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EducaçãoAngola

Greve no ensino superior: Sindicalista volta a ser ameaçado

Laianna Janu
11 de abril de 2023

Secretário-geral do Sindicato dos Professores do Ensino Superior de Angola diz que foi ameaçado de morte e a sua casa foi vandalizada. A greve é para continuar, mas é possível "recuperar o ano académico", afirma à DW.

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Fotografia de arquivo
Foto: Borralho Ndomba/DW

O secretário-geral do Sindicato dos Professores do Ensino Superior de Angola (SINPES) diz que tem recebido uma série de ameaças, para acabar com a greve no setor.

Em entrevista à DW, Eduardo Peres Alberto conta que a sua casa foi vandalizada ontem, por pessoas desconhecidas, e que a sua filha também já foi ameaçada de morte. Mas o sindicalista afirma que não vai ceder um milímetro às ameaças e salienta que a paralisação já tem 99% de adesão. Ainda assim, o ano académico pode ser salvo - se o Governo quiser, diz Eduardo Peres Alberto.

Há dias, a ministra do Ensino Superior, Maria do Rosário Bragança, garantiu o prosseguimento do ano académico.

DW África: Que ameaças tem recebido?

Eduardo Peres Alberto (EPA): Desde 28 de março que recebo ameaças. A primeira mensagem que recebi, a 28 de março, foi a dizer que estava a ir "muito longe" com a greve. Mandaram também mensagens de ameaça para o telefone da minha filha e deixaram na minha porta uma fotografia da minha filha, que extraíram da Internet e em que acrescentaram uma cruz, como ameaça de morte.

Ontem [10.04] vandalizaram a minha casa. Quebraram o vidro de um dos quartos e, em seguida, mandaram uma mensagem à minha filha, afirmando: "Já levaram o susto, na próxima vez vamos matar". A polícia já tem os números de telefone desses bandidos, mas até aqui não os consegue encontrar.

Eles exigem o fim da greve, e o nosso único parceiro é o Governo. Se somos parceiros do Governo e assinámos um memorando de entendimento a 17 de novembro de 2021, quem é o interessado no fim da greve sem a satisfação das reivindicações dos professores do ensino superior?  [É por isso que] pensamos que há "milícias" ocultas, que podem ser do Governo… Se fossem só uns bandidos quaisquer, já teriam sido encontrados através do número de telefone.

Protesto de estudantes em fevereiro de 2022 contra a longa greve dos professores do ensino superior
Protesto de estudantes em fevereiro de 2022 contra a longa greve dos professores do ensino superiorFoto: Manuel Luamba/DW

Estamos preocupados com estas ameaças, porque eles podem mesmo matar, e a sociedade não pode ficar calada perante a violação flagrante dos direitos humanos.

DW África: Como andam as negociações com o Governo? Houve algum avanço?

EPA: Desde o dia 25 de outubro de 2022 até aqui, há um silêncio total por parte do senhor Presidente da República, João Lourenço.

Os salários praticados em Angola são miseráveis. O salário de um professor catedrático não chega aos 1000 euros – o professor universitário em Angola é um mendigo. E defendemos não só os professores universitários, como também os trabalhadores não docentes das instituições do ensino superior, porque compreendemos que não há escola sem técnicos. Portanto, salários condignos e o seguro de saúde são questões fraturantes.

DW África: Como desbloquear as negociações?

EPA: As negociações só estão a depender da vontade política do Governo. Do nosso lado, estamos abertos. Ainda que o aumento salarial seja faseado, continuamos a aguardar um convite do Governo.

DW África: Com todas essas ameaças, não pensa em recuar?

EPA: A greve é por tempo indeterminado. Angola é independente há mais de 45 anos e não podemos continuar com um ensino de má qualidade. Se o ano académico for anulado, é culpa do Governo. O Governo é que está interessado. Quem está em silêncio é o Governo.

A greve tem uma adesão de 99%. Contrariamos as declarações da senhora ministra, Maria do Rosário Bragança, que disse que há professores a trabalhar. Imagine que, num universo de 150 professores numa determinada unidade orgânica, só há 15 a dar aulas – vamos dizer que as instituições estão a funcionar em pleno?

Se houver entendimento com o Governo, podemos recuperar o ano académico. Só com um ensino superior de qualidade é que o país pode progredir.

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