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Futuro da Somália reúne líderes da comunidade internacional

22 de fevereiro de 2012

Altos representantes de 53 governos e de organizações multilaterais estão, nesta quinta-feira (23.02), reunidos em Londres numa conferência internacional para tentar dar novo fôlego ao processo de paz na Somália .

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Soldado da União Africana em MogadíscioFoto: AP

É já no dia 23 de agosto deste ano que termina o mandato do governo somali de transição. E ninguém, no seio da comunidade internacional, está interessado que surja um vácuo de poder, naquele país do Corno de África, que há vários anos convive com a fome, a guerra civil e o terrorismo islamista.

O governo britânico, anfitrião da conferência de Londres, tem particular interesse na estabilização da Somália. Na Grã-Bretanha vivem centenas de milhares de cidadãos de ascendência somali e muitos jovens viajam mesmo de Inglaterra para o Corno de África para, de uma ou outra forma, participarem na guerra civil. Alguns inscrevem-se mesmo nos cursos de formação militar promovidos pela organização islamista Al-Shabab.

Esses jovens têm, na sua maioria, passaportes britânicos e constituem um risco para a segurança do Reino Unido, problema que, segundo peritos britânicos, tende a agudizar-se neste verão, em que Londres será palco dos Jogos Olímpicos.

Países ocidentais poderão ser obstáculo a um compromisso de paz

No processo de paz na Somália estão, pois, envolvidos muitos países: são eles, para além da Grã-Bretanha, os Emirados Árabes, a Turquia, e, claro, os Estados Unidos da América e a Etiópia, seu aliado regional.

Al-Schabaab-Miliz in Somalia
Milícias Al-Shabab na SomáliaFoto: picture-alliance/dpa

Emmanuel Kisangani, analista no Instituto para Estudos de Segurança de Nairobi, no Quénia, é de opinião que o peso político dos países ocidentais é impeditivo para se que encontre um compromisso entre as partes em conflito na Somália: "Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha rejeitam qualquer diálogo com os representantes do Al-Shabab, que consideram uma organização terrorista. Temem que essa organização terrorista ganhe alguma legitimidade”.

No entanto, explica Emmanuel Kisangani, “existem outros países mais abertos ao diálogo, lembrando que o Al-Shabab controla uma grande parte do território somali. E a sua atuação nem sempre é negativa: nalguns territórios até conseguiram aumentar a segurança e combater a criminalidade, o que, em certos casos, até agrada à população”. Mas mesmo assim, “uma coisa é certa: não há, por enquanto, qualquer solução militar para o conflito", assegura o analista do Instituto queniano para Estudos de Segurança.

Otimismo e ceticismo quanto à conferência sobre a Somália

O governo federal alemão salienta que pretende dar novos impulsos ao tema "estabilidade regional no Corno de África". O encarregado do ministério alemão dos Negócios Estrangeiros para África, Walter Lindner, descreve a perspetiva alemã: "Esta conferência de Londres acontece poucos meses antes de expirar o mandato do governo somali de transição, é certo. Mas independentemente disso, chegou o momento de afirmar: Temos que contribuir para algum progresso, 22 anos depois do início do conflito. E isso é do interesse de todos nós, porque somos nós europeus que ficamos mais lesados com a pirataria, o terrorismo ou a emigração da região.” Walter Lindner deseja que “esta conferência dê resultados concretos para o bem da Somália e de todos nós".

Somalia Armee Soldaten Mogadischu
Soldado somali patrulha ao lado de um tanque da AMISOM uma estrada a sul de MogadíscioFoto: REUTERS

Emmanuel Kisangani do Instituto para Estudos de segurança de Nairobi, mostra-se mais cético quanto à possibilidade da conferência de Londres dar respostas à pergunta que todos os observadores colocam: O que é que vai acontecer na Somália depois do dia 23 de agosto, dia em que acaba o mandato do governo de transição?

Segundo Kisangani “ninguém tem uma noção sobre o que vai acontecer em agosto. Até agora não temos qualquer elemento palpável suscetível de nos ajudar a encontrar soluções".

Financiamento em cima da mesa

Um dos temas da reunião de Londres será o financiamento da AMISOM, a missão de paz para a Somália, constituída sob égide da União Africana. O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) prepara uma nova resolução que prevê o aumento do contingente para 17.700 soldados, mas ninguém sabe ainda como financiá-lo.

Somalia Armee Soldaten Mogadischu
Forças governamentais somalisFoto: REUTERS

Os países europeus estão prontos para ajudar. Mas uma vez que nos últimos quatro anos já desbloquearam mais de mil milhões de euros para ajudar a Somália, esperam agora que outras regiões também aumentem o seu empenho.

Entre os participantes da conferência internacional, em Londres, estão o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon e a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton.

Europa “comprometida” com a Somália

O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, declarou que a Europa está "comprometida" com o processo de estabilização da Somália e que a conferência constitui uma oportunidade "muito importante" para se avançar no progresso político do país.

Somalia Premierminister Mohamed Ali Abdiweli
Primeiro-ministro somali, Mohamed Ali Abdiweli, encontrou-se com o presidente da Comissão Europeia, Durão BarrosoFoto: Reuters

As palavras de Durão Barroso foram proferidas no final de um encontro, em Bruxelas, com o primeiro-ministro da Somália, Abdiweli Mohamed Ali, nesta terça-feira (21.02).

Por seu lado, o chefe de governo somali elogiou o papel de "parceiro-chave" da Europa para o processo de estabilização do país. Mohamed Ali mostrou-se ainda otimista quanto ao facto de a conferência internacional em Londres pode fazer a "real diferença" para os cidadãos da Somália.

Somália falha na proteção de crianças

Nas vésperas do encontro com representantes internacionais para discutir o futuro político da Somália, a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) lança um olhar crítico à situação das crianças no país.

Kindersoldat Somalia Mogadischu
Criança-soldado somali, na capital MogadíscioFoto: picture-alliance/dpa

Em relatório divulgado na terça-feira (21.02), a HRW acusou as partes em conflito na Somália de falharem na proteção das crianças que lutaram ou serviram as suas forças combatentes.
Segundo a HRW, o Al-Shabab aumentou o recrutamento de crianças somalis, subiu ainda o número de casos de casamentos forçados, de raptos, de violações e de ataques a professores e escolas.

Face à precária situação de segurança das crinças, a HRW apela às forças do governo somali de transição e à AMISOM (a Missão da União Africana na Somália) que lutam contra os rebeldes Al-Shabab para libertarem as crianças soldado das suas fileiras, e para protegerem todos os menores que estiveram envolvidos em combates.

Autores: Ludger Schadomsky / António Cascais
Edição: Glória Sousa / António Rocha