Derrame de petróleo agrava pobreza em Cabinda
30 de janeiro de 2025Cerca de uma centena de pescadores estão atualmente impedidos de trabalhar, na província de Cabinda, em Angola, uma vez que os seus equipamentos de pesca foram danificados na sequência de um derrame de petróleo ocorrido há alguns dias. O incidente afetou gravemente a aldeia de Malembo e parte da costa do município de Cacongo, a 45 quilómetros da cidade de Cabinda.
Estevão Conde, responsável da Comunidade de Pescadores em Cacongo, lamenta as dificuldades sentidas pela população: "O pescador sobrevive da sua atividade. Nesta altura, grande parte deles não sabe onde arranjar pequeno-almoço para a família", afirma, em entrevista à DW África. "Se olharmos para Malembo e Zenga, esses números são ainda mais preocupantes", acrescenta.
A empresa petrolífera norte-americana Chevron, que opera na região, ainda não se manifestou oficialmente sobre o incidente. As comunidades afetadas exigem um posicionamento e medidas concretas para mitigar os danos causados.
Esclarecimentos e indemnizações
O bispo de Cabinda, Belmiro Chissengueti, defende uma compensação justa para as populações afetadas pelo derrame de petróleo: "Vamos procurar acompanhar que tipo de indemnização será dada às comunidades pobres, hoje soterradas no petróleo, do qual têm pouco ou nenhum benefício e que agora estão sem possibilidade de pesca", frisa.
Também o deputado da UNITA Gervásio Zau denunciou publicamente a situação há uma semana e apelou às autoridades e à petrolífera Chevron para que se pronunciem sobre o desastre ambiental.
Outro problema prende-se com o facto de alguns pescadores nunca terem sido indemnizados pelo derrame de petróleo ocorrido em 2005, que causou danos ambientais e materiais.
Lucas Mataia Loto, presidente da Associação dos Pescadores de Cabinda, recorda que as autoridades e a empresa petrolífera responsável têm conhecimento da situação: "Este derrame vitimou tartarugas e peixes. Na altura, fomos obrigados a parar as atividades devido ao impacto ambiental. Inclusive, houve pessoas que tiveram de ser transferidas para o hospital".
Crimes ambientais impunes
Organizações da sociedade civil e parlamentares manifestaram preocupação com o incidente.Raul Taty, primeiro-ministro do governo sombra da UNITA, reforçou as críticas, alertando para a recorrência de crimes ambientais na região sem punições eficazes.
A Comissão Técnica de Proteção Civil aconselhou os pescadores a não se fazerem ao mar, nem a consumirem o pescado capturado neste período.
"Estamos a avaliar a situação para determinar se devem ou não voltar ao mar. No entanto, aconselhamos as comunidades a não consumirem os peixes capturados até segunda ordem", avisa a comissão.