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"Criem condições para filhos da Guiné poderem regressar", pede Gomes Júnior

CARLOS, Joao28 de outubro de 2013

O primeiro-ministro guineense deposto afirma que ainda não tem garantias de segurança para poder regressar à Guiné-Bissau. Carlos Gomes Júnior pediu para se encontrar com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

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Realizar eleições gerais a 24 de novembro na Guiné-Bissau é um plano irrealista, diz Carlos Gomes Júnior. Para o primeiro-ministro deposto no golpe de Estado de 12 de abril de 2012, não estão reunidas as condições para realizar o escrutínio, a começar pelo facto de ainda não se ter feito o recenseamento eleitoral.

"Só após o relatório da Comissão Nacional de Eleições, dizendo que tem condições de realizar o escrutínio, é que se deve fixar uma data", refere.

Além disso, o político guineense questiona a adiada reforma da defesa e segurança.

Gomes Júnior diz que é preciso resolver a questão de uma vez por todas, porque "como o primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, disse, e bem, são quarenta anos de independência 'perdidos' na rua, em quezílias que não servem de nada à Guiné-Bissau, senão ao seu retrocesso."

ONU tem sido "branda demais"

Gomes Júnior pediu a propósito uma audiência com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ainda sem data marcada: "As Nações Unidas têm que resolver o problema da Guiné-Bissau. Não podemos ir a eleições enquanto a segurança da população e dos políticos não for salvaguardada."

Cadogo, como o político é conhecido na Guiné-Bissau, diz que a ação das Nações Unidas tem sido "branda demais", à luz do calendário eleitoral e do exemplo do Mali.

"Devia ser uma ação com um calendário bem preciso, com determinação" para que a Guiné-Bissau seja aceite pela comunidade internacional "como um Estado democrático", afirma.

Carlos Gomes Júnior pede ao representante da ONU na Guiné-Bissau, José Ramos-Horta, para debater mais aprofundadamente uma solução para os problemas no país com o secretário-geral, Ban Ki-moon, a União Africana e a CEDEAO (Comunidade dos Estados da África Ocidental). Numa carta endereçada a Ban Ki-moon, Gomes Júnior defende que não se pode falar de eleições na Guiné-Bissau sem uma imprensa livre e enquanto políticos continuarem a ser perseguidos. Entretanto, para o primeiro-ministro deposto, a imperiosidade de adiamento das eleições vai prolongar a solução da instabilidade política, económica e social.

Instabilidade até quando?

"Para qualquer instituição ou organismo internacional assinar um acordo válido, tem de o fazer com um Governo que saia das urnas, um Governo legítimo, e não com um governo de transição", diz Carlos Gomes Júnior. "Se este Governo de transição não for capaz de fazer eleições, o povo vai continuar a sofrer. A Guiné-Bissau vai continuar a adiar até quando?"

Júnior critica a ONU por ter permitido o discurso do presidente de transição, Serifo Nhamadjo, na última Assembleia-Geral, em Nova Iorque, no dia 26 de setembro.

"As pessoas que deram o golpe têm poderes reforçados", diz. "Foi o que aconteceu na última Assembleia-Geral das Nações Unidas: permitir a um presidente dos golpistas, dito do Governo de inclusão, discursar na Assembleia-Geral em detrimento do Governo eleito, que está cá em Portugal."

O candidato do PAIGC às eleições presidenciais de 2012 recorda que ganhou a primeira volta com mais de 49 por cento de votos. Os resultados foram reconhecidos pela Comissão Nacional Eleitoral, ratificados pelo Supremo Tribunal de Justiça e aceites pela comunidade internacional como justas, livres e transparentes. Por isso, Gomes Júnior insiste, por que razão não se realiza a segunda volta?

"Porque é que se tem de fazer uma eleição de raiz? Estas eleições não foram anuladas. Foram reconhecidas oficialmente", sublinha. "Por que razão foram anuladas? Ainda ninguém se pronunciou sobre isso até este momento."

Regresso

Face aos últimos tumultos frente à Embaixada da Nigéria em Bissau, que provocaram um morto na sequência de rumores de que nigerianos estariam a raptar crianças guineenses, Cadogo olha para o futuro da Guiné-Bissau com muita inquietação e considera mesmo que o país ainda está sobre um barril de pólvora.

Gomes Júnior quer regressar a Bissau como líder político que já deu provas de dirigir o país e exorta todos os guineenses a refletirem sobre o destino a dar à Guiné-Bissau.

"Regressarei. Mas [é necessário] que as Nações Unidas e a União Africana criem as condições de estabilidade para que todos os filhos da Guiné possam regressar. A isso é que nós chamamos umas eleições de inclusão, em que saia das urnas o candidato em que o povo confia."

O primeiro-ministro deposto está há cerca de 18 meses exilado em Portugal, juntamente com o Presidente interino da Assembleia da República, Raimundo Pereira, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Djaló Pires.