1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Dois anos depois, cerimónia lembra massacre de 150 na Guiné-Conacri

28 de setembro de 2011

Repressão de manifestação em estádio da capital resultou em mais de 150 mortos, mais de 1.200 feridos e estupros; transição para democracia parece ter funcionado, mas analista diz que situação do país é "explosiva".

https://p.dw.com/p/RoE4
Corpos de mortos durante repressão de manifestação em estádio de Conacri são vistos numa mesquita da capital (02.10.2009)
Corpos de mortos durante repressão de manifestação em estádio de Conacri são vistos numa mesquita da capital (02.10.2009)Foto: AP

Um dia depois dos incidentes que provocaram pelo menos dois mortos e mais de 40 feridos em Conacri, uma cerimónia oficial foi organizada esta quarta-feira (28.09) na Assembleia Nacional da República da Guiné-Conacri para assinalar o segundo aniversário do massacre de cerca de 150 opositores ao governo.

No dia 28.09 de 2009, há precisamente dois anos, cerca de 50 mil pessoas reuniram-se no estádio de Conacri – para uma manifestação pacífica contra o regime militar, que com um golpe tinha chegado ao poder. Mas forças de segurança e soldados do exército invadiram o local e atacaram os manifestantes com bombas de gás lacrimogéneo, cassetetes e balas reais. A violenta intervenção que se seguiu provocou mais de 150 mortos, mais de 1.200 feridos e mais de cem vítimas de estupro.

Responsabilidade de massacre foi atribuída ao autoproclamado chefe da Junta Militar, Moussa Dadis Camara, que depois sofreu tentativa de assassinato
Responsabilidade de massacre foi atribuída ao autoproclamado chefe da Junta Militar, Moussa Dadis Camara, que depois sofreu tentativa de assassinatoFoto: DPA

A principal responsabilidade foi imediatamente atribuída ao autoproclamado chefe da Junta Militar, Moussa Dadis Camara, um capitão do exército que ocupara o poder em dezembro de 2008 e que desde aquela altura dirigia a Guiné-Conacri com mãos de ferro. Ele queria mostrar à população que só ele seria capaz de conduzir da melhor forma os destinos do país ocidental africano – mesmo que essa população estivesse contra qualquer regime militar.

Testemunhas traumatizadas

"Eu estava no estádio quando as mulheres foram violadas", lembra Mariame Sy, uma das manifestantes presentes no estádio no dia do massacre. Ela escapou fisicamente ilesa, mas ainda está traumatizada. "Só consegui escapar porque um militar não conseguiu o seu intento e porque tinha uma roupa que me protegia. Por isso, digo que foi um grande choque. Um pesadelo, porque a todo o momento pensava: 'eu serei a próxima vítima no interior deste estádio'", descreve.

Depois do massacre, houve uma tentativa de assassinato contra Dadis Camara, que depois foi evacuado para tratamento no estrangeiro e substituído pelo General Sékouba Konaté. Este prometeu aos guineenses uma transição pacífica para a democracia – parece ter cumprido a promessa: em novembro de 2010, os guineenses participaram na primeira eleição livre na história do país, tendo sido eleito presidente o candidato histórico da oposição, Alpha Condé.

O balanço desses dois anos após o massacre e cerca de nove meses após as eleições presidenciais é, aos olhos de muitos guineenses, mais ou menos positiva. "Muita coisa mudou com o fato de a Guiné ter um presidente democraticamente eleito. Acredito que ele queira mudar muitas coisas e acho que devemos apoiá-lo neste processo. Por isso vamos vencer os desafios", afirma um cidadão de Conacri, que não se identificou.

Alpha Condé, candidato histórico da oposição, foi eleito presidente em 2010, na primeira votação livre da história da Guiné-Conacri
Alpha Condé, candidato histórico da oposição, foi eleito presidente em 2010, na primeira votação livre da história da Guiné-ConacriFoto: AP

Outro habitante da capital diz que, "no cotidiano das pessoas, praticamente nada mudou. Somente tivemos um governo democrático depois da partida dos militares", diz.

Atmosfera é explosiva, diz especialista

Porém, a jovem democracia da Guiné é ainda frágil e o país tem vivido alguns ciclos de muita tensão – nomeadamente na terça-feira (27.09), quando o governo proibiu a realização de uma manifestação organizada pela oposição que se saldou em confrontos e um balanço de dois mortos e mais de 40 feridos.

Na verdade, a atmosfera na Guiné-Conacri é explosiva, mesmo que os militares tenham desaparecido das ruas – embora o exército continue a ter um papel muito importante no país. "Se ocorrerem novamente violências, por exemplo durante o periodo eleitoral, com conotações étnicas, o quadro poderá ser uma porta aberta para alguns militares que não estejam satisfeitos com o novo regime", avalia Vincent Foucher, especialista do International Crisis Group (ICG).

"Pode-se chegar ao ponto dos militares dizerem que Alpha Condé traiu a transição e que, portanto, vamos recomeçar do zero. Daí ser muito importante que os novos governantes organizem eleições credíveis e pacíficas", analisa Foucher, para quem o momento é de diálogo – porque até agora a cooperação entre Alpha Condé e a oposição teria ignorado os esforços de reconciliação.

Autor: Dirke Köpp / António Rocha
Edição: Renate Krieger