Maputo tenta retomar normalidade com reforço policial
22 de outubro de 2024A capital moçambicana tenta hoje (22.10) retomar a normalidade, com transportes a funcionar e filas de trânsito pela cidade, apesar do reforço policial visível após os violentos confrontos do dia anterior com manifestantes, que provocaram destruição e feridos.
Após um dia de tensões e confrontos entre residentes e a Unidade de Intervenção Rápida, a manhã desta terça-feira (22.10) trouxe uma atmosfera de calma, com o tráfego rodoviário quase intenso, característico dos dias úteis.
As barricadas, que ontem obstruíam várias ruas, foram removidas pelas autoridades, permitindo que a cidade retomasse a sua rotina habitual.
Os protestos
A avenida Joaquim Chissano foi o centro dos protestos, próximo do local onde na sexta-feira ocorreu o duplo homicídio de dois apoiantes de Venâncio Mondlane, incluindo o seu advogado, Elvino Dias, e para onde o candidato presidencial tinha convocado a saída de uma manifestação para a manhã de segunda-feira, que nunca chegou a acontecer devido à forte intervenção da polícia.
Os apoiantes de Venâncio Mondlane, que contesta igualmente os resultados preliminares das eleições gerais de 09 de outubro, levaram os protestos para vários bairros, no centro da cidade e nos subúrbios, como Polana Caniço, Xiquelene e Maxaquene, onde a polícia também realizou disparos e lançamento de gás lacrimogéneo para dispersar qualquer concentração.
Durante a noite não houve registo de confrontos significativos em Maputo.
Durante os confrontos com a policia, que durante todo o dia realizou disparos de gás lacrimogéneo e tiros para o ar para desmobilizar qualquer grupo de manifestantes, que, por sua vez, respondiam com o arremesso de pedras e pneus queimados, mais de uma dezena de pessoas ficaram feridas, incluindo pelo menos três jornalistas, tendo o Hospital Central de Maputo convocado para esta manhã uma conferência de imprensa de balanço.
Além da capital, há registo de confrontos e manifestações durante o dia de segunda-feira em várias cidades moçambicanas.
Em Maputo, os confrontos de segunda-feira entre a polícia e os manifestantes começaram cerca das 07:30 (menos uma hora em Lisboa), com a força policial a dispersar os grupos que se começavam a juntar para participarem nas marchas pacíficas.
Reforço policial
A Polícia de Proteção continua a patrulhar as ruas, com uma presença reforçada em bairros que ontem foram palco de confrontos. Nos terminais rodoviários, o movimento é intenso, com muitos cidadãos à procura de transporte para os seus locais de trabalho.
As unidades de saúde, por sua vez, já registavam um número significativo de pacientes, e as escolas começaram a receber alunos, sinalizando a normalização progressiva das atividades quotidianas.
A polícia apela à calma e continua vigilante para garantir que a ordem pública seja mantida, após um dia de protestos e tensão social.
Esta manhã, e apesar do reforço policial visível nestes locais, a vida começou a retomar a normalidade, com estabelecimentos comerciais a começarem a reabrir e a chuva que cai a limpar os destroços dos confrontos, ainda visíveis nas ruas.
Mondlane acusou as forças policiais de dispararem "balas verdadeiras" contra manifestantes durante as marchas e afirmou que os moçambicanos juntaram-se para "salvar o país".
O candidato presidencial convocou as marchas no sábado, como forma de repúdio pelo homicídio de Elvino Dias e Paulo Guambe, mandatário do partido Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), que o apoia.
Mondlane classificou os líderes da polícia moçambicana como verdadeiros terroristas e prometeu continuar os protestos em mais três fases até à divulgação dos resultados finais das eleições pelo Conselho Constitucional.
A resposta policial às manifestaçõesfoi condenada pela comunidade internacional e houve vários apelos à contenção de ambas as partes, nomeadamente de Portugal, da União Europeia e da União Africana.