Trabalhadoras domésticas perdem trabalho em Inhambane
10 de julho de 2020Devido à pandemia do coronavírus, muitas trabalhadoras domésticas perderam os seus postos de trabalho na província de Inhambane.
Amélia Manuel, trabalhadora doméstica em Maxixe, tem algumas colegas nesta situação. Outras aguardam o fim do confinamento decretado pelo Governo para voltarem ao trabalho, mas ainda sem certeza.
"Muita gente mesmo, de verdade, está em casa a chorar. Quer dizer, não é perder emprego é mandar parar, aguentar um pouco. Quando passar [a Covid-19] vão voltar. Uns vão receber metade, mas outros não recebem. E outros voltam mas não temos horário de entrada nem de saída. Só vamos trabalhar. Porque é que não temos direitos? Porque não nos dão valor?", queixa-se a doméstica.
Muitos empregadores perderam os rendimentos devido à pandemia da Covid-19 e viram-se obrigados a dispensar as trabalhadoras domésticas.
É o caso de Argentina João, que empregava uma jovem estudante do ensino secundário. "Como posso manter a minha secretária? Não é possível porque não hei-de ter dinheiro para lhe pagar. Sendo assim, eu a mandei parar por causa do coronavírus. Outra coisa, talvez ela podia transportar corona, trazer ou vir pegar aqui em casa. Agora já não tenho dinheiro, não há como pagar à secretária", lamenta.
Empregados com fome
Fernando Machado empregava oito trabalhadores domésticos, mas por causa do coronavírus demitiu metade. As dificuldades financeiras, no entanto, mantêm-se. Os que ficaram a trabalhar, todas as semanas pedem pagamentos adiantados e alimentos ao patrão.
"Mas todas as semanas continuam a pedir os quinhentos meticais [cerca de 6 euros] e depois pedem peixe, arroz. Eu tenho que ir alimentando isso para não os deixar numa situação de desespero. Se não estiverem bem alimentados, também não vão trabalhar em condições. De uma e doutra maneira, vamos fazer ajuste de contas por causa das dívidas", conta Machado.
Regime de internato
Maria José, secretária provincial da Associação das Empregadas Domésticas em Inhambane, aponta uma grande mudança na vida das trabalhadoras do setor: muitas passaram a viver de forma permanente na casa dos patrões desde que o país está em confinamento.
"Dantes iam para casa aos sábados ou iam todos dias. Agora não é assim, só vão no fim do mês. Só as pessoas que ficaram em casa é que não têm salário e está muito difícil", esclarece a secretária provincial.
Leonilde Forquia, diretora provincial do Trabalho em Inhambane, disse à DW África que as trabalhadoras domésticas devem seguir o decreto 40/2008 de 26 de novembro para evitarem problemas.
"As trabalhadoras domésticas são regidas pelo decreto próprio. Concretamente é mais acordado pelas partes. Como são coisas privadas, muitas vezes não nos comunicam e chegam ao consenso entre eles", explica.