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Fundação alemã vai abrir escola de hotelaria em Maputo

Costa Pinto, Maria Joao Miranda20 de setembro de 2013

Escola profissional pensada pela Fundação Cecília David Chemane vai combinar formação teórica e estágios em hotéis da capital moçambicana, para garantir um futuro estável a jovens com dificuldades financeiras.

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A partir de 2015, a Fundação Cecília David Chemane promete abrir uma porta a jovens moçambicanos com dificuldades financeiras para prosseguirem os seus estudos. A organização sem fins lucrativos, baseada na Alemanha, vai criar uma escola profissional em Maputo, inspirando-se "sistema dual" alemão: a instituição vai formar jovens nas áreas da hotelaria e gastronomia, proporcionando, ao mesmo tempo, estágios em hóteis da capital moçambicana.

Em 2009, Raul e Inês Munguambe criaram a Fundação "Cecília David Chemane" com um objectivo claro: ajudar os moçambicanos a "ajudarem-se a si próprios". A aposta na formação como o caminho para um futuro estável traduz-se num projeto para construir uma escola profissional na área do turismo.

Estudar matemática e atendimento ao cliente

A fundação espera que a escola esteja concluída e a funcionar em 2015, altura em que 60 jovens, com o 7º ano de escolaridade, poderão formar-se em hotelaria e gastronomia, de forma gratuita, estagiando, em simultâneo, em dois hotéis parceiros da organização. Desta forma, os jovens terão formação teórica e prática durante dois anos e meio de curso.

"A formação da escola será no mesmo sistema que temos aqui na Alemanha: o sistema dual", explica o moçambicano radicado na Alemanha Raul Munguambe. "Os alunos vão aprender contabilidade, matemática, a servir à mesa, etc. E como já temos dois hotéis que querem trabalhar connosco, os alunos vão estar lá e aprender a servir, a falar com o cliente, como trabalhar na recepção e como fazer limpezas".

Há 4 anos que Raul e Inês Munguambe procuram financiamento para realizar o sonho da Fundação Cecília David Chemane. Esta sexta-feira (20.09), em Berlim, tem lugar a gala anual de angariação de fundos da organização. O terreno para a escola, de 2 hectares, foi cedido pelo governo moçambicano e a construção deve começar já em dezembro. O projeto, de acordo com a fundação, será implementado por etapas, começando com um edifício escolar com 2 salas, um laboratório de informática, um salão de festas e uma padaria.

Garantir a auto-suficiência

No futuro, a organização espera conseguir expandir as instalações e tornar a escola auto-suficiente, com a ajuda da produção de pão e bolos pelos alunos, para além do alargamento das parcerias com unidades hoteleiras e restaurantes, nos quais os estudantes poderão praticar, oferecendo os seus serviços a estes estabelecimentos.

"Queremos ajudar estes jovens que não têm possibilidades de prosseguirem os seus estudos por causa da família ou por falta de dinheiro", afirma Raul Munguambe, acrescentando: "Queremos ajudá-los a terem uma profissão, para que consigam trabalhar e sustentar a sua família. Talvez, depois de fazerem este curso, já possam ir para a universidade".

Inicialmente, a escola terá duas turmas de 30 alunos escolhidos consoante a sua situação financeira, escolar e familiar. De acordo com Raul Munguambe, a selecção será feita com a ajuda do Ministério da Juventude moçambicano e de uma organização social parceira da Fundação Cecília David Chemane em Moçambique.

"Falámos com os jovens e eles vão fazer testes na nossa escola. Vamos analisar a situação familiar e o seu currículo e é assim que vamos fazer a escolha, decidir se podem estar na nossa escola", explica o responsável.

"Há desenvolvimento mas o sistema escolar não mudou"

Em 1987, Raul Munguambe saiu de Moçambique com destino à Alemanha, onde vive, desde então. E viveu de perto a realidade dos jovens seus conterrâneos que pretende agora ajudar. "Eu também tive a ocupação destes jovens que só têm o 7º ano. E quando voltei a Moçambique, com a minha mulher, vi que o país ainda não mudou. Há desenvolvimento, sim, mas o sistema escolar ainda não mudou. Muitos desanimam depois do 7º ano porque não têm dinheiro. Vimos muitos jovens a trabalhar na machamba, a cultivar, a vender, mas não aprenderam um ofício. São ajudantes e, por isso, não têm um salário suficiente para sustentar a família".

"Horizontes abertos" é o lema da gala de angariação de fundos deste ano da fundação. E é de mente aberta que a organização parte para a construção desta escola profissional. A hotelaria foi a escolha óbvia para começar, consideram os responsáveis, já que o turismo é uma área em crescimento em Moçambique. Mas não querem ficar por aqui. No futuro, esperam conseguir formar cerca de 600 jovens por ano e oferecer cursos também na área da carpintaria, construção civil, comercial e seguros.