1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Conflito político no Mali provoca crise humanitária

Pessoa, Marcio Americo Vieira5 de novembro de 2012

Mais de 200 mil pessoas já foram obrigadas a deixar as suas casas devido a violência no norte do país, controlado pelos islamitas. Conversações com um dos grupos radicais acontece a porta fechada em Ouagadougou.

https://p.dw.com/p/16czC

A mediação do Burkina Faso prosseguiu esta segunda feira (5.11) com Ansar Dine, um dos grupos radicais islâmicos que controlam o norte do Mali. Enquanto isso, especialistas internacionais finalizam um plano para uma intervenção armada africana naquele país da África ocidental.

Para o presidente do Burkina Faso, Blaise Compaoré, mediador da crise no Mali em nome da Comunidade Econômica da África Ocidental (CEDEAO), a questão é convencer os tuaregues do grupo Ansar Dine - que em árabe significa "defensores do islão" - a romper os laços com os membros da Al Qaeda do Magred islâmico (Aqmi) e com os islamitas Mujao, que juntos controlam o norte do Mali desde que impuseram naquela região a lei islâmica sharia.

As consequências de uma crise

O número de deslocados internos no Mali é de quase 204 mil, revela o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR). Antes falava-se em 120 mil deslocados. Com base nas informações da Comissão de Movimentos da População do Mali, o porta-voz do ACNUR, Adrian Edwards, diz que a revisão do quadro reflete, em parte, um melhor acesso da organização humanitária às áreas no norte do Mali, bem como melhorou a contagem do número de deslocados internos que chegam a Bamaco.

Só na capital do Mali, estima-se que o número de deslocados tenha chegado a 46 mil em setembro. Edwards diz ter, em seu poder, relatórios que registram fugas de pessoas da insegurança, da deterioração dos direitos humanos e do medo de uma atividade militar. As pessoas estão perdendo meios de subsistência e o acesso a serviços básicos é limitado, destaca ele.

Crianças soldado

Segundo o ACNUR, o Níger recebeu nos últimos meses 3.853 refugiados do Mali. O Burkina Faso, mil. A agência das Nações Unidas para os refugiados alerta para o fato de ser cada vez mais difícil ajudar os refugiados no Níger, Burkina Faso e Mauritânia devido aos sequestros dos funcionários internacionais, que precisam viajar com escolta, o que encarece e dificulta os movimentos.

Nos campos de refugiados no Níger não há aulas para as crianças porque as infraestruturas não foram construídas, revela o ACNUR. Os responsáveis da agência temem o retorno das crianças e adolescentes ao Mali para estudar, onde correm o risco de serem recrutados pelos grupos armados.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Guido Westerwelle, acompanhou de perto recentemente os relatos de autoridades dos países da Comunidade dos Estados da África Ocidental sobre a questão no Mali.

Depois de um encontro na semana passada (02.11) em Bamaco, o chefe da diplomacia alemã saudou os seus homólogos da região por mais uma vez se ter a chance de elaborar um cronograma de ações políticas a serem implementadas em novembro. Para ele, um plano bastante realista, comentou após visitar Bamaco.

Guido Westerwelle ressaltou a importância desse processo quando a intenção é avançar em um trabalho longo de cooperação e estabilização.

Entenda o que aconteceu

A instabilidade e o êxodo de refugiados do norte do Mali começaram em janeiro deste ano, quando o grupo rebelde tuaregue Movimento Nacional para a Libertação de Azawad recorreu às armas para reclamar mais autonomia para a região.

Dois meses depois, o governo do presidente Amado Tumani Touré foi deposto por um golpe de Estado promovido por militares que contestavam a sua brandura para com os rebeldes do norte.

No início de abril (6.04), em meio a confusão criada pelo golpe de Estado, o Movimento para a Libertação de Azawad proclamou unilateralmente a independência da região. Ao movimento juntaram-se posteriormente vários grupos radicais islâmicos, que controlam agora a região norte do Mali.

As novas autoridades de Bamaco procuram o apoio da CEDEAO e contam com uma intervenção militar para recuperar o controle do norte do país. Mas a Argélia, país com o qual o Mali partilha uma grande zona de fronteira, tem-se mostrado reticente a participar na operação.

Autor: Marcio Pessôa
Edição: Bettina Riffel / António Rocha