Covid-19: "Aí vem a fome", temem comerciantes em Maputo
3 de abril de 2020Após três dias de estado de emergência em Moçambique, comerciantes informais já notam acentuada queda nos seus negócios. Integrantes da categoria ouvidos pela DW África aceitam as medidas restritivas adotadas pelo Governo, mas a vendedeira Mónica Paulo, por exemplo, alerta que o impacto nos negócios pode levar à fome.
"Assim nós estamos a morrer, porque o que estou a ver já não aguento. Já não anda nada. Quem devia resolver este problema? Não podemos culpar ninguém”, desabafa.
Desde que foram detetados os primeiros casos da doença, conta a outra comerciante informal Maria Argentina, os seus clientes fizeram compras de produtos na intenção de fazer estoques por causa da especulação de preços. Com o abastecimento por um determinado período garantido, alguns consumidores, segundo Argentina, optam por ficarem em casa.
"Já não temos clientes, muita gente está com medo e preferiu ficar em casa. As empresas fecharam. Quando o Governo disser para fecharmos, a solução será fechar. Não temos outra alternativa”, conclui.
O estado de emergência em Moçambique vai durar até dia 30 de Abril, e a vendedeira Vitoria André vai tentar arranjar-se. Como? ninguém sabe. "Só poderemos fechar se as coisas continuarem assim. Está a ser difícil e não há como. Apenas tentar a sorte. No dia que consigo [dinheiro] dá, mas quando não conseguir vamos ver o que fazer. Mas tentamos a nossa maneira.”
Os interesses dos "vulneráveis”
Luísa Augusto vende frangos e conta que, desde que a pandemia da Covid-19 chegou a Moçambique, só está a somar prejuízos. "As coisas estão muito diferentes. Hoje descarreguei 45 galinhas e até aqui as pessoas não estão a comprar. Tenho aqui galinhas há já uma semana e perderam peso. Paguei para isto e acabei chamando o dono para vir recolher as galinhas. Antes, a esta altura já tinha vendido tudo.”
O jurista Ercínio de Salema disse que o estado de emergência deve salvaguardar os interesses dos comerciantes informais e outras pessoas vulneráveis através das instituições de tutela.
"Temos o Instituto Nacional de Ação Social, cuja ação tem sido criticada. Mas este é o tempo de alargar as suas ações. Não só para grupos tradicionais, mas eventualmente para trabalhadores informais ou aqueles que hão de sentir de forma drástica este efeito”, sugere Salema.
No terceiro dia depois de se ter decretado o estado de emergência o ambiente na capital Maputo tem sido calmo. No primeiro dia, alguns tumultos foram verificados no centro da capital moçambicana porque a polícia mandou fechar todas as lojas. Depois das explicações do Governo, no entanto, o comércio reabriu. Locais de venda de bebidas alcoólicas, como barracas e bares, devem fechar as portas.