Recém-desmobilizados da RENAMO vivem com medo
30 de junho de 2020Os antigos combatentes do maior partido da oposição são oriundos das regiões onde atualmente se registam confrontos entre as tropas governamentais e homens da autoproclamada Junta Militar da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), liderada por Mariano Nhongo - um grupo dissidente da guerrilha.
Bernardo João é um guerrilheiro recém-desmobilizado da base de Savane, na província de Sofala. Regressou a sua casa em Macorococho, a 13 de junho. Conta que o clima vivido na região onde mora há vários anos é de insegurança. Apesar de não ter sido alvo de ataques, João tem histórias para contar.
"Só estou a ouvir em boatos. Dizem para eu ficar atento porque os homens estão a andar e são capazes de me encontrar agora que estou na minha casa”, relata.
O ex-combatente não nega que esteja intimidado com a situação. "Hoje, na minha vinda pelo caminho, fui informado que outra vez outros três irmãos ali foram apanhados, outros foram mortos e outros não sabemos onde estão”, conta.
Medidas de segurança
Por isso, Bernardo João já está a tomar algumas medidas de segurança. Diz que esconde os documentos de identificação, incluindo o cartão de desmobilizado, e depois dorme nas matas, porque tem medo de ser raptado.
"Tenho que estar com medo, porque uma pessoa que é conhecida tem que estar assustada. Não levo os meus documentos, deixo-os escondidos e eu durmo no mato, não durmo dentro da casa”.
"Estou a ter medo com esta informação que estamos a ouvir, que estão a andar [com] os desmobilizados da RENAMO”, afirmou o recém-desmobilizado.
A delegada distrital da RENAMO em Nhamatanda, Albertina Sibanda, esteve reunida na semana passada com a maioria dos desmobilizados. No encontro foram apresentadas várias queixas. "Muitos estão a viver num ambiente de medo. No caso de Macorococho, Chiadeia, estes que vão para dentro e dormem no mato chegaram lá e não apanharam os colegas que são os delegados das localidades para os receber”, explicou a delegada distrital.
Albertina Sibanda admitiu que "a situação não está bem ao nível do distrito” e que "as forças armdas de defesa e segurança estão lá ainda no terreno a intimidar as pessoas”.
Resgate da confiança
O grupo dissidente da RENAMO está a perder efetivo para a sua investida armada. Discute-se em Moçambique se o grupo armado de Nhongo pode comprometer o acordo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR).
O presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, lamenta a ocorrência destes episódios e apela ao resgate da confiança entre o Governo e a RENAMO. Simango pede que a sociedade civil seja incluída neste tema.
"Isto é resultado de discussões fechadas e a dois. Não há comunicação com a sociedade, não há monitoria por parte dos cidadãos. A cidadania das pessoas é retirada”.
Perante esta situação, a secretária de Estado na província de Sofala, Stella Zeca, apelou ao espírito de convivência multipartidária.
A DW pediu esclarecimentos junto das autoridades policiais que se recusaram a falar, alegando não terem conhecimento destas ações.