Coligação que apoiou Presidente vence legislativas no Senegal
5 de julho de 2012A aliança Benno Bokk Yakaar (em português, unidos para uma mesma esperança) já tinha apoiado o atual chefe de Estado, Macky Sall, na sua corrida à presidência (na primeira volta a 26 de fevereiro e na segunda volta a 25 de março).
Nas eleições legislativas de 1 de julho, a mesma aliança conseguiu 119 dos 150 lugares do parlamento senegalês, fazendo com que o domínio que se verificou no escrutínio presidencial se estenda agora a uma maioria absoluta na Assembleia Nacional do Senegal.
O Partido Democrático Senegalês (PDS, na oposição), do ex-presidente Abdoulaye Wade, que dominava a Assembleia cessante, obteve apenas 12 lugares, seguido de uma coligação de dissidentes do PDS com quatro lugares. Os pequenos partidos partilham os restantes 15 assentos parlamentares.
Deve-se, contudo, sublinhar que a Aliança pela República (APR), o partido do presidente Macky Sall, não é dominante no seio da aliança Benno Bokk Yakaar. Aliás, Mame Lasse Camara, jornalista e analista político, em entrevista à DW África, já prevê a realização de um diálogo interno entre as diferentes formações que compõem a coligação: “Para cada lei vai haver negociações no seio do que já se convencionou chamar de «uma maioria plural» e isso vai forçar o executivo a atuar com muita prudência para que alguns dos seus projetos de lei não sejam rejeitados”.
Recorde-se que, durante a campanha das eleições legislativas, praticamente todos os candidatos desta coligação centraram os seus discursos numa Assembleia de rutura, composta por deputados do povo e não por deputados do Presidente.
Por isso, Mame Less Camara destaca: “Vamos ter uma Assembleia Nacional mais deliberativa onde vamos debater mais e discutir, porque as pessoas se sentem menos ligadas ao Presidente que no passado. [Creio] que a Assembleia Nacional se transforme numa instância deliberativa, ou seja, que todas as decisões serão os resultados de debates e de discussões. Se for essa a vontade, os deputados poderão então mudar as coisas e, efetivamente, instalar uma Assembleia Nacional de rutura."
Surpresa dos partidos pouco convencionais
O facto marcante destas legislativas foi o posicionamento das coligações oriundas da sociedade civil e dos partidos religiosos. Eram quatro na corrida eleitoral e conseguiram melhores resultados do que alguns partidos considerados "clássicos".
Vários observadores notam que esta vitória da coligação Benno Bokk Yakaar vai permitir ao Presidente Macky Sall, de 50 anos de idade, eleito a 26 de março, começar com as reformas económicas prometidas com vista à diminuição do desemprego e à redução do custo de vida para os mais necessitados. No Senegal, as estatísticas sobre o emprego não são fiáveis, mas os postos de trabalho definitivos são raros, as infraestruturas rodoviárias são deficientes e os serviços sociais fracos.
Para além da exportação do fosfato, a economia senegalesa baseia-se essencialmente na agricultura, na pesca e, em menor escala, no turismo.
A campanha eleitoral para as legislativas de domingo desenrolou-se sem grandes incidentes, contrariamente à da primeira volta do escrutínio presidencial, de 28 de fevereiro, marcada por vários atos de violência e por protestos contra a candidatura de Abdoulaye Wade, que, na altura, fizeram, pelo menos, seis mortos e 150 feridos.
Autores: Babou Diallo/António Rocha
Edição: Glória Sousa/Madalena Sampaio