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Meio AmbienteMadagáscar

Fome em Madagáscar gera alerta global

Jana Genth | Reuters | mc
18 de outubro de 2021

Agências internacionais alertam que alterações climáticas estão por trás da pior seca em décadas, mas pedem medidas para melhorar o abastecimento de água. Camponeses comem o que encontraram: insetos, barro e até couro.

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Madagaskar Fluß Mandrare
Foto: Laetitia Bezain/AP photo/picture alliance

As pessoas vão à procura da água possível. Cavam buracos profundos no leito de um rio agora seco, onde o Mandrare costumava correr. Toda a região de Amboasary, no sul de Madagáscar, está a sofrer de fome. A Agro Action contabiliza cerca de 1,3 milhão de pessoas em situação de insegurança alimentar.

"Os níveis de subnutrição estão entre os piores do mundo. Meio milhão de crianças estão subnutridas, e mais de um quinto delas estão gravemente subnutridas", explica Kenneth Bowen, diretor do escritório alemão da ONG.

Há seis anos que não chove. Hova vive na aldeia de Ambarobe, na região mais afetada. A situação que descreve é a mesma vivida por outras famílias. "Já não comemos há três dias. Não temos dinheiro, por isso não comemos. Não temos nada para vender. Estamos todos com fome, eu estou com fome. Os meus filhos estão a chorar porque estão com fome".

Desesperadas, as pessoas comem tudo o que encontraram: frutos de sabor amargo, raízes, ervas e folhas, gafanhotos e baratas, por vezes até barro e couro. Muitos venderam tudo o que tinham para conseguir algum dinheiro para comprar arroz ou batata-doce.

Falta d'água

Mas Berengere Guais, que está em Madagáscar com os Médicos Sem Fronteiras, diz que o problema é mais vasto.

"Não se trata apenas de comida, mas também de água. Não há absolutamente chuva. O principal problema é que simplesmente não chove de todo. Se não houver tentativa de melhorar o abastecimento de água à população, a situação não irá melhorar nos próximos meses"

Aqueles que vivem em Madagáscar dificilmente podem escapar às dificuldades. Afinal, o estado insular no Oceano Índico é distante dos países vizinhos. A região enfrenta a pior seca dos últimos 40 anos

Madagaskar I  Hunger
PAM tenta fornecer o básico para a população afetadaFoto: RijasoloAFP/Getty Images

O Programa Alimentar das Nações Unidas (PAM) está a trabalhar para distribuir alimentos essenciais a mais de um milhão de pessoas e quer também ajudar a população a lidar com os efeitos das alterações climáticas.

Várias agências da ONU advertem há alguns meses que há uma vaga de fome provocada pelas alterações climáticas, que estariam a assolar também a ilha do Oceano Índico. "A situação no sul do país é realmente preocupante", disse Alice Rahmoun, uma porta-voz das ONU à agência Reuters.

O Presidente Andry Rajoelina responsabiliza o aquecimento global pela situação de seca que o país atravessa, conforme deixou claro durante um discurso nas Nações Unidas feito recentemente.

"Os meus compatriotas do sul estão a carregar o fardo das alterações climáticas que não ajudaram a causar. Esta crise está a forçar-nos a mudar o nosso paradigma. Se não fizermos nada, a situação continuará e agravar-se-á", disse o chefe de Estado.

Iles eparses | Madagaskars Präsident Andry Rajoelina
Rajoelina: "Estão a carregar o fardo das alterações climáticas"Foto: picture-alliance/dpa/TASS/A. Novoderezhkin

Migração massiva

Muitas pessoas seguiram para região norte e são refugiados climáticos no seu próprio país. O governo distribuiu parcelas de terra em zonas onde ainda chove e muitas organizações já estão a trabalhar há meses.

Madagáscar encontra-se atualmente num momento crítico: é a altura do ano em que as pessoas estão a lavrar os campos e as próximas semanas irão mostrar se serão capazes de colher alguma coisa no próximo ano. A chuva, no entanto, ainda não está à vista.

Rajoelina apelou aos países ricos a apoiarem o país não apenas com ajuda alimentar, mas também com sementes ou a construção de poços e outras infraestruturas.

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