feira (12.04).
O julgamento estava marcado para as 09h00 da manhã desta segunda-feira (11.04), mas a audiência só começou às 20h00, tendo os advogados e os jovens sido forçados a assistir a outro julgamento que estava a decorrer na mesma sala.
Depois de ouvidos apenas quatro dos manifestantes detidos, a sessão foi suspensa já passava da meia-noite. Todos os réus foram mandados para casa, devendo regressar esta terça-feira (12.04) bem cedo, mas muitos deles não sabiam como ir, pois à meia noite não tinham transporte.
À DW, o advogado Simão Afonso, contou o que se passou, remetendo mais detalhes sobre o processo para depois da sentença. "Por ter começado tarde, foram ouvidos apenas quatro arguidos e chegando por volta das zero horas, estava todo o mundo exausto e o juiz decidiu suspender o julgamento e a pena de prisão aplicada que era a privação da liberdade. O juiz decidiu mandar todos os arguidos para casa, com a incumbência de voltarem mais tarde para continuarmos com a sessão de julgamento", explicou.
"Se não os libertarem, vamos avançar"
Donito Carlos, porta-voz dos organizadores da manifestação, explica que o julgamento é consequência da prisão dos "presos políticos", uma vez que os jovens angolanos saíram à rua para exigir a libertação dos ativistas Luther Campos e Tanaice Neutro, detidos em janeiro na sequência da greve dos taxistas.
O ativista avisa que este processo não intimida os que estão em liberdade: "Se não os libertarem, vamos sempre avançar. Obviamente que vão prender mais pessoas e vamos chegar no momento das eleições com clima político-social não muito bom."
Ainda segundo Donito Carlos, as ações "autoritárias" das autoridades podem levar muitos jovens ao exílio. "Se continuarem assim, vai obviamente, obrigar a muitos a saírem do país. Não podemos continuar com um país assim. Ou saímos do país, deixamo-los com o país que eles pretendem ou qualquer coisa parecida porque não podemos continuar a ser vítimas do tratamento macabro de um grupo partidocrata", sublinha.
CEAST condena repressão de manifestantes
A Comissão Episcopal de Justiça e Paz da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) condenou o regresso da repressão de manifestantes em Angola. O secretário-geral, padre Celestino Epalanga, disse à DW que o país precisa de consolidar a democracia.
"Temos que construir um Estado verdadeiramente democrático de direito. Um Estado democrático de direito é aquele que respeita a dignidade da pessoa humana. Esse é o princípio e o fundamento", conclui o secretário-geral da CEAST.