Angola: UNITA "expectante" com presença de missão europeia
6 de junho de 2022O líder da UNITA, principal partido da oposição angolana, apelou, esta segunda-feira (06.06), ao Governo angolano para que avance com o pedido de observação internacional democrática das próximas eleições, para que esta não se restrinja aos "primos africanos".
Adalberto da Costa Júnior falava aos jornalistas após receber uma delegação da União Europeia, num encontro em que foram analisados desafios do período eleitoral, entre outros temas, e que descreveu como "bastante positivo".
Sublinhando as "grandes expectativas" quanto a uma missão de observação europeia, o presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) lamentou que o Governo angolano, nos últimos pleitos eleitorais, não tenha demonstrado "grande interesse" em ter no país uma observação internacional democrática.
"Infelizmente, esta tem sido a postura do Governo angolano. Nós, de há um tempo a esta parte, temos tentado sensibilizar o Governo para uma postura diferente, mais democrática, mais aberta e mais credível nestas eleições. Ora o que nós estamos a verificar é uma repetição daquilo que tem sido comum", salientou.
Adalberto da Costa Júnior acusou o Governo de "retardar os convites" para os observadores, conseguindo interferir assim na vinda das missões.
Sublinhando que as eleições se fazem com múltiplos componentes, entre as quais as observações internacionais, o líder da UNITA afirmou que "pretender trazer a Angola apenas os primos africanos de proximidade político-ideológica" não se traduz num elemento de credibilidade para o processo eleitoral.
E deixou um apelo: "Ainda acredito que, tanto no âmbito da Assembleia Nacional como no âmbito da Comissão Nacional Eleitoral, nós temos condições de dirigir convites a espaços internacionais com credibilidade e com experiência democrática para ajudar a credibilizar o processo angolano".
Censura na oposição é um "escândalo"
Na mesma ocasião, o presidente da UNITA insistiu na igualdade de tratamento dos partidos políticos na imprensa pública angolana. Adalberto Costa Júnior disser ser "um escândalo" a censura da oposição e a transmissão em direto dos comícios do partido do poder.
"É um escândalo a censura, é um escândalo vermos partidos políticos terem comícios transmitidos em direto (que são) negados aos outros partidos", disse.
É suposto que as campanhas eleitorais tenham tratamento igual já que "não deve haver vantagens para nenhum dos partidos, tal como determina a Constituição angolana e a lei eleitoral", prosseguiu.
"Aqui temos um partido que quer ter vantagens, que procura vantagens por se encontrar no Governo e que está a fazer uma abordagem ilegal do processo eleitoral. Não me parece que seja normal pedir elevação e ética e violar as leis, esta ética tem de ser para nós todos", frisou, desafiando MPLA a "parar de tirar vantagens" por ser Governo.
Falando aos jornalistas três dias após o seu encontro com o Presidente da República como conselheiro, já que faz parte do órgão consultivo que João Lourenço reuniu para anunciar o dia das eleições, Adalberto Costa Júnior insistiu ainda na necessidade de ter "um processo eleitoral democrático, credível e que respeita as leis", voltando a pedir a publicação provisória das listas do registo eleitoral que "infelizmente" ainda não aconteceu.
O líder do MPLA, João Lourenço, também Presidente de Angola, disse num comício no sábado, em Mbanza Congo (província do Zaire) que os seus opositores estão à procura de descredibilizar e manchar as eleições.
Questionado sobre se se sentia visado pelas palavras de João Lourenço, Adalberto da Costa Júnior devolveu, de forma irónica: "quem é que foi objeto de uma transmissão em direto do seu comício? Foi a UNITA? A UNITA tem comícios transmitidos em direto pelos órgãos públicos? O Presidente da UNITA já foi convidado para programas? Parece-me que há quem fale, mas não cumpre".
Programa eleitoral "terminado"
Sobre a apresentação do programa de Governo disse que virá a seu tempo, sendo as linhas gerais apresentadas publicamente sob a forma de manifesto eleitoral.
"Não existe nenhum partido que tenha trazido a público os seus conteúdos de governação. O nosso programa está terminado, estamos agora no desafio das candidaturas e em uma ou duas semanas vamos começar a fazer este trabalho", afirmou o dirigente, adiantando que as suas propostas para o futuro serão partilhadas através de um manifesto que "está muito rico".
Adalberto da Costa Júnior escusou-se também a revelar quando serão divulgadas as listas de candidatos, que serão entregues "dentro dos prazos".
"Temos o trabalho globalmente feito e vamos cumprir os prazos com rigor, seguramente vamos divulgar a lista, muito antes do meio do prazo", declarou.
Angola realiza eleições gerais, pela quinta vez desde 1992, em 24 de agosto.