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Caso Madgermanes:"É preciso por as coisas em pratos limpos"

1 de março de 2019

Dom Dinis Matsolo reconhece que o caso dos madgermanes é um verdadeiro enigma. Para o reverendo revisitar o processo para o esclarecimento, com base em factos, é a solução para este caso que dura há décadas.

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Reverend Dinis Matsolo aus Mosambik
Foto: DW/Nádia Adamo Issufo

De 22 a 24 de fevereiro a cidade de Magdeburg, aqui na Alemanha, acolheu um evento denominado "Respeito e Reconhecimento" que marcou os 40 anos da assinatura do acordo entre a então República Popular de Moçambique e a ex-República Democrática da Alemanha (RDA) que visava mandar para a ex-RDA jovens moçambicanos para estudar e trabalhar.

Cerca de 20.000 jovens recomeçaram a vida num lugar completamente novo, fizeram planos e no final viram quase tudo ir por água abaixo quando regressaram a pátria. No plano do trabalho não chegaram receber as suas reformas e outras compensações, resultado de anos de trabalho.

Sobre o destino dado ao dinheiro descontado na folha do salário ninguém sabe bem até hoje, passados cerca de três décadas de reivindicações por parte dos chamados madgermanes.

Caso Madgermanes:"É preciso por as coisas em pratos limpos"

Em Magdeburg, a DW África entrevistou o reverendo moçambicano Dinis Matsolo, que foi convidado a falar sobre diálogo e reconciliação no encontro:

DW África: O que é necessário, na sua opinião, para que essas divergências sejam ultrapassadas neste processo dos madgermanes?

Dom Dins Matsolo (DM): Na verdade o processo é um verdadeiro enigma, é difícil perceber em que pé estão as coisas. Penso que o ideal seria revisitar-se o processo no sentido de se perceber o que aconteceu de verdade, o que está em causa, o que está em falta, e isso adequadamente confirmado, onde os processos dormem. Daí que seja importante que mesmo a parte do Governo alemão considere que tem de pôr as coisas em pratos limpos para que as pessoas tenham bases para reclamar. É que por vezes as reclamações são apresentadas de forma muito opinativa e talvez com base em informações não totalmente claras, dai que se encontre uma pessoa do grupo [dos madgermanes] a dizer uma coisa e outra pessoa a dizer outra. Então, penso que é muito importante que haja um baixar de animosidades e procurar realmente encontrar as coisas para se ter uma reclamação digna e clara. E em parte digo que é muito importante que se junte tudo o que foi feito e o que resta por fazer.

DW África: Participou do encontro dos madgermanes em Magdeburgo. Pareceu-lhe que os madgermanes têm o domínio factual do processo?

DM: É uma pergunta difícil porque depende de cada pessoa. Eu simplesmente constatei que as pessoas abordam o assunto de diferentes ângulos, o que significa que há necessidade de uma aproximação de pensamentos. E isso pode ser causado também por informações incompletas. Penso que no processo ficou claro desde o princípio da assinatura dos acordos que a informação era muito secreta. As pessoas não sabiam extamente o que era, o que envolvia, então provavelmente essa informação ainda não está suficientemente clara para todos até aqui.

DW África: Entretanto, uma das fontes ou parte que poderia facilitar o alcance desse objetivo não se fez presente, que foi o Governo moçambicano, apesar do convite dos organizadores. Como interpreta esta ausência?

DM: É difícil interpretar, mas o que encorajo é que sempre se abra um espaço para o diálogo. Na minha apresentação indiquei claramente que acreditamos no diálogo. É bom para todos, significa que o assunto acaba ficando encerrado porque se discutiu e se viu todos os contornos do problema. De uma forma geral penso que temos de encorajar as partes a chegarem a esse ponto em que é preciso conversar e esclarecer. Enquanto houve uma parte presente e a outra ausente, não haverá como confrontar os factos. Por exemplo, foi interessante ouvir do Governo alemão, que também participou por pouco tempo, dizer que o assunto já não está do lado deles, mas sim do lado de Moçambique. Enquanto a reclamação deles é de que há certas coisas que deveriam ter acontecido aqui, mas não aconteceram e o assunto foi transferido para lá sem a anuência deles. Então, essas coisas têm de se esclarecer na mesa de tal forma que as pessoas saiam esclarecidas sobre o que aconteceu. Talvez assim se encerre o assunto, penso que este é o caminho.

Nina Lutter
Nina Lutter, representante do Ministério alemão para a Cooperação Económica e Desenvolvimento no encontro de MagdeburgFoto: DW/J. Beck

DW África: Entretanto há décadas que os madgermanes e algumas das partes envolvidas têm apostado no diálogo, mas sem sucesso. Não estará esgotado este mecanismo do diálogo depois de tantos anos?

DM: Não sei. Não restam dúvidas que é frustrante quando não há correspondência em relação à necessidade de diálogo, mas penso que nenhum assunto se resolve de outra maneira que não seja através do diálogo. Não é por ignorar que o assunto tenha barbas, que é uma verdade, também o sofrimento, as confrontações resultantes disso. Geralmente quando se leva tempo em abordar uma questão os ânimos sobem.

Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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