Investimentos estrangeiros devem beneficiar a população angolana, diz líder da UNITA
14 de julho de 2011Em Angola, a chanceler alemã, Angela Merkel, encontrou-se ao fim da tarde de quarta-feira (14.07.2011) com Isaías Samakuva, líder do maior partido da oposição em Angola, a UNITA.
À Deutsche Welle, Isaías Samakuva disse a visita da chanceler a Angola foi boa porque o país "se encontra numa fase de reconstrução" e "precisa estabelecer essas pontes e canais para também criar ou aprofundar laços de cooperação". Leia a entrevista ao presidente da UNITA:
DW-WORLD.DE: Qual foi a mensagem que levou para esse encontro?
Isaías Samakuva: Aproveitámos a oportunidade para dizermos à chanceler alemã que é bom que haja essa cooperação, mas é importante que, primeiro, se tenha em consideração que esta cooperação só será boa se, de facto, beneficiar também o cidadão comum.
Em segundo lugar, é importante saber que o progresso e o desenvolvimento só serão possíveis se houver o reforço e a promoção da democracia. Só assim poderemos estar em condições de participar em qualquer tipo de cooperação. Mas também só com a democracia poderemos ter garantias de que essa cooperação dê frutos.
Sentiu uma abertura por parte da chanceler Angela Merkel às preocupações levantadas pela UNITA?
Fiquei com a impressão que a chanceler alemã nos ouviu com muita atenção.
Como encara as parcerias e os acordos discutidos e firmados entre Berlim e Luanda?
Acompanhei as declarações feitas pelas duas partes e fiquei com a impressão que são ainda intenções. Os acordos firmados visam domínios como a energia e as forças armadas, mas precisamos de algum tempo para termos mais dados que nos permitam tomar uma posição clara sobre esses acordos.
E a questão relacionada com a venda de barcos patrulha alemães a Angola?
Esta questão parece ser muito polémica. Angola precisa de reforçar a sua segurança, sobretudo no que diz respeito às fronteiras marítimas. Portanto, precisa dessa ajuda. Mas penso que é importante termos bem presente as prioridades.
Nesse sentido, para nós, as prioridades visam a redução da pobreza, velar pelo combate à fome, pelo bem-estar das populações... Resta-nos perguntar: qual é a prioridade? Pensamos que é combater aquilo que afeta diretamente os cidadãos e é aqui onde reside certamente esta polémica.
Acredita que esta parceira ou os contratos irão beneficiar a população angolana?
Quero ver para crer. A experiência que tenho é que, apesar do crescimento económico, apesar de muitos acordos já rubricados, apesar dos grandes recursos do nosso país, o nosso povo continua na miséria, a viver muito mal.
Portanto, como resposta dir-lhe-ia que eu não acredito porque não há ainda a vontade suficiente para transformar esses acordos em algo real, que na verdade beneficie as nossas populações.
Mas, naturalmente, vamos ser otimistas, vamos esperar que haja vontade de mudança e vontade de realizar aquilo que vai ao encontro das aspirações da nossa população. E, como esses acordos não são apenas para os governos, mas para os países, e os países são mais sólidos que os governos, então penso que há sempre uma utilidade, uma mais-valia quando esses acordos são assinados.
Como líder do maior partido da oposição de Angola, está satisfeito com a visita de um governante europeu ao seu país?
A nossa satisfação só se manifestará, de facto, em termos concretos quando os resultados desta visita se revelarem benéficos para a população angolana.
Atualmente, a nossa satisfação pode ser prematura, mas é sempre útil para um país como Angola que se abra ao mundo. Sobretudo, para países como a Alemanha, que não é somente uma potência económica, mas também uma potência em termos de conhecimento e daquilo que pode dar em termos de ajuda aos outros povos.
Autor: António Rocha
Edição: Guilherme Correia da Silva