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Corrupção em Angola: "Os saqueadores andam à vontade"

Adolfo Guerra (Menongue)
31 de julho de 2024

Detenções no Cuando Cubango de suspeitos de peculato não convencem habitantes de que Angola age com mão de ferro contra casos do género. Persiste a sensação de impunidade para a grande corrupção no país.

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Foto ilustrativa: Detidos em Angola
Angolanos queixam-se que, enquanto os "mais fracos" são levados à Justiça, o "peixe graúdo" da corrupção continua à soltaFoto: A. Guerra/DW

No início de julho, cinco membros da direção do Hospital Geral do Cuando Cubango, no sul de Angola, foram detidos por suspeitas de corrupção. São acusados de desviar dinheiro alocado pelo Estado para a compra de medicamentos e outros materiais hospitalares.

O caso levou à demissão do gestor do hospital, também arrolado no processo. 

Será um sinal de que o anunciado reforço do combate à corrupção em Angola está a dar frutos?

Ouvidos pela DW África, vários cidadãos do Cuando Cubango acreditam que não. "É apenas mais um teatro, e a corda rebentou do lado mais fraco", comenta o jovem Angel Sassoma.

"A meu ver, nesta situação do hospital, sacrificou-se apenas algumas peças que já não eram necessárias no jogo, mas os verdadeiros lobos, jogadores e saqueadores continuam livres à vontade e não são tocados", acrescenta.

Algumas melhorias

O padre católico Jerónimo Candeia falou, recentemente, durante uma homilia, sobre o caso da alegada corrupção no Hospital Geral do Cuando Cubango: "Fica estranho apercebermo-nos que algumas pessoas têm coragem de desviar 80% do dinheiro, que vem para comprar medicamentos, para fins pessoais", afirmou o sacerdote.

Lembrou, no entanto, que a corrupção é um "mal" mais vasto espalhado pela sociedade, que "prejudica a maioria".

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De acordo com o relatório anual da organização não-governamental Transparência Internacional, divulgado em janeiro, Angola melhorou no Índice de Perceção da Corrupção, uma vez que tem tomado medidas para recuperar bens roubados e responsabilizar infratores. Ainda assim, ficou em 121.º lugar entre 180 países e territórios.

Num Afrobarómetro publicado este mês, um em cada três angolanos disse acreditar que a corrupção piorou no país.

Morosidade nos processos

Em declarações à DW África, o jurista Germano Luís afirma que não é bem assim. O combate à corrupção no Cuando Cubango "é uma realidade", apesar da visão contrária dos cidadãos, comenta.

"Só para dar um exemplo: Temos o processo contra um antigo gestor dos recursos humanos da administração municipal do Cuchi, que já tramitou em julgado, para além de outros processos que estão a decorrer e ainda não vieram a público porque estão em segredo de justiça."

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O jurista entende que o problema da morosidade dos processos prende-se com a insuficiência de quadros que respondam às exigências processuais na província. "O número reduzido de magistrados [judiciais] faz com que determinados processos demorem um pouco mais. Há inúmeros processos a decorrer dentro dos diversos tribunais de comarcas e não só", explica.

Denúncias

Amadeu Lucas, outro jovem ouvido pela DW, incentiva os órgãos de justiça a empenharam-se mais no combate à corrupção, uma vez que essa é também a bandeira do Presidente da República, João Lourenço, e do partido que encabeça, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

"Trabalhem mais, porque tem situações na província do Cuando Cubango que não se efetivam porque há pessoas na província que ainda usam o partido [MPLA] para salvar a sua pele quando a sua gestão está manchada de atos de corrupção", apela.

Na homilia recente do padre Jerónimo Candeia, o sacerdote aconselhou os cidadãos a continuarem a denunciar este tipo de práticas.

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