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Homem é queimado vivo na Nigéria

Bertolaso-Krippahl, Cristina29 de outubro de 2012

A Nigéria volta a ser palco de violência. Ataque à igreja cristã e perseguição a muçulmanos resulta em mortos e feridos. Conheça os problemas desses conflitos que vão além das diferenças religiosas.

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No último domingo (28.10), um ataque com um carro armadilhado à uma igreja cristã em Kaduna, no norte da Nigéria, matou pelo menos 15 pessoas e feriu outras cem.

Uma multidão revoltada com o acontecido saiu às ruas, em busca de muçulmanos, alegadamente acusados pelo crime, e o resultado foi um homem queimado vivo. O fogo teria sido ateado com a gasolina da própria moto. Primeiro, espancado e, depois, incendiado.

Cenas como estas já não são mais raridade na Nigéria. O presidente do país, Goodluck Jonathan, voltou a condenar a violência na região. À imprensa, ele disse, dessa vez, que irá reforçar a luta contra atos de terror e de violência.

O norte e centro da Nigéria têm sido palco, nos últimos meses, de vários ataques contra cristãos, na sua maioria reivindicados pela seita islâmica Boko Haram, que quer impor a lei islâmica, a sharia, no norte.

Esses atentados aterrorizam a população na Nigéria há dois anos. Os ataques já afetaram a economia - sobretudo no norte do país. Mas o problema conjuntural tem ainda outra dimensão: há anos que a economia nigeriana depende exclusivamente do petróleo. Desta forma, outros setores económicos no norte do país acabaram sendo negligenciados.

Entenda o conflito

Desde os atentados de janeiro deste ano, o número de clientes no mercado de Kantin Kwari, por exemplo, na cidade de Kano, famosa com a venda de têxteis, está diminuindo. No início do ano, morreram quase 200 pessoas em atentados à bomba perpetrados pelos fundamentalistas da seita islâmica Boko Haram.

"Os problemas são excessivos. Muita gente não tem dinheiro e a segurança precisa urgentemente de melhorar, senão os clientes não regressam", apela Biljaminu Ahamad, comerciante de 29 anos. Sua facturação caiu para metade desde os atentados.

Não é só o mercado que sofre, mas quase todos os setores económicos do norte do país, diz Ahmad Rabiu. O homem de negócios e presidente da Câmara da Indústria e do Comércio dos Estados federados do norte da Nigéria explica que falta de segurança torna difícil aos comerciantes obter créditos bancários.

Além disso, a gestão de crises do governo central é pior para a economia do que os próprios atentados, acrescenta Rabiu, referindo-se a frequente imposição do recolher obrigatório, o encerramento das fronteiras e barreiras à livre circulação dos que paralizam o comércio.

"O nosso maior problema não é a segurança, mas o mau estado das estradas e das redes ferroviária e de eletricidade. O comboio devia ser o meio de transporte para carga pesada. Este governo e os anteriores prometeram-nos tanta coisa. Mas a rede ferroviária foi alargada pela última vez em 1968, numa operação que ainda fazia parte do planeamento colonial. Desde então, não foi acrescentado um único centímetro", esclarece Ahmed Rabiu.

Petróleo: problema ou solução

Há alguns anos que a economia da Nigéria sobre em flecha, mas isso deve-se sobretudo à exportação de petróleo. Não há qualquer diversificação económica.

As indústrias de amendoim e algodão, por exemplo, que já foram importantes para a economia no norte do país, colapsaram com o início da prospecção de petróleo nos anos 1960. O enriquecimento foi das elites políticas.

Segundo o Banco Africano de Desenvolvimento, ainda no ano passado dois terços dos nigerianos subsistiam com menos de um dólar por dia. Estimativas conservadoras colocam o desemprego em 50%.

Além disso, há uma enorme e tradicional diferença de qualidade de vida entre o sul e o norte, que agora é agravada, acredita Ahmad Muhammad Tsauni, economista na Universidade Bayero em Kanu: "Os investimentos estrangeiros recuaram por causa da situação de segurança."

Com mais de 150 milhões de habitantes, a Nigéria é o país africano com maior densidade populacional. Analistas concordam que a Nigéria é um Estado com um enorme potencial. Com o objetivo de reduzir a diferença de qualidade de vida entre as duas partes do país, o presidente Goodluck Jonathan lança uma iniciativa de fomento da agricultura e da formação para jovens no norte.

Autor: Adrian Kriesch / Cristina Krippahl
Edição: Bettina Riffel / Helena Ferro de Gouveia