Guiné-Bissau: Exército não esteve envolvido no ataque
17 de fevereiro de 2022"Aquilo que aconteceu não foram as nossas forças de defesa e segurança, foi um grupo de indivíduos que assaltaram o Palácio do Governo com a intenção, certamente, de fazer um golpe de Estado", disse à Lusa esta quinta-feira (17.02) o primeiro ministro da Guiné-Bissau, Nuno Gomes Nabiam.
Questionado sobre se esta situação não vai prejudicar as relações com os parceiros de cooperação e de desenvolvimento, numa altura em que várias instituições financeiras anunciaram apoios monetários para o país, o primeiro-ministro disse que o Governo está a "passar a informação para o mundo de que o país está estável".
"Voltámos a trabalhar para isso e não há nada de alarmante. Apelamos aos nossos parceiros que venham trabalhar, que continuem a fazer os seus projetos na Guiné-Bissau, porque está tudo normal", afirmou.
"Há uma confiança total"
Ainda sobre as relações entre as instituições, Nuno Gomes Nabiam lembrou que o chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, general Biagué Na Ntan, que regressou esta semana ao país, esteve na quarta-feira (16.02) a visitar as instalações do Palácio do Governo.
"A relação entre as instituições do país está no seu ponto mais alto e estamos confiantes nas forças de defesa e segurança. Foram tão corajosos, porque não sabíamos de facto quem estava a cumprir aquela missão. Vieram, resolveram os problemas", disse, salientando que foram as forças de defesa e segurança que retiraram as pessoas do Palácio do Governo e conseguiram resgatar o Presidente, Umaro Sissoco Embaló. "Há uma confiança total", afirmou.
No dia 1 de fevereiro, homens armados atacaram o Palácio do Governo da Guiné-Bissau, onde decorria um Conselho de Ministros, com a presença do Presidente da República e do primeiro-ministro e de que resultaram oito mortos.
O Presidente guineense considerou tratar-se de uma tentativa de golpe de Estado e apontou o ex-chefe da Marinha José Américo Bubo Na Tchuto, Tchamy Yala, também ex-oficial, e Papis Djemé como os principais responsáveis.
Rusgas são um "processo normal"
Nabiam afirmou que a situação no país "está calma" e que as rusgas em curso após a tentativa de golpe de Estado são um "processo normal", pedindo aos cidadãos que não fiquem assustados.
"A situação está calma, aconteceu o aquilo que aconteceu, foi condenado a nível interno e internacional porque não há espaço para violência na democracia. Voltámos ao nosso dia a dia. O Governo está a funcionar de uma forma normal", afirmou o governante no final da reunião do Conselho de Ministros.
O Conselho de Ministros decorreu, ao contrário do que é normal, no Palácio da Presidência, mas o primeiro-ministro explicou que a sala onde por norma decorre o encontro semanal no Palácio do Governo ainda está a ser arranjada, após o ataque.
"De forma geral está tudo a andar, a justiça está a fazer o seu trabalho, esperamos com toda a tranquilidade que seja feita justiça e também apelamos que seja uma justiça que satisfaça todo o mundo, sem perseguições e outras situações", pediu Nabiam.
Golpes, uma velha prática na Guiné-Bissau
Os três homens foram presos em abril de 2013 por agentes da agência antidrogas norte-americana (DEA) a bordo de um barco em águas internacionais na costa da África Ocidental e cumpriram pena de prisão nos Estados Unidos.
Os três alegados responsáveis pela tentativa de golpe de Estado foram detidos, segundo o Presidente guineense.
Na sequência desta tentativa, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) decidiu o envio para o país de uma força de estabilização.
A Guiné-Bissau é um dos países mais pobres do mundo, com cerca de dois terços dos 1,8 milhões de habitantes a viverem com menos de um dólar por dia, segundo a ONU.
Desde a declaração unilateral da sua independência de Portugal, em 1973, sofreu quatro golpes de Estado e várias outras tentativas que afetaram o desenvolvimento do país.