Exército moçambicano ainda não retomou controlo de Palma
31 de março de 2021O vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Moçambique, Bertolino Jeremias Capitine, disse esta terça-feira (30.03) a um grupo de jornalistas em Afungi, perto de Palma, que soldados de várias especialidades estão a tentar acabar com os pontos de resistência jihadista que ainda persistem na cidade.
O exército está a postos e espera que a população deslocada por causa da violência possa em breve regressar à cidade, disse ainda Capitine.
"Eram centenas, vindos de vários lados da cidade, e tivemos de fugir porque havia apenas mais ou menos 35 soldados no posto militar", relatou um dos militares feridos no ataque, em declarações à Agência Efe.
Feridos e sem transporte, resolveram esconder-se nas florestas de Palma, onde sobreviveram até serem resgatados no sábado pelo exército, contou o mesmo soldado. Foram depois levados para as instalações da companhia petrolífera francesa Total em Afungi, de onde foram transportados para um hospital, embora um civil tenha morrido no voo.
Outro soldado ouvido pela Efe descreveu o ataque como "um massacre". Segundo o militar, foi preciso sair à pressa de um posto de intervenção rápida, onde haviam recebido armas e munições recentemente.
Depois de ter dado prioridade aos quase dois mil trabalhadores e subcontratados do multimilionário Projeto LNG da Total, as equipas de resgate começaram a retirar os habitantes de Palma.
Sociedade civil pede apoio internacional
Dezoito organizações da sociedade civil moçambicana exigiram ao Presidente da República, Filipe Nyusi, que "acione" pedidos de apoio internacional para combater os grupos armados no norte do país, considerando que a situação atingiu "proporções inaceitáveis". Pedem igualmente a valorização e reconhecimento dos jovens militares que tentam a todo o custo travar ação dos grupos armados.
A posição das organizações da sociedade civil (OSC) surge numa carta aberta dirigida a Filipe Nyusi, nais quais pedem que o chefe de Estado "acione apoio da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral [SADC], União Africana (UA) e outros parceiros internacionais" para o combate aos grupos armados que protagonizam ataques na província de Cabo Delgado.
Face ao ataque de grupos armados à vila de Palma, que se iniciou na quarta-feira (24.03) da semana passada, as organizações defendem o resgate de crianças, raparigas e mulheres que se encontram nas mãos de insurgentes.
"Exigimos informação regular e atempada pelo chefe de Estado sobre a situação de Cabo Delgado, informação exata e desagregada por género e faixa etária das populações afetadas, entre deslocadas, assassinadas e raptadas", lê-se no documento.
A sociedade civil moçambicana quer também informação regular do Governo sobre as condições nos locais de acolhimento das populações vítimas de violência armada. Deve ainda ser criado um espaço de diálogo com a sociedade civil visando a coordenação de ações de resposta à crise humanitária provocada pelos grupos armados.
No ataque do passado dia 24, em Palma, dezenas de civis foram mortos, segundo o Ministério da Defesa moçambicano. A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes. O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia.