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Moçambique não vota documento de direitos humanos

21 de maio de 2021

Moçambique não participou na ONU na votação de um documento para a prevenção de crimes contra a humanidade. O que levou representantes da sociedade civil a acusar o Estado de se ter juntado a ditaduras.

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Portugal | Mahnwache für Cabo Delgado
Vigília por Cabo DelgadoFoto: João Carlos/DW

O Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD) teceu duras críticas ao Governo do Presidente Filipe Nyusi, que não esteve presente na Assembleia Geral da ONU quando foi a voto, esta semana, um documento relativo à responsabilidade dos Estados de proteger e prevenir o genocídio, crimes de guerra, limpezas étnicas e crimes contra a humanidade.

Através da publicação de um boletim, a ONG repudiou a posição do Estado moçambicano que demonstrou, mais uma vez - afirma -  ser um país violador dos direitos humanos.

Moçambique vive, há mais de três anos, uma situação de conflito armado na região norte do país, em Cabo Delgado. O último relatório da organização de defesa dos direitos humanos, Amnistia Internacional, é apenas um de entre vários que relatam abusos na região, não só por parte dos insurgentes, como também das forças do Governo.

Mosambik Militär Training US Navy
Treinos militares em MoçambiqueFoto: Emidio Josine/AFP/Getty Images

"Conclusão forçada"

Para o analista Job Fazenda, o fato de Moçambique não ter tomado uma posição quanto à resolução da ONU não deve ser encarado como uma aceitação dessas denúncias. "Numa situação de guerra como está a acontecer em Cabo Delgado é inevitável, infelizmente, a violação dos direitos humanos", disse Fazenda em entrevista à DW África. Embora reconheça que é possível que se tenham verificado violações dos direitos humanos na área em guerra, "não podemos daí já forçar a conclusão", disse o analista.

Mas Borges Nhamire, pesquisador do Centro de Integridade Pública de Moçambique (CIP) defende que "ao escolher não votar, significa que Moçambique não está confortável com o documento em votação".

Nhamire vê uma relação direta entre a não votação e o conflito em Cabo Delgado, "onde, a qualquer momento, Moçambique pode vir a ser acusado de cometer crimes contra a humanidade. Por esse contexto, Moçambique está implicitamente a reconhecer que as suas forças de defesa e segurança podem eventualmente estar a cometer esse tipo de crimes".

Borges Nhamire, CIP-Forscher
O analista Borges NhamireFoto: DW/S. Lutxeque

Direitos humanos são para todos

Borges Nhamire sublinha que não votar na resolução não significa que Moçambique não esteja veiculado ou comprometido. O Estado moçambicano, diz, "não pode acreditar que tem carta branca para promover a violação dos direitos humanos ou cometer crimes contra a humanidade. Moçambique deve respeitar os instrumentos e trabalhar, mesmo em contexto de guerra, para garantir que tanto a população civil como os beligerantes – estamos a falar dos insurgentes -, sejam tratados como seres humanos", disse o analista.

No boletim sobre direitos humanos divulgado pelo Centro para Democracia e Desenvolvimento, a ONG repudia a atitude do Estado moçambicano e associa o país a regimes ditatoriais como o Irão, Coreia do Norte ou o Mali.