Moçambique: A bagagem dos candidatos presidenciais
25 de junho de 2024O Conselho Constitucional de Moçambique aprovou ontem as candidaturas de Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), no poder, Ossufo Momade, apoiado pela Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO),Lutero Simango, apoiado pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), e Venâncio Mondlane, apoiado pela Coligação Aliança Democrática (CAD), às eleições presidenciais de outubro.
Mas o que têm eles para oferecer ao país?
Em entrevista à DW, o analista político moçambicano, José Malaire, afirma que é "muito difícil traçar um perfil personalizado de cada um dos candidatos". Isto porque, explica, "não temos elementos que substanciem um projeto, um sonho, uma visão nacionalista de cada um, a não ser a reboque do que se pode imaginar que esteja por detrás dos partidos políticos".
Ernesto Júnior, também analista político moçambicano, concorda. Segundo ele, num país em que a máquina partidária se faz sentir como em Moçambique, é muito difícil falar de mais-valias individuais. Até porque "quem tem capital político próprio", como é o caso, na sua opinião, de Venâncio Mondlane e Lutero Simango, "não tem chance" de ser eleito.
"Em Moçambique, os candidatos, em primeiro lugar, prestam contas aos seus partidos. Só depois ao povo. Fazem realmente o contrário do que devia ser", frisa.
Também a experiência política não é sinónimo de vitória. Aos olhos de Ernesto Júnior, seria Venâncio Mondlane o candidato com "mais experiência política". Desde que concorreu às eleições autárquicas, em 2013, nunca mais saiu da política. Já Ossufo Momade, continua, "só subiu ao palco em 2017/2018 com a morte de Afonso Dhlakama. Estava na política, mas não como líder, era político militar."
"Lutero Simango tem alguma experiência, mas não de liderança. E Daniel Chapo foi governador de Inhambane, mas é o que menos experiência tem". Apesar disso, é tido como o favorito à vitória.
Chapo é favorito
Vestindo a camisola do partido no poder, Daniel Chapo é também o candidato mais novo dos quatro, com 47 anos, mas "aparentemente o menos conhecido". Algo que, diz o académico José Malaire, a FRELIMO está a mudar.
"Quem fala em nome da FRELIMO neste país faz-se conhecido como mais ninguém […] Reconhecendo que ele não tem capital político, a FRELIMO está a fazê-lo conhecido com aparições públicas nacionais e internacionais".
Prova que este trabalho é feito com êxito, lembra Ernesto Júnior, é que, quando concorreu às presidenciais, também "Filipe Nyusi era um autêntico desconhecido na arena política".
Votos vão dividir-se pela oposição
Para este analista, a grande dúvida dos resultados das próximas eleições é quem conseguirá o segundo lugar e não quem vencerá.
"Na minha opinião, a grande é entre a RENAMO, o MDM e a CAD de Venâncio Mondlane, porque a FRELIMO, com toda esta desorganização da oposição, vai reeleger o seu candidato", afirma.
Também José Malaire fala de uma possível "vitória esmagadora da FRELIMO" numa altura em que candidatos bem conhecidos do eleitorado, como são Lutero Simango e Ossufo Momade estão quase "desaparecidos" do cenário político, enquanto a FRELIMO "já está em campanha eleitoral".
Para o académico moçambicano, "Lutero Simango tem um pensamento, ele discute muito a questão da política fiscal. […] Mas fica muito à espera dos decisores. O MDM não é ativo, é mais reativo e para questões muito marginais."
Malaire diz ainda entender que "Moçambique está muito frustrado com a RENAMO, e particularmente com Ossufo Momade, que não tem peso, nem em termos individuais, nem partidários". Neste contexto, conclui, "Venâncio Mondlane é a esperança dos frustrados."