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Moçambique: Há uma "mão oculta" na fuga dos detidos?

27 de dezembro de 2024

Polícia moçambicana associa as rebeliões nas prisões às manifestações e vandalismos. A ministra da Justiça diz que essas ações se iniciaram dentro das cadeias. Analista diz que é um caso estranho e que deixa dúvidas.

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Manifestantes atacaram um posto policial em Maputo
Analista diz que a fuga dos reclusos é um caso "estranho" para desviar atençõesFoto: Romeu da Silva/DW

As rebeliões nas cadeias moçambicanas ganham cada proporções preocupantes e parecem alastra-se para todas as províncias moçambicanas. A imprensa moçambicana relata fugas em seis cadeias noutras províncias, com número exato de mortos ainda por apurar.

Na quarta-feira (25.12), na capital moçambicana, pelo menos 1.534 reclusos evadiram-se da Cadeia Central de Maputo, de máxima segurança, disse o comandante-geral da polícia, Bernardino Rafael.

Analista ouvido pela DW, diz que o aconteceu nas prisões de alta segurança em Moçambique é um caso "estranho" e "mal explicado" pelas autoridades competentes, disse o político moçambicano Muhammad Yassine. O também académico estranha o facto de a prisão de alta segurança não ter dado nenhum alerta antecipado da possível fuga de presos de alta perigosidade.

"Como é que sai de uma cadeia de alta segurança mais de 1.500 pessoas sem que se ouve dizer que violentaram alguns guardas, polícias ou até o pessoal de segurança que normalmente trabalha dentro destas cadeias?! Eu acho isso muito estranho", afirmou.

O caso resultou em mais de 40 vítimas mortais segundo a imprensa moçambicana. Segundo o Comando-geral da Polícia de Moçambique tratou-se de uma ação "premeditada" e da responsabilidade de manifestantes pós-eleitorais.

Muhammad Yassine faz uma leitura diferente das versões contraditórias das autoridades. "Tenho dúvidas que não seja uma ação propositada, de quem tem o poder de assim o fazer, para desviar atenção inicial das manifestações resultantes da crise eleitoral".

Polícia moçambicana
Bernardino Rafael, comandante-geral da polícia de MoçambiqueFoto: Amós Fernando/DW

Manifestantes facilitaram à fuga?

Outro analista moçambicano, Calton Cadeado, concorda que os manifestantes que protagonizam atos de vandalismos têm uma quota parte de responsabilidade na fuga dos reclusos.

"Está mais do provado que foi a ação dos vandalismos que resultaram na libertação de presos", começou por dizer o Cadeado que viu nas ações dos manifestantes "uma intensão clara de criar desordem através de instrumentação".

Calton Cadeado argumenta que a situação chegou a esse ponto porque fugiu ao controlo da liderança que convocou as manifestações de rua contra os resultados eleitorais.

Quando perguntado quem sai a ganhar com a fuga dos presos no contexto da crise eleitoral, o académico moçambicano foi perentório em dizer que "esta desordem politicamente não beneficia a quem está no poder, mas também beneficia, em parte, quem está a lutar pelo poder - ao mesmo tempo que ilegítima qualquer luta pela ascensão do poder por via de força ou da desordem."

Isso significa que o candidato presidencial Venâncio Mondlane, dado como derrotado nas eleições pelas entidades competentes, possa ser responsabilizado? Não, responde Muhammad Yassine, que não vê pontes entre contestações dos resultados eleitorais e a evasão dos prisioneiros.

"A ministra da Justiça [Helena Kida] na sua forma atabalhoada de dar a resposta sobre essa ligação, retirou essa responsabilidade ao dizer que a rebelião iniciou-se dentro das prisões."

Maputo, Moçambique
Caos em Moçambique no contexto dos protestos contra os resultados eleitoraisFoto: AMILTON NEVES/AFP

Há vítimas mortais, mas não há demitidos

Yassine estranha que até hoje o Governo moçambicano não puniu ninguém da sua administração pelos atos que estão a acontecer. "Não demitiu nem os diretores das cadeias, nem os seus superiores".

Numa intervenção a partir da rede social Facebook, Venâncio Mondlane acusou as autoridades de terem propositadamente deixado sair estes reclusos, com o objetivo de manipular as massas e desviar o foco da sociedade.

"Foi tudo propositado. São técnicas de manipulação de massas à moda dos serviços secretos soviéticos (…) para que as pessoas parem de falar na fraude eleitoral. Querem desviar o nosso foco", declarou Mondlane, acusando também as autoridades de terem "sacrificado" alguns dos reclusos evadidos.As dúvidas persistem sobre as fugas registadas e mortes ocorridas na sequência... As explicações contraditórias do Governo não ajudaram a esclarecem o caso. Enquanto, isso o país vive dias de caos nas ruas, na sequência do anúncio dos resultados finais das eleições gerais, com saques, vandalizações e barricadas, nomeadamente em Maputo.

DW Mitarbeiterportrait | Braima Darame
Braima Darame Jornalista da DW África