Gana vai proibir consumo de "shisha"
29 de maio de 2018Por toda a cidade de Tamale, no Gana, grupos de rapazes encontram-se regularmente para fumar shisha. Puxam do seu cachimbo de água e expelem nuvens de vapor. Husein explica que o que o atrai no consumo de shisha é ver o vapor a sair, que é mais denso que num cigarro.
"O vapor é o que nos faz optar por shisha. A forma como o vapor sai, faz-nos querer fumar mais", conta Husein.
Há uma aceitação pelo consumo de shisha em Tamale e há lojas a nascerem por toda a cidade. As autoridades de saúde estimam que o número de pessoas que fuma shisha tem vindo a aumentar. Foi por isso que tomaram a decisão de banir shisha a partir de junho deste ano.
Husein não concorda com esta medida, pois acredito que a shisha não comporta os malefícios de outras substâncias.
"Shisha é normal, é simplesmente normal. Não dá nenhuma moca ou deixa as pessoas tontas. Sente-se o sabor, o cheiro e é tudo", explica à DW.
Contudo, o médico Abdallah Yahya, que trabalha no hospital de Tamale, tem uma opinião diferente e defende que o consumo de shisha é nocivo para todo o corpo.
"Estou a dizer, acreditem ou não, mas é mau para o corpo, o cérebro, o coração, o fígado, os rins", defende Abdallah Yahya.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) também já deixou o alerta para o consumo de shisha. Diz que o fumo de apenas um cachimbo de água equivale a fumar 100 cigarros.
Decisão individual ou saúde e segurança públicas?
Os avisos de autoridades e profissionais de saúde não assustam muitos dos consumidores. Ismael vê a situação como uma escolha individual e não é a ilegalidade que vai travar o consumo.
"É exatamente como fumar erva. Não é legal mas as pessoas fumam na mesma às escondidas. Às vezes não percebo porque é que algumas pessoas querem regular tanto as vidas das outras. No fim, sou eu que vou morrer, por isso…", justifica o jovem Ismael.
Para outros, a questão não é individual, é um problema de saúde pública e segurança. Algumas pessoas incluem marijuana e outras substâncias nocivas nos seus cachimbos, e o abuso de substâncias em geral está a tornar-se mais comum. Acredita-se que associado ao aumento de consumo de drogas, cresce também a criminalidade. Muitas pessoas vivem com medo. Naa Abduallai Yakubu, chefe do conselho tradicional de Sagnarigu, no norte de Tamale, explica as suas preocupações.
"Sítios que vendem drogas estão por toda a cidade, o que se reflete no aumento de violações, de atitudes devassas, roubos e violência. É mau para a nossa juventude e até gerações futuras", explica Zakubu.
Proibição pode ter efeito nulo
Mas acabar com o consumo de shisha pode ser difícil, porque é um mercado em crescimento. Numas das chamadas "casas de shisha”, o dono, Mohammed Zuberu, conta que tem muitos clientes e que pode ver o seu negócio afetado, se a proibição acontecer mesmo.
À medida que a data em que a proibição entra em vigor se aproxima, as pessoas começam a questionar-se mais e a duvidar que a lei afete o mercado negro. Os cidadãos acreditam que o comércio e consumo de shisha vai continuar a acontecer, mas de forma mais escondida, o que pode ser ainda pior para a sociedade.