Divisão administrativa: "Não vou deixar de ser de Luanda"
29 de dezembro de 2024Não é a primeira vez que Luanda é dividida em duas províncias. Em 1980, da capital angolana surgiu a província do Bengo. Passados 45 anos, Luanda volta a ser divida dando origem a Icolo e Bengo.
A província de Icolo e Bengo é atualmente integrada pelos territórios do Zango, Centralidade do Sequele, Funda, Calumbo, Kikuxi entre outros.
A DW África foi ao Zango, uma das zonas mais populosas da região e conversou com alguns moradores.
Quem vai deixar de pertencer a Luanda tem "uma sensação esquisita", como diz o cidadão Ambrósio Augusto Pedro.
"Sempre morei aqui em Luanda e me mudei para o Zango já há alguns anos. E agora, daqui a alguns dias, Zango deixará de ser Luanda e passará a ser Icolo e Bengo. É uma sensação esquisita", conta.
Opiniões divididas e dúvidas
Já João Sebastião, outro morador, não se mostra preocupado com a desanexação do Zango da província de Luanda.
"Não vou deixar de ser de Luanda. Sempre fui de Luanda e vou continuar sendo de Luanda. Simplesmente o que mudou foi a região, eu não", diz relutante.
Também os que vão continuar como moradores da capital angolana não manifestam grande interesse quanto ao tema da divisão político-administrativa.
O mototaxista Farias Kassoma, por exemplo, que trocou Waku Kungo, província do Cuanza Sul, por Luanda só tem um sonho: trabalhar na petrolífera estatal angolana.
A Lei da Divisão Política e Administrativa de Angola foi aprovada em agosto deste ano. O país passou a ter três novas províncias: Icolo e Bengo, Moxico Leste e Cuando.
Cinco meses depois, ainda há perguntas no ar: "Eu gostaria de saber por que vamos parar no Icolo e Bengo?", questiona o jovem Cristóvão André.
Novos governadores apresentados
Os governadores do Icolo e Bengo, Auxílio Jacob, do Cuando, José Martins e do Moxico Leste, Crispiniano dos Santos, já foram apresentados às suas comunidades. Mas as despesas destas províncias contidas no Orçamento Geral do Estado para 2025 começam apenas a partir de janeiro.
Entretanto, ainda há quem não veja na divisão política-administrativa a aproximação dos serviços, como fundamentou o Governo.
Cláudio Fortuna, pesquisador da Universidade Católica de Angola (UCA), defende que as autarquias seriam a melhor solução.
"É preciso prefeituras para que se dê a possibilidade de quem for eleito ter exatamente essa orientação para com seus munícipes. E se eventualmente não estiver cumprindo, tem a pressão de que pode ser retirado a qualquer momento", explica.
Questionado sobre se essa divisão trará melhorias na vida das populações, Fortuna comenta o caso particular de Luanda e diz que precisava de mais organização e não de uma divisão.
"No caso particular de Luanda, que não é uma província muito grande - apesar de ter muita gente -, passa, sobretudo por maior organização. E se os poderes todos estão concentrados em Luanda, mais razão temos para acreditar que, com maior organização, espírito de responsabilidade e espírito patriótico poderíamos ter uma cidade melhor organizada", finaliza o pesquisador.