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PolíticaIsrael

Exército israelita diz que Gaza é agora "campo de batalha"

Lusa
28 de outubro de 2023

Israel avisou, este sábado, que guerra entrou em nova etapa e que as suas tropas "atacaram [o Hamas] acima do solo e no subsolo".120 países da ONU pediram trégua humanitária em Gaza.

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Exército israelita diz que Gaza é "campo de batalha" Foto: Ohad Zwigenberg/AP Photo/picture alliance

O exército israelita avisou, na tarde deste sábado (28.10), que considera a cidade de Gaza e a região circundante como um "campo de batalha" e ordenou aos residentes que "partam imediatamente" para o sul, através do rio Wadi Gaza. 

"A província de Gaza tornou-se um campo de batalha; as zonas de abrigo e toda a província não são seguras", lê-se nos folhetos que o exército israelita afirma ter lançado no território palestiniano, de acordo com a agência francesa de notícias, a France-Presse (AFP).  

"Devem partir imediatamente para as zonas a sul de Wadi Gaza", o rio que atravessa o território de leste a oeste, acrescenta-se ainda no texto da AFP. 

"Solo tremeu em Gaza"

O ministro da Defesa de Israel já havia afirmado, este sábado, que "o solo tremeu em Gaza" e que a guerra contra o Hamas entrou numa nova etapa. 

"Na noite passada [sexta-feira], o solo tremeu em Gaza. Atacamos acima do solo e no subsolo. (...) As instruções para as forças são claras. A campanha continuará até novo aviso", disse o ministro da Defesa, Yoav Gallant, em declarações divulgadas pelos meios de comunicação israelitas. 

Israel Politik Yoav Gallant
Yoav Gallant, ministro da Defesa de IsraelFoto: Maya Alleruzzo/AP/picture alliance

As suas declarações marcam a aceleração gradual rumo a uma possível ofensiva terrestre total no norte de Gaza. 

Militares israelitas divulgaram, este sábado, vídeos a mostrar colunas de veículos blindados movendo-se lentamente em áreas de Gaza, a primeira confirmação visual de tropas terrestres, além de aviões de guerra que bombardearam dezenas de túneis e 'bunkers' subterrâneos do grupo islamita palestiniano Hamas.

As Forças de Defesa de Israel (IDF) também fizeram saber que um ataque com caças levou à morte do chefe do comando aéreo do Hamas, Ezzam Abu Raffa, que terá participado no planeamento do ataque de 07 de outubro.

Apagão em Gaza

Segundo a mesma fonte, entre a noite de sexta-feira e este sábado, aviões de guerra atingiram 150 túneis e 'bunkers' subterrâneos no norte de Gaza. Israel também interrompeu as comunicações, isolando em grande parte o contacto com o mundo exterior dos 2,3 milhões de pessoas sitiadas em Gaza. As tentativas de entrar em contacto com estes residentes por telefone não tiveram sucesso na manhã de hoje.

Gaza: Apelos para "pausas e corredores humanitários"

Por seu lado, a Defesa Civil palestiniana fez saber que centenas de edifícios ficaram "completamente destruídos" e milhares de outras casas ficaram danificadas", na sequência dos bombardeamentos israelitas realizados durante a noite de sexta-feira.

O bombardeamento intenso desencadeado durante a noite "mudou a paisagem de Gaza e das províncias do norte", disse à Agência France Presse (AFP) Mahmoud Bassal, porta-voz da Defesa Civil em Gaza.

De acordo com testemunhos recolhidos pela AFP, os bombardeamentos israelitas mais violentos concentraram-se nas zonas em redor de dois hospitais, o al-Shifa na cidade de Gaza e o chamado hospital "indonésio", construído com donativos da Indonésia, no setor de Jabaliya, mais a norte. 

"Novo nível de violência e dor"

Num comunicado, publicado na tarde deste sábado, as Nações Unidas escrevem que o conflito entre Israel e o Hamas alcançou "um novo nível de violência e dor" desde que as forças israelitas intensificaram os bombardeamentos.

O bombardeamento de infraestruturas de telecomunicações em Gaza e o seu isolamento do mundo exterior "põe a população civil em grave perigo", disse o alto comissário da ONU para os Refugiados, Volker Türk, acrescentando que o 'apagão' dificultará, entre outras coisas, a busca por vítimas entre os escombros, por parte das equipas de resgate. 

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População de Gaza está incontactável desde sexta-feiraFoto: Abed Khaled/AP Photo/picture alliance

Além disso, "os civis não podem receber informação atualizada sobre onde podem aceder a ajuda humanitária", nem de quais são os lugares mais e menos perigosos no território, explicou o alto comissário. 

Os jornalistas no interior de Gaza também já não podem informar acerca da situação naquele território palestiniano, acrescentou Türk, antes de manifestar preocupação quanto aos trabalhadores do próprio Alto-Comissariado da ONU, com os quais já perdeu o contacto. 

Também o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou, numa publicação na plataforma X, que os relatos dos intensos bombardeamentos em Gaza são "extremamente angustiantes" e que o apagão também está a tornar "impossível que as ambulâncias cheguem aos feridos".

Em comunicado, a OMS diz também não ter conseguido comunicar com o seu pessoal em Gaza, tal como aconteceu com outras agências, e que está a tentar obter informações sobre o impacto global dos bombardeamentos na população civil e nos cuidados de saúde.  

"A OMS apela à humanidade de todos os que têm poder para o fazer, para que ponham fim aos combates agora, em conformidade com a resolução da ONU adotada ontem [sexta-feira], que pede uma trégua humanitária, bem como à libertação imediata e incondicional de todos os civis mantidos em cativeiro". 

Famílias de reféns exigem explicações

Também as famílias dos reféns do grupo Hamas, detidos na Faixa de Gaza, exigiram hoje explicações ao Governo de Telavive.

"As famílias estão preocupadas com o destino dos seus entes queridos e aguardam explicações. Cada minuto parece uma eternidade. Exigimos que o ministro da Defesa, Yoav Gallant, e os membros do gabinete de guerra se reúnam connosco esta manhã", refere um comunicado da associação que reúne as famílias de mais de 220 reféns sequestrados pelo Hamas em 07 de outubro.

Esta sexta-feira, numa reunião com o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Hossein Amir-Abdollahian, o secretário-geral da ONU, António Guterres, sublinhou "a importância da contribuição iraniana para a libertação incondicional e imediata" dos reféns do Hamas.

ONU pede trégua humanitária

A Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU) aprovou na noite desta sexta-feira (27.10), com 120 votos a favor, 14 contra e 45 abstenções, uma resolução que apela a uma "trégua humanitária imediata, duradoura e sustentada" em Gaza e à rescisão da ordem de Israel para deslocação da população para o sul do enclave .

Reagindo à votação, o embaixador israelita na ONU, Gilad Erdan - que na terça-feira pediu a demissão do secretário-geral António Guterres - voltou a desqualificar a organização.

120 países da ONU pedem trégua humanitária em Gaza
120 países da ONU pedem trégua humanitária em GazaFoto: Bebeto Matthews/AP Photo/picture alliance

"Hoje é um dia negro para a ONU e para a humanidade", porque "a maioria da comunidade internacional mostrou que prefere defender os terroristas nazis do Hamas em vez do Estado de Israel, que cumpre as leis para defender os civis", disse.

Já o movimento Hamas saudou a resolução da Assembleia Geral da ONU.

Apesar de não ter caráter vinculativo, esta resolução carrega um peso político e mostra o posicionamento da comunidade internacional em relação à forma como Israel está a conduzir a sua guerra contra o grupo islamita Hamas.

Votaram contra este texto países como Israel, Estados Unidos, Áustria ou Hungria e entre os países que se abstiveram estão Ucrânia, Reino Unido, Canadá, Alemanha, Iraque ou Albânia ou Cabo Verde. Com exceção de Cabo Verde, que se absteve, e São Tomé e Príncipe, que não registou o seu voto, todos os restantes países lusófonos votaram a favor desta resolução.

Também esta sexta-feira, o Conselho Europeu apelou a "pausas humanitárias" para fazer chegar à população palestiniana a ajuda de que necessita.