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DesportoAngola

Angola: Falta tudo no futebol feminino no Cuando Cubango

Adolfo Guerra (Menongue)
11 de abril de 2022

Jogadoras e treinadores estão revoltados com o abandono do Governo relativamente ao futebol feminino na província do Cuando Cubango. Além da falta de apoios, lamentam riscos associados às fracas condições de segurança.

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Angola | Frauenfußballspiel in Menongue
Foto: Adolfo Guerra/DW

Inácio Viemba Lievela "Wadda", treinador do clube de futebol feminino Nacional do bairro popular, em Menongue, Cuando Cubango, lamenta a falta de apoio do Governo em relação àquela entidade desportiva. "É a força e a vontade que nos faz partilhar o nosso salário para ajudar a juventude para não enveredarem pela delinquência", diz.

Este treinador partilha os seus ganhos para sustentar a equipa, que existe há 17 anos, mas essa ajuda não chega. Neste momento, o estádio está degradado e já não tem condições de segurança.

"Ao fazer um remate a bola pode ir para cima de casas, embater no vidro de uma viatura... Na disputa da bola, alguém pode ir contra a parede ou, pior, cair na estrada e ser atropelado", adverte.

Falta de condições do campo de futebol do Nacional, em Menongue, coloca jogadoras e transeuntes em risco
Falta de condições do campo de futebol do Nacional, em Menongue, coloca jogadoras e transeuntes em riscoFoto: Adolfo Guerra/DW

Obras não avançam

Apesar dos vários lançamentos de pedras que pretendiam simbolizar o início da requalificação dos campos de futebol, enquadrados no Programa Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), até ao momento a reconstrução do espaço não começou. 

"Na nossa província, o Governo não valoriza o desporto feminino. Tenho a certeza que temos muitas jogadoras com qualidade para serem convocadas para a nossa seleção de futebol feminino e participar noutros torneios", considera Joana Jamba da Conceição, jogadora do Nacional do bairro popular. 

Paulino Vihinga Manuel é outro treinador de futebol e fundador do Desportivo 07 Menongue, criado há nove anos. Lamenta o estado do futebol feminino e o silêncio do executivo. 

"No torneio alusivo à cidade de Menongue que participámos no ano passado, houve uma doação de equipamentos, mas [segundo a] lei desportiva não é permitido usar 11 camisas dadas sem suplentes em jogos oficiais, muito menos para treinos... A norma impõe 30 camisas e calções. E 11 camisas vão servir para quê?", questiona.

Jogadoras do Nacional e do Menongue FC preparam-se para mais um jogo
Jogadoras do Nacional e do Menongue FC preparam-se para mais um jogoFoto: Adolfo Guerra/DW

O também professor do complexo escolar 07 do bairro popular garante que o seu esforço e de outros membros da sua equipa para continuar a congregar jovens é igualmente social.

"Às vezes passamos meses sem levar nada para alimentar a família para conseguirmos adquirir material desportivo. Nós não ensinamos apenas a prática do desporto, mas também como se devem posicionar e encarar a sociedade", comenta o treinador.

Falta de interesse do Governo

João Marcos Honda, coordenador dos Amigos da Bola no Cuando Cubango, uma organização juvenil que incentiva a prática de desporto e do futebol feminino em particular, mostra-se cético quanto a um possível envolvimento do Executivo da província. 

"Nós não temos a quem recorrer e isto tem-nos obrigado mesmo a sacrificar os nossos salários para comprarmos os troféus e tudo aquilo que está relacionado com a própria organização", admite.

Honda lamenta que a falta de interesse e apoio na província se estenda aos órgãos de comunicação social que não divulgam os torneios.

O jovem apela ao Executivo para legalizar os clubes femininos, para conseguirem apoios da Federação Internacional de Futebol (FIFA), porque o material desportivo no Cuando Cubango é muito caro – só uma bola custa 20 mil kwanzas (o equivalente a 42 euros).

A DW tentou contactar, sem sucesso, o Departamento de Juventude e Desporto do gabinete provincial da Cultura, Turismo, Juventude e Desporto.

Promover a inclusão social das meninas através do futebol