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Cordofão do Sul e Nilo Azul: Um conflito "esquecido" no Sudão do Sul

Bertolaso-Krippahl, Cristina15 de fevereiro de 2013

Nas províncias sul-sudanesas do Cordofão do Sul e do Nilo Azul, o Exército governamental continua a lutar contra rebeldes de um grupo autodenominado "Movimento de Libertação do Sudão - Norte (SPLM-N)".

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Enquanto a comunidade internacional concentra a própria atenção em crises no Mali e na Síria, o conflito no Cordofão do Sul e no Nilo Azul é alvo de esquecimento. Meios de comunicação africanos falam de ataques à bomba do Exército sudanês. Os mais recentes teriam acontecido no início de fevereiro, altura em que uma escola teria sido atingida.

Organizações de defesa dos direitos humanos já falam em "limpezas étnicas" desde meados de 2011 e criticam ataques dos militares sudaneses a civis na província do Cordofão do Sul, que fica na fronteira sulista do Sudão com o Sudão do Sul, país criado em julho de 2011 após referendo popular e depois de anos de disputas entre as duas regiões daquele que era o maior país do continente africano.

Raphael Veicht, da organização de auxílio alemã Cap Anamur, que há quatro anos é responsável pelos cuidados com a saúde no Cordofão do Sul e no Nilo Azul, confirma os ataques. "O Exército do Sudão ainda tenta conquistar essas regiões e ocupá-las. Os ataques são praticamente diários. Agora, no período das secas, as ofensivas em terra também são mais freqüentes", afirma

Referendo continua por realizar

Originalmente, após a independência do Sudão do Sul, previa-se que as duas províncias - Cordofão do Sul e Nilo Azul - decidissem por referendo popular se queriam pertencer ao Sudão ou ao Sudão do Sul. Mas esse referendo nunca aconteceu.

Enquanto alguns especialistas consultados pela DW África acreditam que os conflitos no Sudão tenham relação com a postura do governo com a origem étnica e as religiões - cristã e as chamadas pagãs - da população, outros avaliam que os rebeldes não querem necessariamente ficar no Sudão do Sul ou criar um Estado próprio. "Eles querem uma regulamentação da distribuição de poder para que possam conseguir influência no governo central. Também se fala numa nova Constituição e na defesa dos direitos humanos para que a opressão tenha fim", explica Jehanne Henry, da Human Rights Watch.

Tanto a União Africana (UA) como os Estados Unidos exigem que o governo sudanês negocie com os rebeldes. O ultimato expira esta sexta-feira (15.02.2013). Especialistas acreditam que o governo do Sudão tem interesse nas jazidas de petróleo nas províncias do Cordofão do Sul e no Nilo Azul.

Desde a independência do Sudão do Sul, existe tensão na fronteira entre os dois países. Em abril do ano passado, houve ameaça de uma escalada da violência. Um fator importante no pano de fundo do conflito é a exportação de petróleo e os lucros consequentes dessa exportação.

Situação humanitária preocupante

A situação humanitária no Cordofão do Sul e no Nilo Azul é alarmante. Segundo as Nações Unidas, 700 mil pessoas estão ameaçadas de sofrerem de fome - um problema contra o qual as organizações de ajuda estão impotentes, segundo Ernst Jan Hogendoorn, do instituto International Crisis Group. "As autoridades sudanesas proíbem o acesso à região. Dizem que a ajuda também apoiaria as tropas que o governo combate", relata.

Milhares de sudaneses estão a fugir da região. A cidade mais próxima é Yida, no Sudão do Sul. Mais de 65 mil pessoas vivem no campo de refugiados no local. De acordo com as fontes consultadas pela DW África, chegam ao local 300 refugiados por dia. Já se planeiam, por isso, mais campos de refugiados, uma vez que o conflito parece estar longe de acabar.

Autores: Eric Segueda/Renate Krieger
Edição: Madalena Sampaio/António Rocha