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ConflitosEtiópia

Etiópia vai criar comissão de diálogo nacional

Lusa | DW (Deutsche Welle)
30 de dezembro de 2021

O Parlamento etíope aprovou um projeto de lei para criar uma comissão de diálogo nacional, face à pressão internacional por negociações que ponham fim ao conflito que se prolonga há já 13 meses em Tigray.

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Primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, no ParlamentoFoto: Ethiopian Prime Minister Office

Na quarta-feira (29.12), os legisladores etíopes aprovaram por esmagadora maioria a criação da comissão, com 287 votos a favor, 13 contra e uma abstenção. "O estabelecimento da comissão abrirá caminho para o consenso nacional e manterá a integridade do país", lê-se no projeto de lei.

A comissão, cuja criação foi prometida pelo governo do primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, destina-se a estabelecer consensos sobre questões controversas.

Porém, a comissão não contactará para já a Frente Popular de Libertação do Povo Tigray (TPLF) ou o Exército de Libertação Oromo, com os quais o Exército governamental se confronta há 13 meses, organizações que foram declaradas como terroristas pelo Governo etíope.

A exclusão das fações que têm combatido o exército federal tem sido criticada por especialistas.

Pressão internacional

A criação da comissão significa um esforço de Adis Abeba para responder aos apelos persistentes da comunidade internacional para um cessar-fogo e diálogo inclusivo para resolver o conflito, considera Tsedale Lemma, presidente do conselho de administração da Jakenn Publishing, que edita o Addis Standard.

"Quando a comunidade internacional requer a realização de um diálogo inclusivo para lidar com o agravamento da crise da Etiópia, não há ambiguidade sobre a necessidade de tal diálogo ser verdadeiramente inclusivo, tendo várias partes interessadas, incluindo grupos armados, como parte do processo", acrescentou Tsedale, citado pela agência noticiosa Associated Press.

Crise humanitária intensifica-se no norte da Etiópia

Até agora, o Governo de Abiy Ahmed tem-se mostrado inflexível quanto a não negociar com grupos armados, acrescentou.

A embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) em Adis Abeba continua a instar os seus cidadãos que desejam deixar o país a fazê-lo em voos comerciais.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, falou com o Presidente queniano, Uhuru Kenyatta, sobre a situação na Etiópia. "Eles concordaram com a necessidade urgente do fim das hostilidades, garantia de acesso humanitário, fim dos abusos e violações dos direitos humanos e uma solução negociada para o conflito", disse hoje o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Ned Price.

Interferência do Ocidente

As autoridades etíopes continuam a protestar que os EUA e outros países ocidentais estão a interferir nos assuntos internos do país. "Esses países, especialmente os EUA, apoiam a TPLF, além de pressionarem a Etiópia", considerou hoje Zadig Abrha, funcionário do gabinete do primeiro-ministro etíope.

A guerra eclodiu em 4 de novembro de 2020, quando Abiy Ahmed - laureado com o prémio Nobel da Paz em 2019 -, enviou o Exército federal para Tigray com a missão de retirar pela força as autoridades da província, governada pelas TPLF, que vinham a desafiar a autoridade de Adis Abeba há muitos meses.

O pretexto específico da invasão foi um alegado ataque das TPLF a uma base militar federal no Tigray, e a operação foi inicialmente caracterizada por Adis Abeba como uma missão de polícia, que tinha como objetivo restabelecer a ordem constitucional e conduzir perante a justiça os responsáveis pela sua perturbação continuada.

Abiy Ahmed declarou vitória três semanas depois da invasão, quando o Exército federal capturou Mekele. Em junho deste ano, porém, as forças afetas às TPLF já tinham retomado a maior parte do Tigray, e continuaram a ofensiva nas províncias de Amhara e Afar.

O conflito na Etiópia provocou a morte de vários milhares de pessoas e fez mais de dois milhões de deslocados, deixando ainda centenas de milhares de etíopes em condições de quase fome, de acordo com a ONU.