Obra em parque natural guineense contra ordem do Presidente
18 de fevereiro de 2017Alfredo da Silva, diretor do Instituto Nacional da Biodiversidade e Áreas Protegidas (IBAP) e Miguel de Barros, secretário-executivo da associação Tiniguena, afirmam, em declarações à Agência Lusa que a ordem de José Mário Vaz para travar a construção da central termoelétrica foi dada há uma semana, mas ainda não foi cumprida.
De acordo com Alfredo da Silva, o chefe do Estado guineense mandou para o Parque Natural das Lagoas de Cufada, no sul do país, uma delegação multidisciplinar para proceder ao levantamento do projeto, "mas a população, instrumentalizada," não o permitiu.
A comissão tinha como missão constatar o que já foi feito em termos da construção e propor uma solução para uma eventual mudança do projeto, para outro local, fora do parque das Lagoas de Cufada.
Obras sob protestos ambientais
Considerada pelos ambientalistas a maior reserva de água doce da Guiné-Bissau, local de repouso de aves e zona estratégica de pesca, principal meio de subsistência da população do sul do país, o parque abrange uma área em redor das lagoas protegida por lei.
O Governo autorizou que uma empresa indiana construa no local uma central termoelétrica que irá abastecer o sul da Guiné-Bissau com geradores alimentados a gasóleo, facto criticado pelos ambientalistas.
Segundo o ministro da Energia, Florentino Pereira, alterar a localização do projeto do parque para outro local ou parar as obras neste momento traria "custos incalculáveis" que o Governo não poderá suportar.
O projeto da construção da central está orçado em 18,7 milhões de euros e os ambientalistas acreditam que nem foram realizados 10% da obra projetada, pelo que defendem que é possível parar e mudar do local a futura central.
Manipulação dos populares?
Segundo o diretor do IBAP, a população ameaçou destruir as viaturas em que a comissão multidisciplinar se fazia transportar e agredir os técnicos. Alfredo da Silva considera que os populares de Buba foram instrumentalizados "por alguém" e agora acreditam que os ambientalistas não querem que a central seja construída no local.
"A população foi levada a acreditar que nós queremos que a central seja agora instalada na região de Bafatá, no leste, em detrimento da população da zona sul, o que é falso", enfatizou Miguel de Barros, secretário-executivo da associação Tiniguena, que não só não compreende o posicionamento da população como o facto de a ordem do chefe de Estado ter sido ignorada.
Os ambientalistas aplaudem a intenção do Presidente guineense de travar as obras da construção da central, mas afirmam ser preciso "fazer mais", caso contrário, admitem avançar para os tribunais nacionais e internacionais pedindo a responsabilização do Estado e dos autores do projeto.