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COP27 no Egito: Uma conferência em África e para África?

Maina Maringa
8 de novembro de 2022

COP27 é oportunidade para os líderes africanos expressarem as suas preocupações face à crise climática. Com o continente a sofrer desproporcionalmente com as alterações climáticas, aumentam os pedidos de apoio.

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COP27
Foto: Sayed Sheasha/REUTERS

A 27ª Conferência das Partes (COP27) tem sido chamada de "COP africana" - e não apenas por causa do local onde decorre. Os líderes mundiais estão reunidos na cidade turística egípcia de Sharm el-Sheikh, é a quinta vez que a Conferência do Clima das Nações Unidas acontece no continente africano.

Mas, desta vez, há também um claro foco na procura por soluções para os países do hemisfério sul - em particular os países de África. Para além de encontrar formas de ajudar o continente a atingir os objetivos climáticos, a conferência também ouvirá os delegados a pedir mais ajuda para as sociedades que já sofrem os efeitos da crise climática.

Uma questão de financiamento

Muitos países africanos estão a tentar resolver problemas recentes ou mais imediatos; outros estão no auge de várias crises. Da corrupção à fome, da guerra civil a infraestruturas falidas, não faltam desafios que levam ao adiamento da implementação de medidas contra as alterações climáticas.

Entender a justiça climática

O continente africano é muito mais suscetível aos efeitos do aquecimento global, alguns dos quais já estão a ser sentidos, tais como a seca em curso que tomou conta do Corno de África.

Mas o continente recebe apenas 5,5% do financiamento climático, uma vez que é responsável pela geração de menos de 3% de todas as emissões de gases com efeito de estufa.

Akinwunmi Adesina, presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, disse à DW que os governos precisam de até 1,6 biliões de dólares durante esta década para implementar os compromissos do continente com o Acordo de Paris sobre alterações climáticas.

Durante as conversações da COP26, realizada em 2021 em Glasgow, delegados dos países em desenvolvimento pediram, portanto, aos países responsáveis pelas maiores emissões de gases com efeito de estufa que pagassem pelos danos relacionados com o clima - para além de quaisquer fundos já prometidos para ajudar África a reduzir as emissões.

Até agora, os líderes globais têm sido, na melhor das hipóteses, lentos em reagir a qualquer uma das exigências.

Kenneth Mwangi
Kenneth Mwangi acredita que alguns efeitos do aquecimento global já são irreversíveisFoto: Khalil Senosi/AP/picture alliance

Mudanças irreversíveis

Independentemente dos fundos que possam ou não ser disponibilizados às nações africanas, alguns dos efeitos do aquecimento global já são irreversíveis, considera Kenneth Kemucie Mwangi, um analista climático que trabalha para o Centro de Previsão e Aplicações Climáticas da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD).

"As temperaturas aumentaram globalmente a uma média de 1,2 graus celsius nos últimos anos, quando se compara o período atual com o anterior à industrialização", disse Mwangi, "e essa mudança não é reversível neste momento".

"Costumávamos pensar que veríamos o impacto climático no futuro", disse Mwangi. "Costumávamos falar sobre o futuro. Agora, não estamos a falar sobre o futuro. Já estamos no futuro".

Seca no Quénia
A seca no Quénia e em todo o Corno de África está diretamente relacionada ao aquecimento globalFoto: Thomas Mukoya/REUTERS

Ajuda humanitária necessária

Para além do financiamento para mitigar os efeitos do aquecimento global, muitos países do continente deverão depender cada vez mais de ajuda, uma vez que as catástrofes relacionadas com o clima estão a tornar-se mais frequentes.

Gemma Connell, chefe do Gabinete Regional para a África Austral e Oriental do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), disse à DW que a seca já afetou mais de 36 milhões de pessoas.

"Mais de 21 milhões de pessoas enfrentam níveis graves de insegurança alimentar e não sabem de onde virá a sua próxima refeição", disse Connell, acrescentando que só na Somália 300 mil pessoas estão em risco de morte por falta de alimentos.

Connell apela a que este problema das injustiças seja destacado acima de todos os outros aspetos durante a COP27: "Se olharmos para esta seca, cada um destes países - Quénia, Etiópia, Somália - contribui com menos de 0,1% das emissões globais de gases com efeito de estufa. Menos de 0,1%! No entanto, é o seu povo que está a morrer em consequência da crise climática global", vincou.

Secretária-geral adjunta da ONU, Amina Mohammed
Secretária-geral adjunta da ONU, Amina Mohammed, quer que nações ocidentais cumpram as suas promessasFoto: Solomon Muchie/DW

Necessidade de ação imediata

Connell acredita que as conversações em Sharm el-Sheikh serão uma oportunidade para os líderes africanos falarem sobre uma questão que está a afetar os povos do continente e salienta que as vozes dos jovens, em particular, são necessárias para provocar uma mudança real.

"Os jovens do continente africano apelam à responsabilização, apelam à justiça. E só posso esperar que isso resulte numa verdadeira mudança", disse Connell.

Para o analista climático Mwangi, é possível que haja algumas mudanças - mas só se as nações mais ricas se comprometerem a fazer muito mais para combater a crise climática no chamado "sul global", sem se esquivarem a pagar os custos.

"Ainda temos uma hipótese de provavelmente salvar a situação", disse. "Ainda podemos reduzir [as emissões] nos próximos anos, e esse é o compromisso que queremos que os países assumam - especialmente as nações desenvolvidas", acrescentou. "Mas podemos não ser capazes de inverter as mudanças quando atingirmos 1,5 graus", concluiu.

Connell considera que a disponibilização imediata de fundos para ajudar as regiões já afetadas pelas alterações climáticas deveria prevalecer.

"O dinheiro é uma enorme componente disto, especialmente o dinheiro 'polivalente' que permite às pessoas fazerem escolhas dignas sobre o que precisam para sobreviver a uma crise", disse ela.

Já a secretária-geral adjunta da ONU, Amina Jane Mohammed, declarou à DW no início deste ano que as conversações da COP27 deveriam servir como "uma COP de implementação", uma vez que pouco do dinheiro disponível para o financiamento climático foi para África.

"Está a acontecer em África", disse ela. "Se não conseguirmos demonstrar compromissos com África neste momento, as promessas não estarão realmente a serem cumpridas."

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