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Daviz Simango: Observadores são "uma gota no meio do oceano"

17 de outubro de 2018

Líder do MDM, segunda maior força da oposição moçambicana, tece críticas ao processo eleitoral e à atuação dos observadores internacionais. Daviz Simango diz que o STAE não tem serventia por servir interesses privados.

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Daviz Simango: "Não se pode admitir que as pessoas governem à força, à revelia da vontade dos eleitores"Foto: DW/A. Sebastiao

Em entrevista à DW África, o líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, critica a atuação do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) nas autárquicas de 10 de outubro.

O edil, que se recandidatou a um quarto mandato na Beira - onde a terceira força parlamentar conseguiu 45,77% dos votos -, afirma também que os observadores internacionais, no atual formato, não estão em condições de observar as eleições. "Continuam a ser uma gota no meio do oceano", critica Simango.

DW África: Está satisfeito com o processo de votação?

Daviz Simango (DS): De um modo geral, temos de continuar a olhar com certa seriedade em relação aos nossos processos eleitorais em Moçambique, sobretudo aquilo que diz respeito ao funcionamento e comportamento dos órgãos eleitorais. Mais uma vez, convivemos com o STAE, um órgão ao serviço privado. E isso continua a prejudicar a manifestação dos eleitores, a manifestação daqueles que procuram de uma forma livre ir votar.

Daviz Simango: Observadores são "uma gota no meio do oceano"

Assistimos a eleitores sem nome nas listas dos cadernos, impedidos de votar. Assistimos a eleitores coagidos a receber um, dois, três boletins de voto em simultâneo. Assistimos a alguns membros de mesas a ter um comportamento inaceitável num Estado de direito. Portanto, enquanto esses procedimentos negativos e nocivos persistirem, naturalmente não há de encontrar na minha pessoa uma satisfação.

DW África: À semelhança da RENAMO, o MDM também sentiu que foi prejudicado nalguns municípios?

DS: Claro, fomos prejudicados. Temos o caso concreto e absurdo do Gurué. Desde o tempo da campanha, havia disparos no Gurué, no dia da votação também. Portanto, não se pode admitir que as pessoas governem à força, à revelia da vontade dos eleitores. Essa forma de querer assumir o poder desmotiva o cidadão, promove a abstenção e cria o desinteresse do cidadão na vida política e social do seu país, o que pode ser grave por prejudicar as futuras gerações, que irão vivendo esta angústia dos mais velhos, ou dos que têm idade e são cidadãos eleitores, e acharem que é um precedente e que é assim a vida em Moçambique.

DW África: Em relação à Polícia da República de Mocambique (PRM), acha que este organismo cumpriu cabalmente as suas funções ou também serviu interesses privados, à semelhança do que aconteceu com o STAE, de acordo com o MDM?

DS: Temos várias situações em que a polícia atuou. Nalgumas áreas, a polícia tentou comportar-se. Mas, no fim do dia, fica a certeza onde a polícia prejudicou. A polícia tem de abster-se, tem de ajudar. Mas não quer dizer que todos os elementos da polícia são maus, há pessoas que são conscientes e conseguiram, por iniciativa própria, travar algumas brincadeiras. No entanto, ainda existe alguma polícia corrupta.

Daviz Simango votou na Beira

DW África: Neste processo todo, o parecer dos observadores internacionais quase não foi ouvido, ficou diluído no meio das denúncias feitas pelas organizações da sociedade civil que estiveram a monitorizar o processo e até de cidadãos comuns. Qual é o seu parecer sobre a atuação dos observadores internacionais?

DS: Eu costumo dizer que os observadores internacionais continuam a ser uma gota no meio do oceano. Eu, por exemplo, recebi três da União Europeia aqui na Beira. O que são três para uma cidade como esta, para o número de eleitores que nós temos? É uma gota no oceano. Eles vão falando sobre o que viram e o que não viram, mas não estão em condições de fazer observação. Portanto, não vale a pena ter uma observação diminuta, uma observação de três pessoas, por exemplo. Essa observação, para mim, está muito longe de ter essa designação de observação. Observação seria ter em cada posto de votação alguém de um organismo internacional, para exatamente relatar os factos que aconteceram. Agora, se temos três para as diversas quantidades de mesas que temos, o que é que esses três fazem? Não fazem nada. Penso que é um investimento da União Europeia, podia ter investido noutras áreas em vez de mandar pessoas que estão ali para inglês ver. Portanto, não estão em condições de observar.

Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África