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Greve à vista em Moçambique: "Os médicos estão saturados"

Iancuba Dansó
23 de julho de 2024

Médicos moçambicanos ameaçam voltar a paralisar os serviços e acusam o Governo de "negligenciar" a resolução dos problemas do setor.

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Hospital Provincial de Tete
Foto: Jovenaldo Ngovene/DW

O setor de saúde moçambicano deverá voltar a paralisar a partir da próxima segunda-feira (29.07). A Associação Médica de Moçambique (AMM) ameaçou entrar novamente em greve por 21 dias prorrogáveis se até lá não chegar a um entendimento com o Governo.

Os médicos exigem, entre outros pontos, melhores condições de trabalho e o pagamento das horas extras aos profissionais da área.

A greve deverá ter lugar numa altura em que os hospitais da capital moçambicana já enfrentam graves problemas, com a falta de medicamentos essenciais, de alimentação para os doentes e até de água em alguns serviços, segundo relatos recentes dos utentes.

Em entrevista à DW, o presidente da Associação Médica de Moçambique, Napoleão Henrique Viola, queixa-se do silêncio do Governo desde que assinaram o último acordo para o cumprimento de vários pontos em reivindicação.

DW África: Confirma o início da greve e o que está em causa?

Napoleão Henrique Viola, presidente da AMM
Napoleão Henrique Viola, presidente da AMMFoto: Romeu da Silva/DW

Napoleão Henrique Viola (NHV): A classe médica vai entrar, efetivamente, em greve a partir de 29 de julho, a partir das 07h00. Esta greve terá uma duração de 21 dias prorrogáveis, em função da avaliação que será feita passados 21 dias.

Esta greve vem na sequência da pausa do diálogo nos últimos seis meses. Após a greve do ano passado, a Associação Médica de Moçambique e o Governo chegaram a acordo. Havia uma série de aspetos que deviam [ter sido] cumpridos neste período; havia também a necessidade de aprofundar o diálogo em certas matérias que não foram objeto de consenso em agosto de 2023, altura em que terminou a segunda fase da nossa terceira greve. Não tendo havido o diálogo nem a abertura do Governo para resolver a situação, infelizmente a direção da Associação Médica viu-se forçada a voltar a paralisar as atividades, porque o Governo não se digna a sentar com a Associação Médica para discutir as matérias e encontrar soluções para os problemas atuais.

DW África: O que é que pode impedir a efetivação da greve?

NHV: A efetivação da greve só pode ser impedida com o cumprimento do que foi acordado, acho que isso é fundamental.

O acordo previa a melhoria das condições de trabalho nas nossas unidades sanitárias, que neste momento têm deficiências de medicamentos básicos- falo de antibióticos básicos, analgésicos básicos, de soros importantes, e da dextrose, que é muito importante em casos de hipoglicemia e se não é dada no momento o doente pode morrer. Faltam os meios laboratoriais para fazer o diagnóstico e há também uma saturação dos médicos.

Hospital Polana-Caniço, em Maputo
Doentes à esperam de dias difíceis nos hospitais moçambicanosFoto: Romeu da Silva/DW

Temos também o problema de pagamento das horas extraordinárias: as horas extraordinárias devem ser pagas no mês seguinte. É o próprio Estado que não está a cumprir com o previsto na lei.

DW África: Se, em situação normal, os hospitais enfrentam graves problemas, imagine-se com a greve. Como é que a associação se sente nesta situação? 

NHV: A própria população tem de compreender que os médicos fazem isso porque estão saturados. Não há coisa pior do que ter em sua frente um médico completamente saturado, que não está em condições psicológicas para fazer um tratamento digno e correto, de acordo com aquilo que a ciência médica prescreve.

DW África: Neste caso de quem é a responsabilidade?

NHV: É do Governo, na medida em que o Governo tem um contrato social com a sociedade para prestar o serviço de saúde. Mas obviamente, sabendo da responsabilidade que temos na sociedade, vamos garantir os serviços mínimos em todas as unidades sanitárias, para que nenhum paciente perca a vida ou tenha complicação irreversível por causa dos problemas sanitários.

Faltam médicos e medicamentos nos hospitais da Beira