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Guerra civil em Bissau? "São jogos políticos"

Djariatú Baldé
24 de junho de 2024

Após Nuno Nabiam (APU-PDGB) lançar críticas a Sissoco Embaló, alertando para o risco de uma guerra civil na Guiné-Bissau, o analista Diamantino Domingos Lopes explica que tudo não passa de jogo político.

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 Nuno Gomes Nabiam (esq.) e Umaro Sissoco Embaló (dir.)
 Nuno Gomes Nabiam (esq.) e Umaro Sissoco Embaló (dir.)Foto: Ludovic Marin/AFP/Braima Darame/DW

Na Guiné-Bissau, a situação política está a ganhar outros contornos, com os principais lideres políticos a voltarem-se cada vez mais contra o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló. Este fim de semana, o ex primeiro-ministro e presidente do Partido APU-PDGB, Nuno Gomes Nabiam, lançou duras críticas ao chefe de Estado e afirmou que as ações do Sissoco Embaló podem levar o país a uma guerra civil.

Em declarações à DW, o analista politico Diamantino Domingos Lopes diz que o atual colapso político no país levanta, sim, essas preocupações; e se esses conflitos políticos não forem bem atendidos, podem provocar um mal-maior. Após as declarações críticas ao chefe de Estado, Nuno Nabiam teve a sua segurança pessoal retirada pelo Governo nesta segunda-feira (24.06) - sem comunicação prévia.

Diamantino Domingos Lopes (DDL): Analisando as variáveis, podemos admitir que o colapso político que se vive hoje, se não for bem atendido, pode descambar. Agora, afirmar diretamente que isto pode levar-nos a uma guerra civil levanta muitas dúvidas. Mas analisando profundamente as variáveis, os problemas políticos que se vivem no país, os conflitos latentes que se observam neste momento entre atores políticos, os eventos que se verificam ao longo do tempo, levantam esta preocupação.

DW África: Como é que podemos interpretar as últimas declarações de Nabiam?

DDL: São jogos políticos. Nuno Nabiam esteve ausente durante uns períodos de tempo. E, ao voltar, a comunidade política esperava alguma reação dele. Então, ele entrou dessa forma para aquecer ainda mais o ambiente e tirar o proveito do contexto político. Neste momento, portanto, os atores políticos estão a lutar para se afirmar politicamente.

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DW África: Nabiam foi uma das figuras que sempre apoiaram o Presidente Embaló e, de repente, virou-se contra ele. Existem outros motivos por trás desta mudanças?

DLL: O motivo de fundo é político, se houver outro motivo obscuro isto vai levar-nos a uma outra forma de análise para chegar a esse ponto. Nuno Nabiam, ao longo de três anos de Governo, nunca apareceu. Nunca assumiu o protagonismo. Sempre andou a reboque do Presidente da República, não se posicionava ou tomava decisões. Depois seguiu outras declarações, de uns contra os outros, o que levou a esta situação. Além dessa variável, temos uma outra variável que é o interesse político do Nuno Nabiam em chegar à Presidência da República.

DW África: Nabiam viu retirada a sua segurança após as declarações de críticas contra o Presidente da República. Podemos dizer que a tensão política agrava-se?

DDL: Depois das declarações de Braima Camará sobre a situação política no país, que considerou de autoritarismo a [atuação do] Presidente da República, aconteceu o mesmo. Domingos Simões Pereira: foi-lhe retirada segurança. Portanto, é algo recorrente. Há sempre uma linearidade de posicionamento político com uma resposta por parte de quem governa ou de quem dirige o país. Isso, em parte, mostra o quê? Mostra o poder e, ao mesmo tempo, revela a fragilidade de quem exatamente autoriza essa tomada de posição. Ainda não nos é claro quem é o mandante. Podemos supor que seja o Governo. Aponta-se imediatamente ao ministro do Interior.

DW África: Com esta rutura entre o Presidente da República e os seus principais aliados, podemos dizer que o Presidente está fragilizado, ou tem poderes reforçados?

DDL: Quando se perde os aliados de uma longa caminhada não se pode pensar em um poder reforçado. Claro que se pode se renovar as alianças. Mas perder a aliança de longa data tem sempre os seus efeitos efeitos negativos. Mas isso também pode servir como uma oportunidade para relançar-se politicamente e criar uma nova aliança, uma nova parceria política, para contornar a situação.

DW Africa: E qual será a solução para desanuviar a crise?

DDLTemos de dialogar seriamente e colocar o país nos eixos. E isso pressupõe respeitar a legalidade e os valores que regem a Constituição da República. São os caminhos que podemos percorrer para chegar à verdade e encontrar a solução para os conjuntos de problemas que estamos a viver. Fora desse quadro político legal, é impossível.

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