Segunda volta das eleições presidenciais gera protestos
4 de agosto de 2016
Sob forte presença policial, a manifestação pacífica foi convocada através das redes sociais e por mensagens de telemóvel, com o objetivo de pedir a anulação da primeira volta das eleições presidenciais de 17 de julho. Partidos políticos e membros da sociedade civil contestam o que consideram ser “anomalias, fraude e erros gravíssimos constatados na primeira volta do pleito eleitoral para a mais alta magistratura da nação”.
São Tomé e Príncipe está em plena campanha eleitoral para a segunda volta das presidenciais, na qual apenas o candidato Evaristo de Carvalho está a contatar o eleitorado.
Os manifestantes percorreram várias artérias da cidade capital, com paragens em algumas sedes de órgãos de soberania, nomeadamente o Supremo Tribunal de Justiça/ Tribunal Constitucional e a Presidência da República, para entregar uma petição que pede a anulação das eleições.Para alguns cidadãos que voluntariamente quiseram falar aos microfones da DW, o país precisa de seriedade neste momento.
“100 contos eu como em casa. Sou pai de oito crianças. Com 100 contos, compro chá e o dinheiro vai embora. Patrice Trovoada é primeiro-ministro. Ele não é candidato. Deixa o candidato fazer a sua campanha. Não deve abandonar o posto de trabalho e ir insultar o atual Presidente da República. Não pode”, desabafou António.
Josefina, refere-se às alegações sobre a fraude ao afirmar que “se disseram que é verdade, é verdade. Como é que de uma hora para outra podem dizer que Maria das Neves não teve voto. Patrice Trovoada ganhou…Não. Estão a mentir. Têm que dizer a verdade".
Mas por seu turno, Mário não acredita na independência de Evaristo Carvalho como chefe de Estado.
“Se porventura o senhor Evaristo ganhar essas eleições agora, não será ele o verdadeiro Presidente. Ele só pode ser Presidente até às 17 horas. Ele vai chegar de manhã no seu gabinete e encontrar todos os dossiês feitos pelo primeiro-ministro que é o senhor Patrice Trovoada, e ele terá que cumprir. Nós não queremos isso. Ele pediu maioria para o Governo, nós já o demos. Quer agora Presidente para fazer o quê? Será que não somos são-tomenses, não temos direitos? Nós temos! Até quando! Quando ele quer poder é que conhece São Tomé. Quando está fora do poder, o homem leva até cão para o estrangeiro”. Os manifestantes transportavam dísticos que entre outros dizeres, exigiam a demissão do presidente da Comissão Eleitoral Nacional (CEN), condenavam a fraude eleitoral e apelavam para que “não matem a nossa democracia”.
Representante do secretário-geral da ONU apreensivo com clima político
A manifestação foi organizada numa altura em que o representante especial do secretário-geral das Nações Unidas para a África Central, Abdoulaye Bathili, manifestou-se apreensivo com o evoluir da situação politica no arquipélago são-tomense, depois da primeira volta das eleições presidenciais de 17 de julho.
"Não desejamos que a situação em São Tomé e Príncipe possa atingir o nível de países como a República Centro Africana, o Burundi. Ninguém o pode desejar", disse Abdoulaye Bathili no final de um encontro com o Presidente são-tomense cessante, Manuel Pinto da Costa.O chefe de Estado cessante, que foi o segundo mais votado na primeira volta, renunciou a disputar a segunda volta. Manuel Pinto da Costa não aceita a forma como o processo eleitoral foi conduzido e nem reconhece idoneidade à Comissão Eleitoral Nacional (CEN), cuja demissão exigiu para aceitar disputar a eleição com Evaristo de Carvalho, o candidato mais votado a 17 de julho.
"O que posso garantir-vos é que há essa diferença de opinião, de apreciação sobre o que se passou no dia 17 de julho e, por conseguinte, desejamos que esse problema seja resolvido num quadro pacífico", acrescentou o representante especial de Ban Ki-moon que se encontra em São Tomé para uma visita de três dias.
“O mais importante é que os autores aceitem essa diferença”
Abdoulaye Bathili encontrou-se também com o primeiro-ministro Patrice Trovoada, com o presidente da CEN, Alberto Pereira, com o terceiro candidato mais votado na primeira volta, Maria das Neves, entre outros.
"Em São Tomé e Príncipe vive-se um período entre duas eleições. Houve a primeira volta e agora há uma segunda, tenho ouvido umas e outras pessoas. Há diferença de apreciação sobre o desenvolvimento da primeira volta", disse o representante de Ban Ki-moon. "Eu penso que independentemente dessa diferença de apreciação, o mais importante é que os autores aceitem que essa diferença se resolva num clima pacífico que não possa hoje afetar a exemplaridade da democracia de São Tomé e Príncipe, conhecida atualmente no continente", explicou.
"Qualquer que seja a natureza dessa diferença, pensamos que é realmente possível resolver isso a contento das partes. Com vontade politica, uns e outros podem ultrapassar esse problema", disse o diplomata das Nações Unidas.