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Decisão da Daimler foi acertada, diz ativista angolano

29 de março de 2011

Fabricante alemã de automóveis, detentora da Mercedes, rompeu cooperação com parceiro em Angola. Em novembro do ano passado, Rafael Marques denunciou tráfico de influências e corrupção nas relações comerciais.

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Daimler rompeu parcerias comerciais em Angola após investigar atividades de empresas no paísFoto: picture alliance/dpa

A Daimler não justificou a decisão. Mas o rompimento de relações comerciais com a companhia belga Demimpex, e por consequência com a AutoStar Angola, é tomada quatro meses depois da publicação de um relatório de investigação conduzida pelo ativista angolano de defesa dos direitos humanos Rafael Marques.

Recorde-se que em Angola a Demimpex estava associada à AutoStar Angola, empresa que importava e comercializava até agora os veículos Mercedes em regime de exclusividade.

Angola Bürgerrechtler Rafael Marques de Morais
Rafael Marques afirmou que a AutoStar Angola tem participação de membros do governo, prática ilegalFoto: privat

O ativista angolano de defesa dos direitos humanos havia denunciado, em novembro do ano passado, um esquema de corrupção e de tráfico de influencias que envolve a AutoStar Angola. De acordo com a investigação, a empresa tem a participação de membros do governo angolano, o que vai contra as leis vigentes no país.

Rafael Marques considera positiva a decisão da Daimler de terminar a cooperação com a Demimpex, e de forma indireta com a AutoStar Angola. “É um sinal de que as empresas que agem em Angola devem ter plena consciência de que estão a ser fiscalizadas em Angola”, afirmou Marques, em entrevista à Deutsche Welle. Ele considera que a decisão da Daimler deveria servir de exemplo a outras multinacionais “que investem em Angola através do mesmo esquema”.

“Ou seja, por regra, os investidores estrangeiros procuram um general de topo, a filha do presidente, ou algum ministro para estabelecerem parceiras nos negócios em Angola, como forma de garantirem acesso ao mercado e garantirem também a impunidade que derivam do poder arbitrário de algumas dessas figuras”, atacou Marques.

Daimler teria ficado com medo de penalizações

O ativista angolano de defesa dos direitos humanos acha que, depois da exposição pública do caso, a Daimler terá tomado esta decisão para evitar possíveis penalizações. “São negócios que também colocam as próprias multinacionais em situações de ilegalidade e sujeitas a multas severas nos seus países de origem, uma vez que essa informação é tornada pública”, explicou Marques.

“Eu penso que a Daimler fez mais isso porque está sujeita a ter o governo alemão a investigar os seus negócios. Também é uma empresa que está baseada nos Estados Unidos, está nas bolsas de valores e também pode ser investigada por atos de corrupção de líderes estrangeiros”, apontou o ativista.

Mas Rafael Marques afasta a hipótese de que a decisão da Daimler venha a interferir nas relações comerciais entre a Alemanha e Angola.

Daimler Zwischenbilanz
Em Angola, era a AutoStar Angola que importava exclusivamente os veículos da MercedesFoto: AP

O ativista considera que a empresa-mãe detentora da Mercedes pretende com esta decisão afastar-se da atuação da AutoStar. Na investigação conduzida em novembro passado, Marques concluiu também que os terrenos onde está instalado o stand de exposição dos veículos foram expropriados a camponeses, sem qualquer recompensa, com a justificação de que seriam para utilidade pública.

Segundo Marques, por causa da reputação internacional, a Daimler não pode estar associada a atos que incluem a expropriação de terras de camponeses muito pobres. “E para que? Para se construir um stand de luxo para venda de carros, que em Angola oscilam entre 100 a 200 mil dólares e sem qualquer benefício para a economia local. Porque os generais que estão envolvidos no negócio são aqueles que ficam com o dinheiro”, disse o ativista.

Na investigação que publicou no ano passado, Rafael Marques refere ainda que a AutoStar Angola é a concessionária que passa a fazer a assistência aos carros da Presidência da República. O que considera ser um negócio ilegal.

Apesar das diligências para obter uma reação por parte da AutoStar Angola, não foi possível à Deutsche Welle qualquer contato.

Autora: Glória de Sousa

Revisão: Renate Krieger / António Rocha