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Imprensa alemã destaca tensão social na África do Sul

5 de outubro de 2012

Greve dos mineiros de Marikana desencadeu movimentos de resistência em todo o país, que 18 anos após fim do regime do apartheid "não cumpriu promessas". Entre destaques, o fato de EUA estudarem ataques aéreos ao Mali.

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Imprensa alemã destaca temas relacionados à África do Sul
Imprensa alemã destaca temas relacionados à África do SulFoto: Fotolia

O jornal Der Freitag destacou no dia 04.10, quinta-feira, o fato de que outras minas serem palco de revoltas sociais, para além da mina de Marikana, onde, em meados de agosto, houve um massacre de mineiros por policiais no âmbito de uma greve dos funcionários que exigiam salários maiores. O balanço final das mortes em Marikana é de 45 pessoas – em agosto, quando os polícias atiraram nos mineiros em greve, 34 pessoas morreram. 11 pessoas foram vítimas dos próprios grevistas. Afinal, os funcionários conseguiram um aumento, ainda que não tão alto quanto queriam.

O salário baixo é o tema de abertura da reportagem do Der Freitag, segundo o qual "os mineiros da África do Sul formam a linha de frente na luta por liberdade social e econômica no país. Quando necessário, colocam-se no caminho da polícia com paus e não desistem das greves em grandes minas de platina, ouro ou carvão.

Como exemplo, o jornal cita o recente caso da greve da maior parte dos 35 mil funcionários da empresa Anglo Gold Ashanti. Ao mesmo tempo, continuam as paralisações nas exploradoras Gold Fields e Anglo American Platinum em Rustenburg, onde também fica a mina de Marikana, da exploradora Lonmin. Segundo o jornal alemão, menos de um quinto dos funcionários trabalha na região, em grande parte por causa da greve de Marikana.

Balanço amargo do fim do apartheid

Atualmente, lembra também o jornal, apenas 9% das minas são de propriedade de empresários negros, em vez dos 15% almejados para este ano. "Não parece que os 26% serão alcançados até 2014, conforme o planejado", escreve o jornal. "18 anos depois do fim do [regime de segregação racial de minoria branca] apartheid, a paciência dos trabalhadores chegou ao fim".

O diário conservador Frankfurter Allgemeine Zeitung publicou parágrafo parecido em texto de 04.10: "A África do Sul parece ter chegado a uma encruzilhada. 18 anos após o fim do apartheid, a população não acredita mais nas promessas do ANC, partido no poder, de lhes proporcionar uma vida melhor. A taxa de desemprego chega a 40% segundo números não oficiais, e o governo parece não ter ideia melhor do que combater a insatisfação social com ações da polícia".

E também o jornal suíço em língua alemã, Neue Zürcher Zeitung, publicou matéria sobre o novo romance da titular do prémio Nobel de Literatura, a sul-africana Nadine Gordimer, que completa 90 anos em 2013. Segundo o NZZ, Gordimer, que "lutou por um futuro melhor na África do Sul, se pergunta hoje se os filhos do país viverão este futuro". Em "Não há tempo como este" (tradução livre do título em alemão, "Keine Zeit wie diese"), Gordimer fala da desilusão pós-revolução.

As maiores diferenças sociais entre mineiros no mundo

O Der Freitag ainda escreve que "a África do Sul é o país onde existem as maiores diferenças sociais no setor das minas em todo o mundo. A classe média não quer nem ouvir falar das condições de trabalho vigentes debaixo da terra – mas são essas condições que permitem os privilégios desta camada social", escreve o jornal, citando o advogado Charles Abrahams, que representa mais de 3 mil vítimas de doenças pulmonares no país. Abrahams se diz convencido de que "temos a mesma situação de desigualdade social que nos tempos do apartheid".

O Frankfurter Allgemeine Zeitung ainda colocou os holofotes sobre a Comissão de Marikana, "cercada de polémica política".

Esta semana, lembra o FAZ, a Comissão iniciou oficialmente os trabalhos de investigação sobre o massacre de Marikana, onde 34 pessoas morreram por mãos dos polícias, e 11 foram vítimas dos próprios grevistas.

Mas o ANC, Congresso Nacional Africano, deverá eleger um novo líder em dezembro. "E especialmente o chefe do partido e presidente sul-africano, Jacob Zuma, aparentemente não quer ver o tema Marikana na agenda", escreve o jornal.

O movimento de greves que agora toma conta de toda a África do Sul, diz o Frankfurter Allgemeine Zeitung, não trata apenas de reivindicações de aumento de salários. "Também trata da insatisfação de muitos sul-africanos com a liderança política do país, acusada de corrupção e de incapacidade", diz o texto.

"Acresce uma greve de camioneiros, o que coloca em risco o abastecimento de alimentos no país. E, em todos os casos de greve, os grevistas quase não ouvem mais os sindicatos porque estes são suspeitos de ligações estreitas demais com a política e com negócios lucrativos resultantes desta proximidade".

EUA estudam ataques aéreos ao norte do Mali

A página de política do diário Frankfurter Allgemeine Zeitung destacou, na quinta-feira (04.10), que o governo dos Estados Unidos considera realizar ataques aéreos com aviões não tripulados ao Mali, palco de golpe de Estado militar a 22 de março e cujo governo luta contra a dominância de grupos radicais islâmicos no norte do país.

O FAZ divulgou que, "aparentemente, altas autoridades da Casa Branca passaram informações de forma intencional à imprensa dizendo que haveria 'conversações secretas' sobre ataques unilaterais contra o Al Qaeda no Magrebe Islâmico, AQMI [no norte do Mali]", já que os EUA estabeleceram relações entre aquele grupo terrorista e o ataque de 11.09 deste ano ao consulado norte-americano na cidade líbia de Benghazi.

Nadine Gordimer, prémio Nobel de Literatura, completa 90 anos em 2013 e faz balanço "amargo" da era pós-apartheid em novo romance
Nadine Gordimer, prémio Nobel de Literatura, completa 90 anos em 2013 e faz balanço "amargo" da era pós-apartheid em novo romanceFoto: AP
Comissão de Investigação do massacre de Marikana cercada de polémica política com a eleição do líder do partido governista ANC, em dezembro
Comissão de Investigação do massacre de Marikana cercada de polémica política com a eleição do líder do partido governista ANC, em dezembroFoto: Getty Images
Em 16.08, a polícia atirou contra mineiros grevistas em Rustenburg e matou 34 pessoas
Em 16.08, a polícia atirou contra mineiros grevistas em Rustenburg e matou 34 pessoasFoto: AFP/GettyImages

Oficialmente, apenas teria sido confirmado que o objetivo do presidente norte-americano Barack Obama continua a ser a destruição da Al Qaeda e de seus parceiros regionais, como o AQMI.

Até ao momento, aviões não tripulados e armados são usados pela CIA, os serviços secretos dos EUA, e também pelos militares daquele país, contra campos de treinamento e abrigos de organizações terroristas no Paquistão, no Iêmen e na Somália. Por ora, nada se sabe sobre o Mali.

Ao mesmo tempo, lembra o Frankfurter Allgemeine Zeitung, ainda não foi encontrado um consenso no âmbito do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre como responder ao pedido feito, na semana passada (27.09), pelo Mali, de ajuda militar internacional ao país. "Também a liderança no Mali está dividida", diz o texto da página 6 do FAZ.

Primeiro-ministro do Mali, Modibo Diarra, durante intervenção na Assembleia geral da ONU, na semana passada
Primeiro-ministro do Mali, Modibo Diarra, durante intervenção na Assembleia geral da ONU, na semana passadaFoto: Reuters

"Depois de muita hesitação, Bamako oficializou pedido de ajuda militar à Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), mas impôs condições para essa ajuda, restringindo-a à capital Bamako e apenas para a defesa das chamadas 'instituições da República' – ou seja, do governo", recorda o texto, lembrando as palavras do atual presidente Dioncounda Traoré.

"Sem se incomodar com essas exigências, o primeiro-ministro Xeque Modibo Diarra – que quer a entrada de tropas e da força aérea francesas na disputa do norte – vê as tropas da CEDEAO a defenderem a linha de frente ao norte da cidade de Mopti, o que é ilusório ao levar-se em conta o contingente inicial de 3.500 da Comunidade", cita ainda o FAZ, que escreve ainda que "ninguém sabe que política o Exército maliano persegue, já que foram os militares que acabaram por permitir o avanço dos extremistas com o golpe de Estado em março".

"Todos os dias, mortos na rua em Goma"

É o título de uma matéria publicada em 02.10 no diário Die Tageszeitung, ao relatar a situação na capital da província do Kivu Norte, na República Democrática do Congo. Segundo a repórter Simone Schlindwein, ouvem-se tiros todas as noites na cidade.

"Os ataques acontecem todas as noites especialmente em bairros onde há soldados estacionados. Quase ninguém ousa sair à rua", diz o texto, que lembra organizações não governamentais que, na semana passada, alertaram para o perigo de sair à noite em Goma, já que polícias e soldados teriam parado automóveis das ONGs, roubando-as.

Mais de 20 suspeitos terão sido presos após esses ataques que, de acordo com o ministro do interior da RDC, Richard Muyej Mangez, levam a crer que também funcionários do Estado estariam envolvidos no tráfico de drogas e de armas no país.

Violência cotidiana em Goma, na RDC, tem participação de soldados, diz jornal "Die Tageszeitung"
Violência cotidiana em Goma, na RDC, tem participação de soldados, diz jornal "Die Tageszeitung"Foto: Reuters

"Ao mesmo tempo, Mangez culpa o governo do vizinho Ruanda pelo 'terrorismo': a RDC e as Nações Unidas culpam o Ruanda de apoiar o movimento rebelde M23, fundado em abril por desertores do Exército governamental e que constrói um Estado dentro do Estado desde então, na fronteira entre Uganda e Ruanda", lembra Schlindwein, que ainda recorda que, "desde o início da guerra, em abril, várias tropas de toda a RDC foram convocadas para combater o M23 no Kivu Norte". Somente em Goma, 6 mil soldados estão estacionados.

Mas, de acordo com o texto do Tageszeitung, desde que foi estabelecido um cessar fogo informal com os rebeldes na linha de frente a 40km ao norte de Goma, muitos dos soldados estão "ociosos. Bebem à noite em bares, não são bem pagos e aproveitam qualquer oportunidade para furtar lojas ou roubar motoristas. Os boatos dizem que eles vendem armas das casernas a civis".

Entre as medidas para combater esta situação, o ministro do Interior, Muyej Mangez, apela à população para que denuncie suspeitos de "bandidagem". Pensa-se, também, em fechar a fronteira para o Ruanda após às 18:00 locais.

Autora: Renate Krieger
Edição: Helena Ferro de Gouveia

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