Florbela Malaquias propõe "humanizar Angola"
17 de julho de 2022Florbela Malaquias é única mulher a disputar as presidenciais angolanas deste ano. Mas a segunda, na história do multipartidarismo no país e em 47 anos de Independência.
Nasceu a 26 de janeiro de 1959, no seio de uma família política oriunda da região sul de Angola, no Luena, sede da província do Moxico, o último reduto da guerra civil terminada em 2002.
Florbela Catarina Malaquias, também tratada por Bela Malaquias ou simplesmente Bela para os mais próximos, entra para política muito cedo, ainda criança.
Aliás, o pai, um antigo escriturário dos Caminhos de Ferro de Benguela, foi um combatente pela luta de libertação nacional e, por isso, preso várias vezes pela PIDE-DGS, a então polícia política do regime colonial português.
Apesar de ter nascido no final da década de 50, época da efervescência política e constituição dos movimentos de libertação nacional, diz que teve uma infância muito feliz.
"Então, tive uma infância no Luena muito tranquila, muito harmoniosa, muito feliz. Foi a melhor parte da minha vida", contou à DW África.
Mas detenção do seu pai, Nelson Malaquias, acusado de conspirar contra as autoridades instituídas, mudou o curso da sua infância em Luana.
Passagem pela UNITA
Nelson Malaquias foi um dos cabecilhas que esteve na base da criação das primeiras células da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA) no Moxico.
Transferido de cadeia em cadeia, Bela e a mãe, Amélia Malaquias, incluindo os cinco irmãos, chegaram mesmo a seguir o pai, quando este foi transferido definitivamente para o campo de concentração de São Nicolau, na província do Namibe, um centro prisional a céu aberto que no passado era utilizado para torturar os nacionalistas.
"Ele foi transferido para Nova Lisboa (Huambo), depois foi para Missumbo, depois foi para prisão de São Nicolau, para onde depois nós fomos todos”, lembra Bela Malaquias, adicionando que "também já estive num campo de concentração."
Pouco depois, Bela Malaquias envolve-se diretamente na luta pela independência, integrando a causa da UNITA, logo nos primórdios da sua fundação.
É autora do hino da Liga da Mulher Angolana (LIMA), o braço feminino da UNITA. Foi uma das primeiras jornalistas da VORGAN, a Voz da Resistência do Galo Negro, onde era locutora dos noticiários e apresentava alguns programas informativos.
"Divórcio” com a UNITA
Ao longo do tempo, incompatibilizou-se com Jonas Savimbi, o então líder "sanguinário”, com ela própria o carateriza.
Em causa, tal como conta no seu livro Heroínas da Dignidade, as perseguições contra a sua família e os ajustes de contas levadas acabo por Savimbi, que culminou com um dos maiores genocídios ocorrido em Angola, "onde várias mulheres e bebes foram queimadas vivas", relata Bela Malaquias.
O episódio que teve lugar na Jamba, então capital política e militar do antigo movimento de guerrilha, ocorreu no dia 7 de Setembro de 1983, no que ficou conhecido como a "Queima das Bruxas" ou "Setembro Vermelho".
Já em Luanda, depois de escapar à morte na Jamba, integra a redação da Rádio Nacional de Angola, primeiro como locutora e, mais tarde, ocupa o cargo de administradora executiva.
A ideia de algum dia poder concorrer à presidência de Angola não é de hoje. E 2022 ficará marcado na sua história. Estreia-se como candidata às presidenciais angolanas. E pela frente terá sete homens como adversários nesta corrida.
Humanizar Angola
À DW África, Bela Malaquias explica que decidiu participar desta corrida, para "poder alterar o rumo do país e da sociedade”.
"Nós temos uma sociedade e um país a se tornar cada vez mais miseráveis, e miseráveis em todos os sentidos do ponto de vista material, moral e espiritual”, observa a candidata.
Para Malaquias é preciso que alguém faça alguma coisa para contrariar essa tendência. "Sente-se que os angolanos estão exaustos com esse prolongamento de tempo de sofrimento."
O Partido Humanista Angolano, de Bela Malaquias, fundado a três meses das eleições gerais, diz que maioria dos 30 milhões de angolanos andam marginalizados, por isso, se propõe "a humanizar o país".
"A nossa proposta é humanizar Angola e é espectável que todos os sofredores, explorados e desiludidos, queiram um movimento de humanização do país”, advoga Malaquias, justificando que "a maioria dos os mais de 30 milhões de habitantes angolanos, está marginalizada”.
"Então, é preciso que se ponha termo a isso. É isso que me anima a concorrer as eleições”, revela Bela Malaquias.
Casada e mãe de cinco filhos, Florbela Catarina Malaquias, é licenciada em Direito, pela Universidade Agostinho Neto (UAN), e Mestre em Ciências Jurídico-Empresariais.
Advogada e antiga jornalista, nos últimos tempos tem se dedicado a escrever o seu livro de memorias, tendo, em 2019, lançado o primeiro volume intitulado Heroínas da Dignidade.