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Bissau: Jovens criticam recenseamento no interior do país

Lusa
31 de dezembro de 2022

O recenseamento de moradores da capital guineense em zonas do interior do país está a motivar o descontentamento dos residentes nestes locais, temendo que a representatividade política não corresponda à realidade.

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Guinea-Bissau Bissau | Unruhen, Armee bildet Kreis um Parlament
Foto: Antonio Amaral/LUSA/EPA-EFE

Jovens da tabanca (aldeia) de Ptés, na região de Biombo, nordeste da Guiné-Bissau, criticaram esta prática que tem sido denunciada por partidos políticos.

"Aqui na nossa tabanca não vimos esse fenómeno, mas lá noutra tabanca sim, ouvimos falar deste fenómeno de pessoas que saem de Bissau para vir cá se recensear. Houve até um partido que protestou, mas o pessoal da mesa disse para recensear toda a gente desde que tenham documentos da Guiné-Bissau", disse à Lusa Ildo Té, representante do Partido da Renovação Social (PRS), o partido maioritário na zona, prometendo "vigiar o processo" em todas as localidades por onde são afixadas as mesas móveis do recenseamento.

A Lusa percorreu as localidades de Quinhamel, Bissa, Ptés e Tôr, para acompanhar o recenseamento eleitoral, que arrancou na Guiné-Bissau no dia 10 de dezembro, e ouviu, sobretudo de jovens, críticas sobre o modo como eleitores estariam a ser transportados de Bissau para aquelas paragens.

Na tabanca de Ptés, Ildo Té pede aos jovens para se inscreverem nos cadernos para que possam votar nas legislativas marcadas para 04 de junho de 2023.

Diter Gomes Indi, natural de Ptés, mas estudante numa escola em Cacheu, no norte do país, está na aldeia para passar a quadra festiva do Natal e do Novo Ano e aproveitou para se recensear com "a esperança num futuro melhor" para a sua comunidade. "O meu conselho para os meus colegas, para os jovens, é para lhes dizer que a mesa do recenseamento já está aqui na nossa tabanca. Vamos em massa recensearmo-nos para podermos ter acesso ao dia da votação para podermos expressar o que nos vai na alma", afirmou. 

Tudo para que "não fiquemos sem capacidade de votar, para podermos reclamar no futuro", observou Diter Indi.

Jovens que "se deixam enganar com dinheirinho"

Estudante para ser professor no futuro, Indi critica os jovens que "se deixam enganar com dinheirinho" para se recensear em áreas que não são da sua residência. "Posso confirmar isso, embora não o tenha visto na nossa tabanca, mas acompanhei essa informação nas redes sociais, na internet. Vi, na verdade, que jovens estão a ser transportados de Bissau para Biombo a troco de cinco mil francos CFA (7,5 euros), um dinheirinho que não serve para nada, só para vir cá recensear-se", sublinhou.

Diter Gomes Indi diz que quem aceita participar neste processo está a estragar o recenseamento por, estar a tirar lugar na fila aos nativos daquela localidade.

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Umarro Sissoco Embaló, Presidente da Guiné-BissauFoto: Afolabi Sotunde/REUTERS

Alguns partidos consideram que o movimento forçado de cidadãos eleitores constitui um prenúncio de fraude eleitoral.

Apesar das críticas dos partidos, o diretor-geral do Gabinete Técnico de Apoio ao Processo Eleitoral (GTAPE), Gabriel Djibil Baldé, afirmou que nada estipula na lei que cidadãos não possam se recensear onde bem entenderem.

O número do artigo 6.º da Lei do Recenseamento Eleitoral diz que "o cidadão eleitor deve inscrever-se no local do funcionamento das entidades recenseadoras no setor da sua residência". Mas não são apenas os jovens que têm queixas em relação ao recenseamento eleitoral guineense. Celestina Índi e Quinta Có são duas mulheres da tabanca de Ptés lamentam o esquecimento a que as zonas rurais têm sido votadas.

Se fosse só pela Quinta Có nenhuma mulher da tabanca deveria recensear-se para poder votar nas legislativas, em sinal de protesto por promessas dos políticos, "que nunca são cumpridas".

"Todos os anos vêm cá prometer que vão melhorar a nossa vida aqui na tabanca. Trazem cá arroz e outras coisas para comermos durante a campanha eleitoral, mas depois vão embora. Durante a campanha chegam cá com promessas de que vão arranjar a nossa estrada, vão colocar aqui escolas para crianças, mas nada disso acontece", afirmou a resignada Quinta, mesmo diante da mesa onde decorria o registo de outras pessoas da tabanca.

Quinta assume que está revoltada com os políticos, daí ter deixado de se recensear "já há muitos anos", uma decisão que vai manter agora. 

"Este recenseamento é para todos"

Celestina Indi até compreende as lamentações de Quinta Có sobretudo quanto às dificuldades das crianças da tabanca de Ptés, que são obrigadas a andar a pé até Pandin, comunidade vizinha, para terem aulas, mas já não concorda que as mulheres tenham de deixar de se inscrever nos cadernos eleitorais.

"Quero apelar às mulheres para virem se recensear, porque este recenseamento é para todos nós. Temos de nos recensear para podermos votar e ver como é que as coisas serão daqui para frente", defendeu Celestina Indi. Recensear e votar são as ferramentas que Celestina Indi tem para tentar inverter as dificuldades que disse enfrentar na tabanca, ainda mais com o marido desempregado, disse. "Os nossos maridos já não conseguem sustentar a casa, somos nós, as mulheres que trabalhamos para sustentar a família", defendeu Indi.

Esta é a minha cidade: Bissau

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